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folhasdeluar

folhasdeluar

Voar!

Em volta de um tempo inventei um destino

Será do luar...será que imagino...

Ou estou a sonhar?

 

Vesti o meu sudário de chuva florida

Aceitei todos os perfumes que encontrei na Vida

E bebi o meu vinho pelo cristal da partida.

 

Não sei do sol nem das órbitas do mar

Não sei das mãos que vejo a acenar

Só sei da voz que me fala do mundo

Só sei que me fecho num poço sem fundo

E ao meu lado escuto um pássaro absurdo

Que me diz para...voar!

As pombas

As pombas voavam num silêncio ectásico

Alvas...pérfidas...como vazios de sonhos assombrados.

 

No meu deslumbramento decifro o enigma dos espelhos

Na minha vontade percorro as faces secas das ruas

 

Há magia no esvoaçar seco das folhas que caem

Há uma melodia excitada em cada raio de sol que ilumina o destino

 

Na boca das flores nasce um rasto de sonho

Que segue pela perdida neve que cai sem finalidade.

Uma solução para quem vive na rua...

Todos os dias ouvimos falar nas pessoas que vivem na rua. Todos os dias várias pessoas e instituições oferecem parte de si e do seu tempo para os ajudar. Todo este trabalho é louvável e útil, mas acho que se poderia conseguir uma solução para muitos deles,(para aqueles que efectivamente queiram sair da rua), uma vez que também sabemos que alguns não o querem fazer.

 

Há dias ao passar junto a umas casas abandonadas que pertencem à Junta de Freguesia da minha cidade, pensei – estas casas estão sem ninguém, isto poderia servir para albergar duas ou três pessoas que vivem na rua. E também pensei que se todas as Juntas de Freguesia que existem em Portugal aceitassem receber um sem-abrigo, todas estas pessoas teriam certamente um tecto.

 

E como é que isto se processaria?

  • Uma forma seria a Junta disponibilizar um local para receber uma destas pessoas.

  • Todas as Juntas possuem refeitórios onde elas possam comer.

  • Como não é só de abrigo que essas pessoas necessitam mas também de uma ocupação, elas poderiam retribuir prestando trabalhos que a Junta lhes pudesse atribuir, (sem remuneração), como é óbvio.



 

 

 

 

 

Pássaros de todas as cores.

No ventre do espaço cresceu um vento

Na planície das coisas nasceu um musgo de sonhos

E tudo ficou como se não fosse

E tudo aconteceu como se nada ficasse

E tudo brincou como uma seara de flores aladas

Restou...a fantasia de inventar pássaros de todas as cores.

 

No bordado dos olhos ondulavam os sonhos

Pedras de lume acendiam a solidão

Tudo apodrecia na fragilidade das horas

Os corpos suplicavam pelo halo perfumado do amor

Nós nascíamos na clave do tédio

E, como cegos...espreitávamos pelas frestas do arvoredo

Que nos encobria...

 

Éramos apenas gente ignorada

De nós ninguém sabia

Despidos tecemos medos

Vestidos desnudámos os dias.

 

Muros...

Despedaçam-se os dias em pedaços de mim

Absurdas sombras agarram-se aos meus olhos sonâmbulos

São como estrelas equilibradas na confusão dos sentidos

Ou como gaivotas esvoaçando pela minha alma dispersa na tarde que cai.

 

Atraem-me os espaços abertos na férrea vontade de gritar

Atraem-me os inconsoláveis muros do silêncio

A custo descubro mais uma anémona de cinza

A custo embarco nesta inutilidade de treva e sal.

A custo me consolo de ser apenas...luz.

 

E assim chego ao ventre das coisas pousadas nos mantos do mar

Assim me afasto da tona das praias

Como se me acendesse num fastio de Vida

E me curvasse ao instante em que nasci

Para ser apenas mais uma gota de água a escorrer pela escama do tempo.

 

Ah! e aquele céu tão incerto

Aquela vertigem de sonho sepultado

Aquela ternura de deus alado

Aquele inútil campo deserto.

 

E eu...

Saltimbanco de instantes cravados no fundo indiferente do lago

Procuro apenas a cinza de um consolo

Procuro apenas o búzio silencioso

Que me conte os segredos do mar.

A essência da Vida.

Por vezes apetece-me não aprender mais nada. Não querer saber de mais nada. Por vezes apetece-me esconder-me na escuridão do que já sei, ou até desaprender as coisas que conheço. Fechar a janela e observar. Deixar que o meu corpo passe pela vida como se não quisesse mais nada, como se tudo o que tenho me contentasse e nada mais valesse a pena descobrir. Perder-me nas minhas próprias divisões sem horizonte ou objectivos. No fundo acho que a isto se chama Liberdade.

 

Se perder toda a vontade de querer saber mais, é perder o mundo, é porque o mundo não é mais que uma imensa perda de tempo e o que existe fora de mim é apenas uma fantasia que eu lucubro nas horas em que estou dentro de mim.

 

Aceitar é a palavra. Perceber é a outra palavra. Juntas são a essência da Vida.

Pinturas...

Mesmo que eu imagine calcorrear todos os caminhos da Terra

A Terra nunca terá tamanho suficiente para a minha imaginação.

 

Neste quadro de quando e de quantos

Quantas pessoas vivem na desolação de não saberem ver o quadro?

 

Quando um dia souber em que árvores vivem as almas

Despertarei de um sono feito com a sábia textura da fantasia....

 

Pássaro ferido...

E o tempo varreu a memória da praia vazia

O tempo amontou uma espera de tardes

Mas veio a chuva...e tu...

Foste a vespertina emoção que ficou colada à tua ausência.

 

Todos querem guardar em si o florido sorriso da tarde

Esse sorriso de céu sem nuvens a anunciar poemas...

 

Neste horizonte que escorre para dentro da minha alma

Vivem os prados inacessíveis do tempo

Vive a terra e a sua órbita

Vivem todas as coisas que me comovem...

 

Se um dia me cruzar com um pátio de sombras

Hei-de dizer-lhe que renasço em cada afecto

E que mesmo que a chuva me ameace com as lágrimas do dia

Hei-de dizer-lhe que ali estou...

Como se vivesse no regaço de um pássaro ferido...

 

A fugacidade da vida

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(Van Gogh - Esqueleto com cigarro)

Centenas de anos antes deste quadro, havia uma ordem religiosa cujos monges dormiam com um crânio à cabeceira, para que todos os dias ao acordar este lhes recordasse a fugacidade da vida...coisa que nós, atarefados consumidores de tempo, todos os dias esquecemos.