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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Olhei os olhos de uma árvore...

Era o pensamento...eram as palavras....

Era a essência dos enigmas...

Tudo a afundar-se num mar de luz e caos!

 

Olhei os olhos de uma árvore...

Que deixou cair uma folha...

Como quem derrama uma lágrima.

 

O vento atiçava-me os sentimentos...

E eu disse-lhe que não tinha tantos sentimentos assim...

Que pudessem aconchegar-se  à fúria de tanto vento!

 

A única coisa que recuso...é a existência da realidade.

 

E no final do dia...esvaí-me....

Como quem não tem estrutura para aguentar o peso do ocaso que me rodeava...

 

Somos Dante e Maquiavel

Sabemos qual a chantagem dos dias. Conhecemos de cor o jogo impenetrável dos dias. Resistimos à insónia. Resfolegamos como um puro sangue lusitano quando nos dizem que qualquer coisa serve para nos cobrir. Somos incapazes...inseguros...às vezes traiçoeiros. Cresce em nós a violência que escondemos por detrás de um rosto afável. Ah! Como nos apetece linchar a puta da vida. Colá-la numa parede como um cartaz a dizer que não a percebemos. Metodicamente vamos enchendo o tempo com heresias. Rejeitamos o incómodo e o absoluto. Somos a ponta do novelo que nos enlaça e somos também o novelo que criámos em nós. Aprisionados à condição que nos asfixia mostramos os dentes com as cáries das perguntas sem resposta. Corrigimos as trajetórias da moralidade. Jantamos e depois aprendemos a justificar-nos lendo compêndios de absurdas teorias. Um pouco assim como quem não faz nada de válido.

 

Vivemos na periferia das comédias e saramos as traições com a esperança desesperada dos traidores. Somos as estátuas de um tempo equestre. Um tempo fácil de enfiar nos dias e nas noites que cosemos com agulhas de tédio. Embarcamos, como todos os outros, no grande Acto das comédias. Somos Dante e Maquiavel buscando o caminho sem fim do céu...do inferno...da guerra...e adoramos o burburinho dos patinhos no lago.

 

Um dia olhei a minha preguiça exposta nos papéis que tinha sobre a secretária. Nesse dia fiz dela uma amiga. Abri-lhe a minha porta e compreendi que não há pressa que tenha pressa. Compreendi que eu era a pressa com que queria apressar a pressa...e então...descansei.

Uma ou duas novas áreas deveriam ser introduzidas no nosso sistema de ensino

Uma ou duas novas áreas deveriam ser introduzidas no nosso sistema de ensino. Uma dedicada à atenção. Outra ao cultivo de sentimentos da bondade para com os outros.

Vivemos numa sociedade onde cada vez há mais atrativos para distrair a atenção das crianças. Não podemos ficar indiferentes de que as novas formas digitais de brincar também contribuem para a dispersão do foco de atenção  das crianças. Nunca como agora se ouviu falar de crianças com défice de atenção. E o que é que se faz? Normalmente leva-se a criança ao psicólogo, quando o que se devia fazer, era treinar a mente da criança a fixar a sua atenção. Há várias técnicas para isto, até há técnicas onde se pode integrar o digital para ajudar o aluno a focar-se em determinado tema. Já existe em várias partes do mundo um movimento que se chama de aprendizagem social/emocional, que leva o seu saber às escolas e ensina as técnicas de atenção e altruísmo. As crianças na sua tenra idade podem e devem experimentar esta forma nova de ensino. Sabemos que todos os dias as coisas mudam, assim, também no ensino novas experiências deviam ser tentadas.

Respirar é preciso...

Andamos sempre com a cabeça cheia de coisas. As ideias saltam de tema em tema. Não nos dão descanso. Sentimos a tensão nos maxilares e nos ombros,(ou nem sequer a sentimos de tão atarefados que andamos). Não nos apercebemos de que respiramos. Respirar é para nós um acto reflexo.

 

Sentir a respiração é das coisas mais importantes que podemos fazer para o nosso bem-estar. Sentir o respirar é uma coisa tão simples que nem lhe damos importância. Contudo se tentarmos focar a atenção no respirar e podemos esquecer os pensamentos que nos afligem. Não é simples focar a atenção no respirar e esvaziar a cabeça. Não é fácil focar a atenção no respirar e deixar que o mundo se esvaia no nosso silêncio. É preciso treinar a mente. É preciso que nos tornemos atletas do pensamento. Se o conseguirmos...certamente seremos muito mais felizes.

Sonhamos com futuros onde não estaremos...

Se eu soubesse desenhar a luz...talvez não me espantasse com a correnteza obsessiva dos dias. As frases constroem-se com a sensibilidade que dobra o vento. Espreitam pelas margens da alma. Sempre a inventarem parábolas que desprevenidas pombas sobrevoam.

 

Sabemos viver? Penso que não! Sabemos que há um muro contra o qual chocamos. E que no espanto de cada instante reside a força que nos impulsiona. Os olhos dos astros espreitam-nos no fundo da noite. Tão perto de nós. Insondáveis como a alma dos barcos. Em cada adormecer vive uma paleta de sonhos. Em cada acordar morre a omnisciente sensação da imortalidade.

 

Amamos com o calor dos sentimentos. Suplicamos pela nossa liberdade. Não somos nem sítio, nem mundo e já destruímos o éden. Saltamos de lágrima em lágrima como que se quer descobrir. Agarrados à vida com ventosas de aflição...temos as dores do que ficou para trás e não descortinamos a forma de simplesmente nos perdermos de nós. Esta seria a melhor maneira de sobreviver....perdidos de nós...assim como quer quer ser outro.

 

Fazemos planos para um tempo que não existe. O tempo...esse paradoxo alquímico onde a desfaçatez da vida nos aprisiona. Como servos de algo grandioso...que por ser tão grande é apenas ínfimo. E é como ínfimos contadores de historietas...que lá vamos desembrulhando a nossa vida.

 

Não há prazo para o cansaço nem desculpas para o amor. E quando as artroses nos engaiolarem em camas onde não repousamos. Enfim, descobriremos..que os dias foram mais que dias. Foram gatos a observar a inconsistência das nossas noite de nostalgia. As noites onde sentados na areia observamos a via-láctea...e sonhamos com futuros onde não estaremos...

Gestos passageiros.

Gestos passageiros. Todo o gesto pode ser um conflito ou...uma defesa. Sabemos perfeitamente acender um cigarro. Disparar um revólver. Salgar o peixe. Conhecemos a beleza de uns olhos castanhos. A profundidade de um beijo. A lonjura de uma causa. Dominamos a terapêutica dos sentimentos. A vigília improvável da respiração. A ansiedade de uma dialética proibida. Somos chão, ruído, porta. Semeamos linhas intransponíveis entre quem somos e quem gostaríamos de ser. Andamos apoiados em duas pernas e deslizamos pelos dias como se andássemos de gatas. Somos múltiplos. Sistemáticos. Testamos os sentidos em cada esquina e ficamos encurralados numa secretária onde desfiamos a vida. Despimos a camisa. Matamos a sede. Somos involuntários anjos a desafiar cometas. Somos mesmo aquele nosso interior que negamos com a veemência e lucidez dos loucos. Vigiamos cada ataque dos olhares como quem persegue a existência dogmática da alma.

 

Lama. Porque é que estamos sempre à espera de cair num charco de lama? Que temor nos causa a lama?

Cavalos a trote. Balbúrdia de cascos. Lama a pegar-se à pele. Arranhar o chão...perder a vontade de ter vontade. Em cada fechadura há uma vontade de cerrar os dentes. Observar o mistério de cada repuxo da alma. Súmula de factos é o que nós somos. Resenha de opiniões contraditórias. O nosso ar de sono desbotado acorda com o implacável amanhecer. Queremos chegar à janela e pedir ao dia só mais uns segundos. Algo que nos faça esquecer o movimento ritmado dos corpos a caminho da rotina. Ouvir tudo como se tudo fosse inútil. E na inutilidade de tudo...despertar e dizer que venha lá mais um dia. Lindo.

Podíamos levar o tempo à boca

Atrevo-me a inventar a pureza dos dias. A resistir a esses claustrofóbicos espaços da memória onde a alma por vezes quer encerrar-se. Lá longe...o mundo. Essa estúpida distância a desfazer-se em partes de mim.

 

Não há como explicar de onde nos vem a negrura de um desespero. E mesmo aqueles que se aproximam e que tememos que escondam facas nos olhos...são como nós. Meros contadores de histórias. Aprendizes de feitiços transparentes. Todas as situações representam uma surpresa inconsciente. Inventamos respirações de forma a que o ar não nos falte. Desfazemo-nos em poses defensivas...para depois derramar-mos o nosso orgulho num balde de tédio. Sabemos que a única garantia que temos é a que nos conduz ao cadafalso. Sabemos que as ideias rolam e rodam em nosso redor. Tocá-las seria impensável. Há uma vontade brilhante e desnecessária em cada momento. Sentimos a responsabilidade do imediato. E é preciso um bom par de estalos do destino para que abramos o olhos...ou os fechemos e nessa escuridão vejamos o comprimento das coisas. Aquelas coisas que achamos serem tão importantes que nunca chegamos a dar-lhes a verdadeira importância.

 

Verde é o destino. Negro aquele medo de tudo o que não sabemos. O sono é a redistribuição da paz pelo nosso corpo. A acalmia da respiração. Tudo nos passa pela cabeça. Tudo é tudo e nada é sentido nem faz sentido. Uma rua é um território de estrelas. O céu uma massa negra que nos cobre o sonho. Assim como o vinho é a dignidade da uva, também os passos são a dignidade do corpo. Andar sempre. Cansar sempre. Ser sempre qualquer coisa.

 

Podíamos levar o tempo à boca. Mastigá-lo. Parti-lo em pequenos pedaços de fé. Mas fé em quê? Em quem? Em nós...é claro!

Os gritos da alma

Dizemos tanta coisa quando queremos ser algo mais que palavras. Falamos dos dias e dos loucos e das excitações e das citações que os outros citam. Pegamos em manuais de psicologia e tentamos fazer uma revolução com a alma. Aperfeiçoamos espaços e guardamos a revolta na gaveta dos dias. Sabemos que há sempre aquela gaiola à nossa espera. Aquele ritual sagrado de tácitas manobras de engate. E a violência da fome a desmoronar-se sob os nossos olhos. Transmitindo-nos a dialética errada de uma sociedade sem regras.

 

Divertimo-nos em inconfessáveis geografias. Apontamos o dedo à rotação dos dias. Batemos a portas secretas onde vivem isotéricos problemas. Insolúveis maresias. Por vezes, aparecem-nos cosmológicos seres desconfiados. Outras vezes abraçamos as incertezas como se fossem notícias felizes.

 

Por mais vezes que morramos nunca expiaremos os gritos da alma. Alamedas de ébrios seres abrem-se aos nossos olhos. A vida seria muito mais fácil se não existissem os reprovadores silêncios dos deuses. Tudo seria mais fácil se não existissem deuses...pelo menos na cabeça das pessoas.

No silêncio dos cadernos.

Não digas nada. Não expliques nada. Fala-me apenas da travessia dos dias. Fala-me dessa claustrofobia que nos esmaga de encontro em encontro...até encontrarmos um céu onde os sorrisos são a electricidade que nos move.

 

Entretenho o olhar com as nuvens que se enrolam à minha fantasia. De nada me serve virar as costas e avançar ao meu desencontro. De nada me serve descobrir que há uma imundície na sombra de cada raiar de luz. Podia perder o meu tempo a dissecar a irregularidade de cada pessoa que se projecta no écran desfocado da minha ilusão. Mas não vale a pena descarregar a minha inconsciência de gato sem forma. Prefiro remeter os meus olhos para outras paragens e inventar fantasmas no fumo que sobe do cinzeiro. Tenho tendência para me remeter ao infinito...como se abarcasse em mim todos os poços sem fundo da vida.

 

Como deve ser bom sentir na alma a libertação caótica dos felinos. Encher páginas e páginas com palavras viscerais. Utopias. Descrições de mundos falsos. Depois...desaparecer carinhosamente no silêncio dos cadernos.

 

Tudo o que é negativo trás consigo um manual de lições. Não há prazo para desvendar os labirintos do ser. Tudo acaba colado ao vidro da nossa janela. Todo o amor acaba por ser um boomerang de aflições. Se eu pudesse...construía um contentamento em cada minuto. Colava sentimento a sentimento. E exibia a minha felicidade em todas as ruas...como se vestisse um casaco feito de coisas desnecessárias. Poderia percorrer as sombras como quem desabafa em encruzilhadas de tédio. Poderia considerar a possibilidade de escolher a chuva que me molhasse. Mas não. Leio Luís Pacheco e oiço Piazzolla...enquanto a tarde se enrola na penumbra do quarto.