E nós...aqui...crescidos como as distâncias que temos que percorrer. Rindo e saboreando as irrealidades. E tal como no mito de Kronos...lá nos vamos devorando em ódios e anseios. Nos nossos dias gorgoleja essa constante invenção das paixões e das estátuas esculpidas em barro negro. Nós somos mesmo o barro...negro. Gostamos de estátuas. Todos querem ter a sua estátua em qualquer lugar...mesmo aqueles que não têm lugar numa estátua.
Temos uma visão tão infantil da angústia...que pensamos que a angústia se resolve com quebradiças verdades e irreais absurdos. Pensamos que somos mais que todos os nossos receios...mas não somos...os receios somos nós a querer ser mais que nós. A querer encher a vida com vento...como se a vida se construísse com medos de futuros que ainda não vivemos.
Mas há mais...há a nossa negação do corpo. Queremos é saber o que é a alma. Queremos arranjar uma forma de escapar. Uma forma de obter o nosso quinhão de imortalidade. Que é outra forma de dizer que queremos ser mais que um corpo. Mas não somos. Somos este espaço que medeia a distância entre o berço e a nostalgia. Este espaço de sol e opúsculo onde se reflete a nossa ansiedade.
Não há homem mais tranquilo que aquele que nada faz. É esse que conhece o segredo. Aquele que aceita a supérflua desnecessidade de ser reconhecido. Porque não há tédio na inutilidade. Não há relógios...nem ruínas...nem letreiros de néon...nem fatos Armani...ou malas Vuitton...a adornar os ventos que nos sopram Elegias de Rilke.