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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Os faróis

Nas belas enseadas mergulhamos as ausências

Na prece das tardes afundamos o asco

Existimos como ventos expostos aos bafos das praias

E vamos...de luz em luz...recebendo o murmúrio das cidades.

 

Tenho na boca o sabor dos astros mortos

Habito na densidade de um tempo destoado

Jamais serei a nuvem branca nem o vil quartzo

Jamais abrirei a porta da sombria realidade.

 

Nas minhas falanges desagua a espuma dos nadas

Nas minhas falanges crescem palavras sem poemas

E eu...falo de mim próprio como se fosse um chão

Que precisasse de pisar...

 

Despejo gritos onde a pedra se destapa

Dentro do granito dormem os instantes

Que ficaram para além do tempo.

 

Se eu falasse do que sei...só falaria de nadas

Pois só conheço as ruínas das águas

E a luz circular dos faróis.

 

 

 

 

 

Inundação

Olho a rua onde nada acontece. Sei que há tanto destino a escoar-se pela agonia da noite. Por detrás das minhas vidraças, estou eu, muito para além de mim. Nas minhas costas, um sufocante cheiro a eternidade entranha-se na casa. Rente a mim, na sala onde o tempo estagnou, desenrola-se um estranho jogo de luzes que ignoram a minha presença. Sempre que afasto as cortinas há uma inundação de nadas, um agradável crepitar de inutilidades,uma fantasia lenta, uma poeira que se entranha em todos os meus remorsos. E, porque não posso ser outro diferente deste que sou. Porque não posso habitar em outra respiração que não a minha. Entro no quarto da minha volúpia, despeço-me de mim e deixo que o tempo se entranhe nas coisas que não posso mudar.