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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Momentos...

Uma sombra fende-se em mil corpos

Abre-se como uma rua...

Espreito e pico-me nas lantejoulas da lua...

 

É sempre o mesmo luar a transitar de esquina em esquina

É sempre a mesma tumba a suspirar por mim.

 

Não há destino para o fumo

Não há lugar para enfeitar a fome

E os poços a encherem-se com lágrimas...

 

Há coisas tão bonitas para entreter as pessoas...e há

Gente sem sentido de humor a esgravatar na vida dos outros...

 

De repente...para meu espanto...as borboletas fizeram sexo...

E eu rebentei de riso como um balão inchado pela vida...

Enquanto o pastor chamava as ovelhas...

Ecos...

Em redor de nós o pão feito do avesso

Uma luz azul cai na gaveta vazia

Os ecos do mundo dormem num charco de luz

A terra das sombras chora nas cinzas da mente.

 

Que tenho eu com isso?

Que ruas há nesta cidade onde não há fuga para a liberdade?

 

E depois...inventei acasos...por acaso

Deixei destinos no rasto das flores

Na minha boca cresceram ilusões

Os meus pés ganharam asas de desejos e...

Pus-me a caminho procurando as esquinas onde não houvesse guerras.

 

Cama de trevo...véu de basalto

Miserável mistério a cair a prumo...

Sobre a minha ansiedade....de tempestade.

 

É claro que por debaixo das palavras há um eco

Sei isso...porque sempre que lá mergulho

Me assusto com a sujidade das lágrimas...

 

 

Cinza...

Nasci no gelo das pedras

Pisei o silêncio dos insectos

Procurei a vida na desordem do chão

E acordei abraçado ao impetuoso leito das trevas.

 

Neste lugar onde um dia brilharão as algas

Neste lugar nu de espelhos mágicos

Crescerá o bolor e a cinza

E das folhas secas nascerá um brilho de aves perdidas.

 

No avesso do mundo crescem aves de sóis

Dentro de mim cresce um cilício de sono desabitado.

Geada

Da boca escorria a pele dos sonhos

Os dedos desencontrados traziam algas na memória

A dor perfurava o desenrolar das ondas

E eu vibrava...como uma estrela diluída numa maré de silêncio.

 

De mim caíam pequenas chagas

O vento tombava nas minhas mãos

Arrastava o meu corpo no lastro da manhã

E eu pousava na clara luz da tua face.

 

Desembarco a minha voz na palidez do mar

Pouso os meus receios num liso nevoeiro

Regresso...à ausência da minha própria memória.

 

Divido-me em fantásticos espectros cristalinos

Que só a lonjura das planícies reconhece

E só num golpe de cinza se liberta.

 

Quando entro nesse ritual de luminosos sóis

Esqueço a decepação gelada do mundo.

 

Pobre geada a morrer na alegria do sol

Que cai da face perdida dos céus.

Ave fugitiva

Tombei como uma ave fugitiva

Deitado no profundo tempo adormeci

Nem me lembrei que há tantas mãos lá fora...no destino

A arranhar as comissuras das árvores

A morder o sopro das fogueiras

A devorar as labaredas das nuvens

A enjeitar a morte dos abismos

A colar com rosas os caminhos...partidos.

 

Como eu...

As folhas de um ocre alaranjado pintavam o chão

As árvores desfolhadas brilhavam de encontro ao céu

Tudo o mais era um vazio...só lá faltava eu...

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