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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

Erguem-se as pedras..

Erguem-se as pedras...derrubam-se as árvores

Os olhos dos homens andam nus

As almas entrelaçam-se em lianas de declínio

E tu despedes-te de mim...como um pêndulo oscilante

Como uma maresia comprimida...entre o abraço...

E a partida....

 

 

Diz-me do não e do sim

Diz-me da sombra e da estrela

Diz-me que parede queres subir

Diz-me que lua queres descer

Porque a despedida cintila na ondulação...

Do mar...

Silêncio de renda...

Silêncio de renda...flautas do poente

É ti que peço o meu lado branco

A ti...que me semeaste em barcos de papel

A ti...que me construiste com o eco da escuridão

 

Sei que a dúvida é o meu poente

Que a nascença do mundo é uma ave azul

Que trocámos o cais pela viagem

Que descemos ao poço da vertigem

Compostamente adornados com um laço negro.

 

Sabemos tão pouco sobre nós

Sabemos tão pouco sobre nós. Sabemos tão pouco sobre os sentimentos. E sobre a nudez. E sobre as gotículas incipientes da chuva. E sobre os nossos amigos. Mas sentimos. Sentimos ternura. Sentimos a futilidade de certos gestos. Sentimos a placidez das lágrimas e a subida das marés. E de cada vez que erguemos os olhos percebemos que estamos alheados de todo o céu que nos cobre.

 

Embaciamos vidros. Desperdiçamos talentos. E sentimos vontade de tanta coisa que o melhor é mesmo sentar-mo-nos junto ao mar e perder-mo-nos no horizonte. Não podemos fazer nada. Os bairros de lata existem. Os túmulos existem. As inconstâncias existem. E por vezes até nos apetece arrancar as janelas dos caixilhos. Só para que não nos embaciem a alma.

 

Andamos em passos silenciosos. Interrogamos os corredores. Deixamos que madeixas de cabelos brancos nos tapem a testa. E vemos o nosso corpo pendurado em qualquer tronco de árvore alheada da nossa presença. Essa árvore cujo tronco se entronca em nós .

Fixamos o olhar nas sombras. Esperamos pelo enérgico silêncio da tarde. Erguemos os copos. Brindamos em sucessivas festas. E durante algum tempo até acreditamos que estamos acompanhados. Fazemos vénias ao mundo. Abrimo-lo com uma chave falsa. E ficamos contentes se nos diluirmos nessa onde de calor que nos embala. Ou então...fechamo-nos numa treva onde desembarcam as nossas ilusões.

A obscuridade que nos alumia.

Viver no passado. Recordar essa confusão de infâncias. A opacidade de um tempo feliz. As memórias mortas. A indiferença perante o inexorável. A cama fria. A sopa fria. Os pés frios. As frieiras. A insistência em tentar encontrar a alma que nos falta. As preocupações. Os testamentos. A leitura dos sonhos. A sobranceria dos gatos. Ou melhor ainda...o nosso próprio outono a desfazer-se em pólen. O nosso próprio verão a abafar-nos a alma. A angústia que se esconde por detrás das palavras. A vulgaridade do profundo sentido da vida. Em tudo isso há uma estranha sintonia. Uma desordem natural. Um requinte marmóreo. De onde resulta a obscuridade que nos alumia.

Fechei a porta

Fechei a porta. Colapsei. Senti-me um denso deus menor. As folhas da infância desvaneceram-se. A realidade era um frio debruçado sobre a luz gradativa da tarde. Aprendi a juntar as mãos. Os dedos a entrelaçarem-se numa trama de sentimentos. Nos olhos...uma linha de água. No horizonte...uma muralha de cismas. Sobre a cama...um resplandecente gato. Suponho que me ergui do meu fundo. Suponho que tinha nas minhas mãos o meu trunfo. E tudo se ergueu...como num lancinante voo de ave marinha. Imóvel assisti a esse revoltear de sentimentos. Depois... perdoei-me como quem derrapa na vidraça da tarde. Por cima dos meus ombros a luz do meu caos. Dentro dos meus bolsos um céu escarlate. A minha vontade era a de alguém que procurava a paz. A minha vontade era a de umas mãos enfiadas nos bolsos das calças. A assobiar uma ária de La Traviata de Verdi.

Criticar alguém é um acto absolutamente inútil e vazio

Cada um age dentro dos limites que a sua educação lhe permite. Criticamos a má-educação, quando o mais correcto seria dizermos má-criação. Malcriado é isso mesmo, alguém cujos alicerces educativos não foram os melhores. É assim algo como uma casa sem bases, que está sempre pronta a ruir. Criticar essas pessoas não é o mais indicado. O mais indicado é mostrar-lhe que lhes falta a luz educativa. Criticar é perder tempo. É gastar a nossa paciência. É fazer sair de nós uma força que não vai resolver nada. Não devemos criticar? Não! Cada um vive dentro dos seus parâmetros. É preferível gastarmos o nosso tempo e a nossa energia em acções úteis e que contribuam para que aproveitemos o dia. Criticar alguém é um acto absolutamente inútil e vazio. É um mergulho na areia. É um enterrar a nossa opinião num lodaçal de negações. Criticamos nos outros as acções de que não gostamos, esquecendo que não vamos resolver nada e apenas nos desgastamos. Há o vício da crítica? Há! Mas seremos muito mais felizes se nos lembramos que não vamos mudar nada nos outros e que as nossas críticas são apenas palavras vazias. vivemos de críticas? Vivemos! Melhor seria vivermos em paz connosco próprios.

São assim as coisas

São assim as coisas. Os dramas. As reconciliações. O poder abafado da solidão. Viver é aceitar o irreconciliável. Erguer os braços e desdenhar das folhas caídas. Ter princípios. Caminhar pelo deserto das ruas. No fundo...socorrer-se cada um a si próprio. É fácil viver. É fácil aceitar a gregariedade dos planetas. E a invisibilidade dos homens. Não é fácil viver na insularidade da solidão. Não é fácil perder o emprego. Mas lá vem o vento frio. Lá vem o instante certo. Lá vem o ponto final...que atenua a nossa desilusão.

 

 

São assim as coisas. Sentar-se num alpendre. Empurrar a noite para os confins dos olhos. Sentir a porosidade da chuva. Triunfar sobre o que nos faz falta. Nada nos faz falta. Caminhar pela absorvente morosidade da vida. Aceitar os paradoxos. As indelicadezas. Duvidar das certezas. Aceitar a alteridade do mundo que desaba em cansaços de promessas caducas. Poupar-se a esforços. Terminar o dia num jardim. Observar as janelas. Os rodopios do vento. As esplanadas. Os pedreiros. As montras. As canastras. As coincidências. Pensar...que os peixes não têm fronteiras. E o infinito...é um solo de Herbie Hancock.

O mais guardado mistério.

O que é isso do amor? O que é isso do primeiro beijo e do primeiro acordar? E o sono? E a conclusão inexata da felicidade? Despertar é chegar. Decidir é partir. Erguer os olhos é ver o começo do mundo. A saudade é uma corda que nos prende ao passado. Não há conclusões...apenas incertezas. Um dia acordamos e não encontramos uma explicação para esse despertar. Um dia acordamos claustrofóbicos. Um dia somos seduzidos...noutro ancoramos num cais seco. E percebemos que o que nos une à vida é esse intervalo entre adormecer e acordar. Esse vácuo da alma. Essa sofreguidão de decidirmos para que lado vamos. Que porta abrimos. Que caos construímos com os nosso gemidos... de prazer. Insubmissos...amamos. Sempre a sentir aquele choro de alegria. Sempre a regressar ao calor de outro corpo. Sempre a acordar para o suor de mais um dia. Sempre a procurar a explicação para a impossibilidade de enfrentarmos a morte do amor...como se ela fosse o mais guardado mistério.