Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Ilusão

O desejo espia a escuridão onde um diorama solitário sobrevive

Penetro nessa ilusão de imagens acesas...e perco-me na minha densidade

 

Traço a minha imagem sem contornos caligráficos

Obedeço à minha pele que seduz o silêncio

Parco xisto a vibrar nas veias....a abarcar a calamidade dos ossos

Que se desfazem na turva emoção dos sentidos

Como pressentimentos sem eco nem beiral.

 

Podia evitar muita coisa...se quisesse

Mas prefiro acoitar-me na minha indolência de gato

E espreitar por entre as estrelas...o negro abismo da minha vida

 

Seria muito simples dar um sinal de mim

Seria até muito original mostrar que estou vivo

Que os meus olhos são sólidos...e o meu espanto um sinal de existência

Mas prefiro decorar os meus dias sem a noção das horas

E transformar-me em qualquer coisa simples...arguta

E sintomaticamente desinteressante...

 

 

Escola e futuro

É fantástico e ao mesmo tempo causa alguma apreensão o facto das novas tecnologias evoluírem tão rapidamente, que os alunos que hoje estão a preparar o seu futuro baseados em profissões que ainda existem, quando chegarem ao mercado de trabalho muitas delas já estão obsoletas, ou então pura e simplesmente já acabaram ou foram substituídas por robots. É maravilhoso o mundo da informática e da cibernética, mas a verdade é que quem hoje estuda, não sabe se vai poder aplicar os seus conhecimentos nesses empregos do futuro, que ao contrário do que muitas pessoas pensam, está muito próximo.

Também é verdade que muitas profissões vão desaparecer e outras serão criadas, quais e em que ramos é que ainda não sabemos.

 

Divago...

Passar para o outro lado do mundo...esvoaçar

Limpar as memórias como quem esvazia um sótão poeirento

Atirar ao ar essas réstias de memórias velhas

Em suma...mergulhar num espaço onde o futuro desistiu de ser futuro..

 

Sobra-me a noite balbuciante...sobra-me a sede

Mas às vezes ainda sinto a vontade de correr desordenadamente pelas ruas

Como se fugisse dessas ruas que vêm ao meu encontro

E dentro de mim se partisse a vontade de ficar imóvel

Num lugar onde nada acontece...

 

Transporto comigo as madrugadas e o som límpido dos naufrágios

Reencontrei a nesga de luz que me leva de encontro aos desertos

Ondulo...numa teia de caos e satisfação

E às vezes ainda me sobra o tempo...para espreitar o azul cálido da tarde

Onde me desfaço...corroído pela erosão cinzenta do tempo...

 

Todo o meu eu está coberto por sulcos de vidas passadas

Seara de trigo...onde o joio se implantou...frio e inacessível

Se eu pudesse fixar os olhos na distância dessas vidas

Quebraria as sombras que imergem dos contrafortes dos dias

Como quem se ampara a um sonho...ou a uma alterosa fome de ser outro...

 

Divago...

Sei que as aves se dispersam pelas margens

Há nódoas de sangue nas fotografias

A minha cabeça flutua na ponta de uma pesada tristeza

Qual lança de terra a sugar-me a alma...

 

Sento-me no sopé de qualquer montanha que me apareça

E ali fico...imerso na minha vontade de adormecer....

 

 

 

Não há mais segredos..

Não sei se deixei algo de mim para trás

Mas sei que algo me falta...

 

Sequei...nessa poeira de nadas...sequei..,

Escondi-me...no fundo de um qualquer olhar...escondi-me

De mim...

 

Não há mais segredos...tudo se passa na orla dos dias

E do brilho que escorre dos céus...nada se sabe...

Fomos feitos pela multidão de corpos suados...passados

E se queremos voar...é porque não temos asas

Se queremos viver...é porque esperamos um dia descobrir quem somos

Como se nos lembrássemos da fraqueza do nossos corpos...abençoados

Que tecem ondulações de vento...na voz do desespero...

Que como um susto se cola à nossa telúrica fome de vencer...

A morte...

 

Tenho todas as estradas

 

Tenho todas as estradas

E todos os pavores me falam das distâncias que devo percorrer.

 

A noite é uma nesga de silêncio

Que pulsa na minha memória como uma sede a dizer saudade.

 

Saudade da vibração da água caindo em cascatas sobre os nossos corpos nus

Saudade das pálpebras que se agitam na incoerência das horas

Que agora...não passam de delírios...enquanto atravesso os meus desertos

Que se apegam à minha vida...como corredores sem fim...

Nem finalidade..

 

Mas o que te queria dizer...

É que as cidades agora já não me servem para nada

Agora sou o princípio do meu precipício

E a água...ainda me lava a memória de ti...ainda me leva a ti

A água...ainda fica turva quando o tempo me sobra

E eu já não sinto a seiva que circula em mim...

E me corrói...

 

Já não me dou ao trabalho de procurar saídas

A manhã é apenas a hora de acordar...ou de sorrir

Tudo se apaga...não há desculpas...parar... ou seguir em frente..

É apenas uma forma de falar do tempo...do passado e do que passará

É apenas água...a tecer uma imprópria forma de sentir

E talvez tudo seja...apenas uma memória gravada...

No coração!

 

 

 

Em cada árvore um segredo

Em cada árvore um segredo

Em cada nome o imperturbável tempo

Em cada vibração um pedaço de vida

E o vento que há pouco enlouqueceu os ramos das árvores

Adormeceu no coração das pedras

E as palavras...deixaram de fazer sentido...

 

Ficar sem palavras é adormecer na sombra do silêncio

É tecer com mãos de linho o coração do outono

É buscar na ogival memória...um outro tempo

Uma outra vibração dos corpos...

Um outro esquecimento de si...

E...possivelmente é ser bem mais que o cerne rugoso da alma...

Fugidia...

 

Uma vida...

Queria falar da claridade que sinto... sempre que toco nas aves mais altas

Mas é difícil...

Porque nada sei da pequenez dos homens...nada sei da minha imensa fome

Nem onde estão os meus fantasmas...

E muito menos sei onde está o meu delírio...e as minhas marcas...

 

Reteso o arco e aponto a flecha... sou feito do areal onde me perco

Vejo uma imagem nítida de um tempo amarelecido

E um longo caminho onde desgasto os pés

Sou a síntese do ocaso do universo

Que se apoderou de mim...como quem vai...sem regresso

E suspeita que um sono é muito pouco

Para quem acorda de um sonho...embevecido...

 

Os braços apertam a solidão...a rua transborda de cansaço

O céu é uma mancha de fumo e lama

O ocaso...um futuro vazio...raso...

 

Há uma incoerência em cada dia...um nada em cada viagem

As memórias são turvas visões de um sol incerto

A água lava a vida das lágrimas

Tudo acontece porque assim é...

Mesmo que a bocas bordem flores em panos de linho branco

E os sudários se esqueçam de adormecer

Transportaremos sempre o tempo dentro de uma nostalgia

Uma vertigem em cada remorso

Uma despedida em cada virar de pescoço...

Uma vida...

 

 

 

O bafo da madrugada

Indiferente ao sono desabitado da alma

Deixei crescer os dias e pousei os olhos no parapeito da janela

Talvez ainda vá a tempo pensar em coisas importantes

Talvez ainda possa encontrar a faca que corta o mundo

E encontre aquele lugar ao vento

Que me traga o sabor do mar

E os versos de um tempo que corra...lento.

Um tempo onde eu possa descansar.

 

Posso rebentar como uma vaga de encontro à vida

E colher a flor de um sorriso submerso

Posso ser uma infinidade de seres

Mas não sei quem vem de mim

E desconheço a sombra que me acolhe

Quando abro o braços e sinto...

O bafo da madrugada

Que arrota a fel e absinto

E de mim...não sei mais nada!

 

 

Fala-me do mundo

Fala-me do mundo e da vida que se consome na chama dos espelhos

Fala-me dos espessos veios do silêncio

E das palavras que golpeiam o voo das aves

Ou fala-me simplesmente do teu sopro adormecido

Junto a mim...

 

Percorro a vastidão da folha onde as silabas se dispersam

Como se fizesse uma viagem aos confins do mar

Pressinto um enigma em cada letra...

Persigo um enigma em cada frase

Enquanto os rostos das folhas se fecham por dentro da manhã.

 

Na embriaguês da alma geme uma imensa lâmpada

Invade-me a lividez áspera do céu

Enquanto navego na cinza das estrelas cadentes

O meu corpo sente as cordas que o atam ao húmus da cada enigma

Descobrindo caminhos em cada medo

Que crescem como folhas de luz...

Exaradas nas madrugadas que despontam em cada vulcão.

 

No sal do grito ressalta o frio da melancolia

A primeira luz da pele percorre o arrepio do tédio

Curvo-me ante o fogo das lágrimas

E o caminho fácil do abandono

Que permanece..submisso...

Em cada recanto de mim.

 

 

 

 

Pág. 3/3