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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

E nada mais...

Voo de pássaro sem vida

Voo de ave sem fundo

Poço de tudo...

Poço de vento

Que a fuligem dos corpos cobre de mistério

E a bica se alimenta de águas irreais

E o sonho é apenas um rio...

E nada mais...

 

Sombra lenta

Sombra lenta e real

Que cavas nos olhos do silêncio

O fim e o princípio de tudo

E vives numa floresta

Que se repete nas raízes que não vemos

Como se o avesso do amor...

Fosse o musgo que se cola à pele

Como uma dor...

Disseminada pelo corpo dos dias.

Chama apagada...

Tenho todas as sombras para descansar

E todo o tojo do inverno...para sentir...

A árdua ilusão de viver...

 

Olhei de frente...a vida...sem medo de me perder...

Depois...descobri que ninguém se perde...

Apenas percorre outros caminhos...

Como se me erguesse numa estrada inflamada de luz...

E a vida se arrojasse aos meus pés

A pedir-me desculpa

De ter cavado em mim a desilusão

Da chama que se apaga...

Tudo o que é possível...

Tenho todos os segredos para descobrir

E todas as silvas me falam das amoras doces da primavera...

 

Há um rio para além deste rio

Onde os pássaros..esquecidos de mim...

Acordam os cardos floridos...

 

Percorro este chão de hortências

Onde a eternidade da beleza supera a morte

E o medo de ontem..sugere novos dias...novas vontades..

De ser tudo o que é possível...

 

 

Dias...

Olho os dias...até que o céu se esconda na minha alma.

 

Chamam-me os segredos escondidos do mundo...

Mas eu adormeci...

 

Percorro a minha a estrada... mais como um fim do que como uma viagem.

 

Nos olhos do medo há silêncios de vida

Num charco de penumbra descubro a ilusão

De estar vivo...

 

E há um mundo em volta de nós

A lembrar-nos de quão curtos são os dias...

Espelho

Tens a febre de uma praia...que esconde a excessiva transparência da luz

Mesmo que a madrugada te faça tremer...és tu quem dissolve a noite

E o dia...

E eu...sou apenas o alvoroço de uma alma...

Que vive no interior de um espelho...

 

Na eternidade da pedra

Na eternidade da pedra...vejo o pó da vida...

No agitar do mar...toda a calma do tempo...

Em mim...nada...

 

O frio que esvazia a alma

Não é frio...é apenas ausência...

É apenas uma vaga sensação de janela sem paisagem...

 

Irmão...em chamas te vejo

Mas acredita.. que um dia descobrirás..que essa fome de querer ser mais além...

Não é fome...é fantasia que o tempo gasta...

Palavras breves...

Evadi-me do mundo como quem se despede da perfeição do destino

 

Cambaleei...na suspensão abandonada do lago

E perante a luz branca e gasta...ouvi mil vozes semeadas ao acaso

 

Passeei como quem embala o olhar

Esqueci gestos e naufrágios

E a alma misteriosa...ergueu-se num anseio desconhecido...

 

Definitivamente...sei que esta rua é minha

Que os degraus que subo me acompanham

Como se não houvessem mais ruas...nem mais certezas

 

Pedaços de noite salpicam os caminhos

Perderam-se no rumorejar das folhas outonais

Solitários pedaços...caindo um a um...na beleza inerte da estrada...

 

Percorri o silêncio que as aves escondiam

Silêncios de cores desconhecidas

Como ecos de passos passados

Desbotados pela sofreguidão dos dias...

 

E se um instante de mim se perder

Sei que estarei sempre...naquela casa branca

Onde o tempo me dissolveu...

 

Que trazes tu aí meu cansaço de planície?

Que gestos escondes na ondulação da seara

É vastidão de mim a implorar por mais sonhos

É a infiltração das horas a pedir mais força...mais força...

Para continuar...

 

Sei que o que sinto pertence ao tempo

É mais que tempo...é areia a desfazer-se em ausências...

 

Neste caos feito de eternidade

Nesta presença de heróis e guerras

A tragédia de viver...está inscrita na pele do vento...

Breve pele...de vento...a desenhar sobrenaturais vidas...

A fuga do tempo

Quando cheiro uma flor... sei que dentro de mim renasce a vida

Dentro dela está o tempo e a fuga

Dentro dela estão os inconfessáveis olhos do adeus

Dentro dela está o apelo...de um tempo que não me pertence...

 

Quem esperará por nós quando os solitários choupos adormecerem

E o apelo da noite florir numa estrada perfumada

Pelas aves nocturnas que descem ao nosso encontro?

 

De riso tranquilo...desci pela maresia da noite

Sosseguei as saudades que deslizavam pelo meu peito

Como estrelas submersas num lago de cores caídas...negras...fúlgidas

Que deslizavam nos meus olhos...ao sabor de um vento pequeno.

 

E havia um silêncio plasmado na pele dos canaviais

Um cheiro a tempo sem palavras...brisa de luz e ruído de cidade  afastada

Ergui-me como um pórtico que escuta os murmúrios da noite

Nada havia ali...a não ser o repouso da alma.

 

Toquei nas asas de uma borboleta

Quem me dera que fosses o peito repousado da paz

Quem me dera que deslizasses pela leveza despida da tarde

E me abrisses as portas do sono...devagar...pousada no meu peito...

Sem casa para morar!

 

Dentro dos meus olhos afogo as sombras e os contornos inconstantes do rio

Tudo é igual aqui...nada se atreve a mudar...

Mas hoje...apenas hoje....vi...dentro de mim...

O hiato que me separa da névoa do tempo...

 

Qualquer pedra que ergas não é mais que uma pedra

Qualquer voo de ave não é mais que um voo de ave

O que é diferente...é a lembrança do vento a raspar nas arestas da janela

De onde já não vejo o mar.