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(desta foto falarei no final do texto)
Há paraísos abandonados em Portugal, contudo, vivemos amontoados em cidades, sofrendo uma orgia de tédio e stress.
Sempre que um político visita o interior, lamenta o estado de abandono em que este se encontra, mas, que iniciativas teve até hoje o poder político para melhorar este estado de coisas? Nenhuma!
Lamentar é fácil! Ter ideias, iniciativas, concretizar planos, já é um pouco mais difícil.
Vem este texto a propósito da existência de tantas aldeias abandonadas no nosso interior, autênticos paraísos que estão perdidos, mas que esperam o milagre da presença humana.
É possível voltar a dar vida a estas aldeias? Acredito que sim. Temos a experiência e o saber para o fazer. Falta-nos a iniciativa e a formação pessoal e profissional para realizar esta tarefa.
Ninguém duvide, o futuro está nas novas tecnologias e na utilização da terra. Feliz este paradoxo, o ponto mais alto do desenvolvimento coincide com a forma mais básica da sobrevivência.
Mas o que é que eu proponho? Pois bem, nenhuma aldeia pode ser repovoada sem recorrer ao comunitarismo. E para isso é preciso que quem queira ir para lá viver, esqueça o individualismo atávico das cidades.
Sabemos como se vivia em comunidade, sabemos o que era a entreajuda e o sentido de solidariedade. Pois bem, é baseado nesses pressupostos que acho ser possível recuperar e voltar a dar vida a essas aldeias.
Não precisamos de um novo D. Dinis, precisamos de pessoas esclarecidas e de boa vontade.
Parece impossível que um povo que colonizou o Vale do Limpopo em Moçambique não consiga fazer o mesmo no seu próprio território.
Para atrair colonos ao Limpopo, o governo atribuiu casas, terras, sementes, alfaias agrícolas, construiu escolas, fixaram-se lá médicos, veterinários, engenheiros agrónomos e foi com estes pressupostos que as pessoas para lá se deslocaram.
Cá podemos fazer o mesmo, e como o país está mais rico, pode ser atribuída a cada família um subsídio mensal de,por exemplo, dois ordenados mínimos por casal, de forma a que possam sobreviver nos primeiros anos.
É claro que quem quiser viver este tipo de vida, tem que se livrar dos preconceitos e não pode pensar que vai enriquecer, mas, quem é que enriquece a trabalhar na cidade?
Há ainda várias possibilidades de sobrevivência e de produção de bens, vegetais e animais, e também através da exploração do turismo de aldeia. Tudo o que vem da terra, hoje em dia, pode ser uma fonte de rendimento.
Assim podem ser constituídos rebanhos de cabras e ovelhas. Podem ser feitos e vendidos os queijos, pode ser aproveitado e vendido o leite. Podem ser semeados os campos. Pode ser aproveitada a floresta. Podem ser criadas casas de turismo rural. E tudo isto de forma comunitária, onde todos os rendimentos serão distribuídos por todos. Enfim há imensas possibilidades de sobreviver numa aldeia onde a forma de viver não seja a de cada um por si, mas sim a da responsabilidade partilhada.
Há ainda um ponto de que não falei, e as casas para viver? Pois bem, o governo deve criar um projecto piloto de uma aldeia, comprar as casas, recuperá-las e depois atribuí-las às famílias que queiram integrar o projecto.
O futuro das aldeias abandonadas passa pela sua recuperação e por um misto de antigas regras comunitárias e novas tecnologias, funcionando a aldeia como se fosse uma empresa. Com regras e com distribuição de tarefas. Com conselhos de aldeia e com responsabilidades partilhadas. E também, é claro, com a liberdade de cada um se poder exprimir da forma que quiser. Seja através das artes, do artesanato, da representação, da música ou da escrita.
Podem estas aldeias transformar-se em viveiros de criatividade? Acredito que sim!
Podem estas aldeias criarem a sua própria fonte de cultura. diversão e entretenimento? Sim, isso é fundamental para a união das pessoas. Veja-se as tribos a que chamamos primitivas, que têm os seus rituais e divertimentos. Não podemos nós, cidadãos esclarecidos, imitá-los? Sim...podemos.
Utopia? Não!
Isto já existe, a foto que inicia o texto é da aldeia de Cabrum, a 20 km de Viseu, onde vários jovens deitaram mãos à obra. Recuperaram casas, ( não têm qualquer apoio como os que referi) e vivem em comunidade. Claro que para isso acontecer é preciso possuir uma filosofia de vida que não está ao alcance de todos. Mas quem conseguir transformar a sua concepção de viver em sociedade e optar por viver no campo, com certeza não se arrependerá.