E nada mais...
Voo de pássaro sem vida
Voo de ave sem fundo
Poço de tudo...
Poço de vento
Que a fuligem dos corpos cobre de mistério
E a bica se alimenta de águas irreais
E o sonho é apenas um rio...
E nada mais...
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Voo de pássaro sem vida
Voo de ave sem fundo
Poço de tudo...
Poço de vento
Que a fuligem dos corpos cobre de mistério
E a bica se alimenta de águas irreais
E o sonho é apenas um rio...
E nada mais...
Sombra lenta e real
Que cavas nos olhos do silêncio
O fim e o princípio de tudo
E vives numa floresta
Que se repete nas raízes que não vemos
Como se o avesso do amor...
Fosse o musgo que se cola à pele
Como uma dor...
Disseminada pelo corpo dos dias.
A vida acaba onde o sonho começa
A vida começa onde o sonho acaba
Tudo é um eco ...sempre repetido...
Sempre imperante...silencioso...
Como a luz que desce das cinzas do luar.
Tenho todas as sombras para descansar
E todo o tojo do inverno...para sentir...
A árdua ilusão de viver...
Olhei de frente...a vida...sem medo de me perder...
Depois...descobri que ninguém se perde...
Apenas percorre outros caminhos...
Como se me erguesse numa estrada inflamada de luz...
E a vida se arrojasse aos meus pés
A pedir-me desculpa
De ter cavado em mim a desilusão
Da chama que se apaga...
Tenho todos os segredos para descobrir
E todas as silvas me falam das amoras doces da primavera...
Há um rio para além deste rio
Onde os pássaros..esquecidos de mim...
Acordam os cardos floridos...
Percorro este chão de hortências
Onde a eternidade da beleza supera a morte
E o medo de ontem..sugere novos dias...novas vontades..
De ser tudo o que é possível...
Olho os dias...até que o céu se esconda na minha alma.
Chamam-me os segredos escondidos do mundo...
Mas eu adormeci...
Percorro a minha a estrada... mais como um fim do que como uma viagem.
Nos olhos do medo há silêncios de vida
Num charco de penumbra descubro a ilusão
De estar vivo...
E há um mundo em volta de nós
A lembrar-nos de quão curtos são os dias...
Tens a febre de uma praia...que esconde a excessiva transparência da luz
Mesmo que a madrugada te faça tremer...és tu quem dissolve a noite
E o dia...
E eu...sou apenas o alvoroço de uma alma...
Que vive no interior de um espelho...
Na eternidade da pedra...vejo o pó da vida...
No agitar do mar...toda a calma do tempo...
Em mim...nada...
O frio que esvazia a alma
Não é frio...é apenas ausência...
É apenas uma vaga sensação de janela sem paisagem...
Irmão...em chamas te vejo
Mas acredita.. que um dia descobrirás..que essa fome de querer ser mais além...
Não é fome...é fantasia que o tempo gasta...
Evadi-me do mundo como quem se despede da perfeição do destino
Cambaleei...na suspensão abandonada do lago
E perante a luz branca e gasta...ouvi mil vozes semeadas ao acaso
Passeei como quem embala o olhar
Esqueci gestos e naufrágios
E a alma misteriosa...ergueu-se num anseio desconhecido...
Definitivamente...sei que esta rua é minha
Que os degraus que subo me acompanham
Como se não houvessem mais ruas...nem mais certezas
Pedaços de noite salpicam os caminhos
Perderam-se no rumorejar das folhas outonais
Solitários pedaços...caindo um a um...na beleza inerte da estrada...
Percorri o silêncio que as aves escondiam
Silêncios de cores desconhecidas
Como ecos de passos passados
Desbotados pela sofreguidão dos dias...
E se um instante de mim se perder
Sei que estarei sempre...naquela casa branca
Onde o tempo me dissolveu...
Que trazes tu aí meu cansaço de planície?
Que gestos escondes na ondulação da seara
É vastidão de mim a implorar por mais sonhos
É a infiltração das horas a pedir mais força...mais força...
Para continuar...
Sei que o que sinto pertence ao tempo
É mais que tempo...é areia a desfazer-se em ausências...
Neste caos feito de eternidade
Nesta presença de heróis e guerras
A tragédia de viver...está inscrita na pele do vento...
Breve pele...de vento...a desenhar sobrenaturais vidas...
Quando cheiro uma flor... sei que dentro de mim renasce a vida
Dentro dela está o tempo e a fuga
Dentro dela estão os inconfessáveis olhos do adeus
Dentro dela está o apelo...de um tempo que não me pertence...
Quem esperará por nós quando os solitários choupos adormecerem
E o apelo da noite florir numa estrada perfumada
Pelas aves nocturnas que descem ao nosso encontro?
De riso tranquilo...desci pela maresia da noite
Sosseguei as saudades que deslizavam pelo meu peito
Como estrelas submersas num lago de cores caídas...negras...fúlgidas
Que deslizavam nos meus olhos...ao sabor de um vento pequeno.
E havia um silêncio plasmado na pele dos canaviais
Um cheiro a tempo sem palavras...brisa de luz e ruído de cidade afastada
Ergui-me como um pórtico que escuta os murmúrios da noite
Nada havia ali...a não ser o repouso da alma.
Toquei nas asas de uma borboleta
Quem me dera que fosses o peito repousado da paz
Quem me dera que deslizasses pela leveza despida da tarde
E me abrisses as portas do sono...devagar...pousada no meu peito...
Sem casa para morar!
Dentro dos meus olhos afogo as sombras e os contornos inconstantes do rio
Tudo é igual aqui...nada se atreve a mudar...
Mas hoje...apenas hoje....vi...dentro de mim...
O hiato que me separa da névoa do tempo...
Qualquer pedra que ergas não é mais que uma pedra
Qualquer voo de ave não é mais que um voo de ave
O que é diferente...é a lembrança do vento a raspar nas arestas da janela
De onde já não vejo o mar.