Todos os dias
Todos os dias ao acordar esperamos que "o dia" seja mais que um dia, que seja uma viagem, que seja um socalco que subimos em direcção à felicidade, e depois... seguimos de mangas arregaçadas, passamos por árvores que não vemos, por despontar de sóis que não nos cegam, por chegar atrasados ao local do nosso contentamento. Gostávamos de abrir a porta que dá para a nossa azia (seja ela qual for) e qual Alice, entrar num palácio mágico onde pudéssemos dar aso às nossas libertações. Gostávamos de ser espaço, imagem, e mesmo até voltar a ter a ilusão de que a vida é mesmo isso, uma ilusão, essa ilusão que deixámos há tanto tempo para trás. Gostávamos que as sombras que nos rodeiam se transformassem num castiçal de luzes coloridas, e que o ardor que nos faz esquecer que temos olhos para ver a beleza,se apagasse,e todas as coisas luzissem como aromas encantados por lindíssimas melodias.
Gostávamos de derrubar paredes e janelas, abrir de par em par o nosso peito angustiado. queríamos até que alguém nos massajasse as têmporas, as costas, o corpo todo... com aromáticas essências mágicas, para que à nossa roda pairasse o aroma da felicidade. Mas engolimos em seco, seguimos, deitamo-nos e amanhã voltaremos a acordar...e a sermos os mesmos.