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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Desafio dos 50...

Temos 50 anos e estamos a meio do mundo. A meio da idade. A meio de nos lembramos da infância. Temos 50 anos e estamos no limiar da porta. Do nascer do dia. Esperando o insensível entardecer. Usamos óculos. Apreciamos vinho. Gostamos de passar a mão pela cabeça das crianças. Talvez seja a nossa vontade, ou a nossa recordação de um tempo de ilusões. Aos 50 anos já sabemos pedir desculpa. Já sabemos que a vida não se faz com guerras e que no nosso comportamento reside o comportamento dos outros. Aos 50 anos ainda escorregamos na “casca da banana”. Ainda nos emboscamos em atrevidas filosofias. Ainda esmagamos o relógio da vida. Aos 50 anos já sabemos o que é a generosidade. A compleição física do ciúme. E procuramos não ligar à cinza da maldade. Também já não nos escondemos em perdões sem sentido. Gostamos de chá e torradas. E franzimos o sobrolho às coisas desagradáveis. Temos a espontaneidade dos generosos. Não nos arrependemos dos nossos “pecados”. E até nos convencemos que mais vale um sorriso que reparar em olhares idiotas. Não achamos piada a graçolas. Gostamos de abraçar e que nos abracem. Ainda sussurramos ao ouvido do amor. Ainda estamos na flor da vida. Ainda respiramos fundo. Às vezes só queremos secar as lágrimas. Outras vezes rimos desmesuradamente. Não temos paciência para sermões. E só precisamos de tomar um duche ao fim do dia...depois...

Ser português...

Ser português é gostar de viver na anarquia. Desrespeitar as leis e os sinais de trânsito. Não planear. Chegar atrasado aos encontros. É viver num mundo de burocracia. É viver num país onde grande parte do território não se sabe a quem pertence. É desculpar-se com os outros e com a inércia do estado. É deixar as árvores ardidas nos locais do incêndio porque o estado não obriga a cortá-las. Portugal é uma negligência colectiva. É um país laxista cujo desporto é fugir aos impostos.

 

Ser português é viver num país onde se despejam os restos das obras na beira das estradas...nas matas ou em locais mais escondidos. Mas nunca no local apropriado.

 

O português acha-se o melhor condutor do mundo, mas nas estradas de Portugal morrem todos os anos centenas de pessoas. Por culpa dos outros...claro.

O português macho é aquele que não gosta de ser ultrapassado na estrada por uma mulher.

O português estaciona mal...mesmo quando pode estacionar bem.

 

 

Os portugueses gostam de complicar o que é simples,(lembro-me de um ministro não querer aceitar um projecto de lei porque este era muito simples de executar), mas têm a capacidade de descomplicar o complicado.

 

O português põe sempre o seu destino na mão dos outros. Da sorte. De deus. Do destino. Do estado. Do fado. Assim a vida é muito mais fácil e despreocupada. Não tem que assumir responsabilidades.

 

O português acha que não tem que obedecer à lei. Pensa que as leis são feitas para não serem cumpridas.

 

O herói português é o chico-esperto. É aquele que contorna a lei. Que foge aos impostos,e que se sente sempre impune.

 

Em Portugal grassa a corrupção do pequeno poder. A manigância de secretária.

 

Mas o português sabe o que se passa. Em cada português há um Bordalo em potência.

 

Em Portugal não se respeita o segredo de justiça, apesar de ser obrigatório fazê-lo.

 

O português é tolerante, bonacheirão, leva a vida como uma enorme comédia. E é precisamente por isso que quem nos visita fica pasmado e cativado ao mesmo tempo. Por estas nossas idiossincrasias.***

***texto inspirado no livro de Barry Hatton - Os Portugueses.

Distância...

 

Não sentes tu também aquela explosão atípica? Aquele pasmar vidrado das coisas que não podes saber? Não sentes tu também aquela vontade de trepar à mais alta vontade? De ser árvore ou renascer num qualquer campo dourado? Queres acreditar que o punhal que te fere é aquele que te ergue. Que uma cidade é uma sucessão de sombras. E que é impossível saber onde nascem as verdadeiras pessoas. Amanhã talvez sejas feliz. Amanhã talvez não sejas mais que um passo cansado. Ou uma canseira de prestidigitador. Afasta-te das horas. Do vácuo. Dos fantasmas. Pequena é a tua sombra...e vastas as noites de insónia. Se ao menos deixasses cair os braços. Se ao menos aprendesses a cair de bruços sobre a tristeza. Talvez assim a esmagasses debaixo da tua vontade da caminhar. O que sabes é que o futuro é uma fragilidade. Que o mundo não se explica sem olharmos os outros nos olhos. E que a respiração é apenas a anónima distância que nos separa...da vida ...e da morte.

Hoje estou reacionário...

O direito à greve é um direito constitucional. Já não sei se será assim tão constitucional fazer hoje greve para reivindicar aumentos de ordenado para daqui a dois e três anos.

 

Também não sei se é constitucional, (se o é não deveria ser), fazer uma greve por tempo ilimitado, prejudicando e podendo fazer parar um país.

 

Acho, mas isto sou que sou de esquerda, que a lei da greve deveria ser alterada, e que as greves que ponham em causa a economia do país, deviam ter uma limitação obrigatória de duração.

 

Deste modo, esse tipo de greves,( como a dos camionistas e outras semelhantes), deviam ficar limitadas a um máximo de 3 dias seguidos. E só poderiam repetir-se de quinze em quinze dias.

 

Não é justo, que classes que têm poder de reivindicação, possam de forma completamente imoral, prejudicar a vida de todos os outros.

 

Mas o que eu nunca pensei vir a observar, é que um sindicato, ligado à direita, ( o sindicato independente dos motoristas de matérias perigosas), fosse mais agressivo que um sindicato filiado na CGTP. De facto o mundo está a mudar e os sindicatos também.

 

Campo aberto

Campo aberto. Charco da alma. É preciso desacertar o passo e cometer o erro certo. Ser a mancha de côr que ateia a claridade. Ou... a sépia que lentamente desaparece da moldura. Depois temos que recriar o espaço. Dar nomes às coisas que fermentam na nossa imaginação. Inventar inexistências. Recriar primaveras. Rebolar em arestas. Soletrar visões que ninguém mais vê. Perturbar o falso sossego das almas. Criar um mundo de naturezas mortas. E, repetidamente lembrar... que essência das coisas vive nos olhos das crianças.

 

Viver...e não perceber claramente onde está erro. Avançar na idade. Recomeçar todos os dias. Saber que não há início nem fim. Que todos os dias sobejamos...como casas cheias de vento. Saber que o mar escasseia. Que todo o entardecer nos trás o capricho do sol. Que o inverno nos trás a proverbial angústia. E que a serenidade dos lagos é digna de pena. Posso até dizer que todos gostávamos de ser pássaros. Ou barcos. Que gostávamos de fazer um sublime voo sobre uma sublime paisagem. E depois descobrir...que não há nenhum porto. Nem nenhuma fresta de janela...que nos abrace.

 

 

As causas da nosssa miséria...

É verdade que Portugal já foi um dos países mais ricos do mundo. É também verdade que Lisboa já foi a capital da Europa. E é também verdade que os portugueses são românticos, líricos,quixotescos, não se sabem governar, mas são insubmissos  perante os invasores.

 

Se recuarmos ao tempo da dominação romana da Lusitânia, já nesse tempo os romanos nos achavam um povo estranho.Um povo que não se sabia governar, mas que também não deixava que o governassem.

 

Várias são as causas para o nosso endémico atraso. Umas humanas,(má governação), outras políticas, o conservadorismo religioso e ainda outras naturais.

 

Quanto às humanas, apesar de no século XV e seguintes sermos a alma da Europa, os nossos reis desbarataram as riquezas ganhas com as especiarias, em faustosos luxos e mostras de grandeza, como foi por exemplo o envio das embaixadas aos Papas.

 

Entretanto os Ingleses e os holandeses iam-nos roubando o comércio das especiarias e empregavam os lucros no desenvolvimento dos seus países. Nós não! Nós queríamos era farra e gastar à tripa forra, e mostrar a grandeza que possuíamos, sem pensar em desenvolver o país.

 

Depois tivemos um período negro com os Filipes de Espanha, foram 60 anos em que além da nossa soberania perdemos grande parte das nossas riquezas.

 

Voltámos a erguer-nos com o ouro que veio do Brasil, mas a construção do Convento de Mafra e o terramoto de 1755, voltaram a derrotar a nossa pretensão a sermos um país desenvolvido.

 

A seguir vieram as invasões francesas, (que levaram à independência do Brasil), e arruinaram ainda mais o país. Mas a verdade e honra nos seja feita, é que ninguém nos conseguiu conquistar. Nem Roma, nem Mouros,nem Espanha e nem a França.

 

Depois veio Salazar e mais 48 anos de atraso. A falta de literacia e de educação fazia parte do seus planos para dominar as pessoas. E isso foi-nos fatal para competirmos pelo desenvolvimento.

Ainda há quem idolatre Salazar. Mas um homem que gastava 50 por cento do orçamento do estado a alimentar uma guerra perdida, em vez de desenvolver o país, só pode ser considerado um atrasado.

Apenas se lhe reconhece o mérito de nos ter livrado da segunda grande guerra...

 

 

Mais tarde, quando entrámos para a CEE, hoje União Europeia, desbaratámos todos os recursos que nos foram dados, e que nos podiam aproximar dos países mais desenvolvidos, com esquemas e corrupções.

 

Enfim, é esta a nossa sina. Ou será que por sermos mesmo  diferentes,  é que que tanta gente estrangeira quer vir para cá viver?

 

É que a nossa idiossincrasia, de não levar nada a sério e de que tudo acabará por se resolver, leva a que quem nos visita, acabe por nos admirar!!!

 

Só nós não nos admiramos...queremos é Fátima, bola e telenovelas...o fado passou a ser moda e já não é motivo de escárnio.

 

Somos sebastianistas... e está tudo dito!

 

 

 

 

Véu...

Por dentro de mim a frieza. Da minha toco espreito a veia que entontece o mundo. Serei ponte...silêncio ou fonte. Serei melopeia singrando o ar. Mas não serei bolor nem argila. Nem cortarei a minha vontade de acreditar. Não irei em fila como se não houvesse estrada. Não dormitarei em luas destinadas. Ouvirei as raízes a crescer. Com branda água lavarei a voz. Dentro de mim crescerá um véu de prata. Nos meus olhos dançarão sóis. Na minha boca crescerão céus. E...ao fim dia...serei a lânguida nuvem... que desaparece...no ar.

 

Qual é o contrário da alma?

A vida é uma sucessão infinita de nadas. Tudo o que existe tem o seu contrário. Ora a vida como sucessão de nadas que é... não existe. Porque a vida é Tudo e ao mesmo tempo não é Nada. E nem a morte é o seu contrário...porque faz parte da Vida. A morte é apenas a transformação do corpo. Só não sabemos se é,( como alguns dizem), a libertação da alma, que está prisioneira do corpo. Mas se tudo na vida tem o seu contrário, qual é o contrário da alma? Se não há uma explicação para a alma...como pode haver uma explicação para a vida? A não ser como dizia Agostinho da Silva, que, para encontrar explicação para a  Vida basta-nos...vivê-la!

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