Dissipação
Desordenado céu que entras por mim adentro. És ainda esse mesmo céu estendido sobre os olhos do mundo? Ou és a histórica noite dos tempos que sempre nos engana? Debaixo de ti levo os meus passos. Salto muros e enfrento a chuva do tempo. O meu rosto esconde ínfimos mistérios. Para lá de mim... a noite. Para cá de mim a perseguição da chuva. A dissipação da eternidade. A colorir ventos e mares. A entrar na orla da minha superfície cristalina... como quem entra num pátio de mistério e sombras. Sinto a Vida tão cheia e desentendida...sou como uma borboleta a dançar numa redoma. E sinto que sou eu... a minha própria sombra.
Não me agarro a um destino. Não me agarro a um perfume. Alago-me em subtis gradações de tempo. Escorro por mim com um suor arrepiado. E penso na hora marcada. No instante perfeito. No espaço que vai de mim às águas onde nascem minúsculas estrelas. E macias ironias despontam...no excessivo desamparo de um amanhecer.