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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Labaredas

Fugir da teia do mundo...sacudir da pele a angústia

Erguer-me do frio...como uma conspiração de sombras.

 

Não me quero dissolver em alçapões ou em cantos de pássaros

Quero tocar no enredo do mundo e perceber a minha própria luz.

 

E vem sempre comigo este brilho de incêndio...esta voz.

 

Compreendo os becos e ardo no pergaminho ardiloso do silêncio.

E é então que toco na ferrugem da lua

E é então que absorvo a matéria intemporal...da terra...

 

Pego na água...raso de alegria

Impura treva...travo de ardil...

Vestido de luto...compro a Vida.

 

Nas tílias... nos montes...no roçar dos prados

Há um cheiro de húmus...um caminho perfumado

Uma leveza de ouro...um tempo parado...

 

Também do chão se erguem destinos

E das acácias se desprendem flores

Concílio de vida..espuma de deuses...mortos...

 

Nas labaredas da boca se queimam os sonhos

Da cinza do céu sobraram as estrelas

E nós..sozinhos a entoar esperas...a acontecer nas ruas...

Como se vivêssemos só agora

E depois fôssemos o sangue...a foice...que nos corta alma

E nos atira à cara a resposta que procuramos

Aquela que nunca saberemos

Mas que levita em nós...como uma fonte...

Como uma brasa...que nos arrasa.

 

Pedra a pedra

Ergo-me de encontro ao mar como se ele fosse música

Pobre mar que só te afastas e nunca me trazes a constelação de luzes que procuro

 

Sou como uma ave a viver na fundura das asas de um nevoeiro

Ergo as minha garras e cheiro o meu abandono das coisas

Ando no silêncio como um sonâmbulo a percorrer abismos

E à luz dos candeeiros desembaraço-me das encruzilhadas

Onde me esperam as aflições dos dias.

 

Na pele das plantas... rasgar o lodo...começar o grito...

Percorrer a chuva como quem quer ser alguém

Aqui ou em outro lado qualquer.

 

Deixo que o suor me escorra das mãos

E peço ao vento que leve de mim o espectro branco da saudade.

 

Pedra a pedra se constrói um véu

Pedra a pedra se alisam as lágrimas de punhal

De pé se escutam os rasgões do silêncio

Quando tudo pode ser...quando tudo se pode desvendar

Quando uma nuvem se disfarça de fantasma e nos castra os olhos

Não há céu..nem morte...nem dor...

Apenas cinzas...

 

Nunca mais deixes que os meus passos se estatelem no ritmar das algas

Protege-me com os teus dedos de noite

Inventa-me na inflamação das tuas mãos

Como se eu fosse a vida...de que me perdi...