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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Luas incandescentes...

Habito as mil paredes de um tempo antigo. Percorro desertos e saudades. Divido-me em linhas de águas puras. Espelhos febris despontam em cada claridade. Jardins e veredas mergulham na minha imaginação. E...há o perfume da hortelã. Há o silêncio de um terraço. E há uma porta aberta em cada mergulho no mar . Que ali está...perene. Entre brisa e nevoeiro. Solitário como as algas. Baloiçando em ondas de abraços. Atlânticos. Vastos...como o espaço que medeia entre a praia e o ecoar das tempestades.

 

E mais além o vento passa. E mais além um vulto desaparece. E mais além está o nevoeiro...onde tudo acontece. De um azul pleno é o mar . Roncando sobre rochas onde silêncios espreitam. Perfeito é o momento. Grave é a solidão. Misterioso é o jardim onde subaquáticas flores dançam. Em espirais indolentes. Em fulgores de medusas transparentes. Em mastros de caravelas e poentes. Enquanto dentro de nós...se desmancha a voz...de breves luas incandescentes.

Voltarei...

Voltarei...quando o outono crescer nas pequenas coisas. Voltarei..quando das brumas se erguer um verso. E das sombras se soltar um rosto. A noite será feita de águas eternas. E o tempo perderá as asas. O tempo é feito com a pureza das brisas. As brisas são sonhos de mágoas irreais. Só nos falta buscar a aventura dos horizontes. Ser infinitamente transparente. E ir...como um barco sem porto. Descobrir a forma das coisas que desconhecemos. Espantando-se com tudo. Com asas. Com luas. E com abraços. Depois...é só deixar calar o nosso eco na noite. Ser pântano..alucinação e flor. Florescer. Num atol coralino. Num qualquer pôr-do-sol. Num qualquer tempo. Como se estivesse debruçado sobre a pureza do vasto universo. E o mundo dormisse numa enorme fantasia. Que cai...folha a folha...sobre a nossa pele inundada de desejos.

As letras da vida...

Leonardo DaVinci era filho ilegítimo de um notário e de uma camponesa da localidade de Vinci. Autodidata, Leonardo quase não frequentou a escola e até sentia orgulho na sua falta de  instrução. Mas foi a sua falta de educação formal que o levou a enveredar pela experimentação e pela experiência. Uma vez até  assinou, «Leonardo da Vinci, disscepolo della sperientia».

Leonardo era por vezes atacado e denegrido pela sua falta de instrução e certo dia escreveu:

"Tenho inteira consciência de que o facto de não ser um homem letrado levou a que alguns presunçosos pensassem que teriam razões para me censurarem, alegando que sou um homem sem formação. Gente idiota! [...] pavoneiam-se por aí todos inchados e pomposos, adornados e enfeitados não pelos seus trabalhos, mas pelos trabalhos dos outros. [...] Dirão que não possuo a cultura livresca para descrever adequadamente aquilo que desejo descrever - o que não sabem é que os meus assuntos exigem experiência e não as palavras de outros". ***

É  célebre frase de Selma Lagerlof aplicada a DaVinci: " a cultura é tudo o que nos resta, depois de termos esquecido o que aprendemos na escola".

Mas também é uma reflexão sobre o nosso tempo, em que a experiência de vida não é considerada, e os mais velhos são considerados obsoletos.

***Do livro Leonardo DaVinci de Walter Isaacson

 

Num outro tempo...

Quando nascemos...não sabemos que há sempre um outro tempo dentro de nós. Não sabemos que um dia seremos órfãos. E que a vida é um divagar de máscaras. Um dia...afastaremos as lágrimas como quem quer ver o mundo. Acordaremos em ríspidos travesseiros desiludidos. E afagaremos a nossa saudade com imensas memórias feitas de espelhos partidos. Lembraremos o que não perguntámos. Não nos lembraremos do que não nos perguntaram. Com ousadia...atiraremos ao vento todas as formas afectuosas. Todos os carinhos. Só para acalmar a nossa insónia. Estaremos partidos. Mas na nossa complexa teia de sentimentos estará a tecedeira alma a avisar-nos do emergente espectáculo da vida. Suspeitamos então...de que tudo faz sentido. De que todas as rosas dos ventos nos esperam. E que a nossa caixa de vidro é feita de um tempo sem retorno. Parti-la é essencial. Assim como é essencial apagar o formigueiro que nos corrói. Depois...começaremos...ousadamente...a perceber que a primeira vez que nos vimos à luz do tempo...foi quando percebemos que já cá não estamos. E que já vivemos num outro tempo. Numa outra face. Numa outra atmosfera. De paz....

Crença...

Nos olhos um astrolábio de cores garridas. Na alma a memória de um minúsculo céu. O espanto espreita por detrás de clandestinas árvores. A morte é uma pele que se arranca da carne. Nas abóbadas cresce a matriz da vida. E nós...de mar em mar. De absurdo em absurdo. Escondemo-nos por dentro de cortinas ridículas. Fechadas. Até que nos chegue o caruncho da noite...e adormeçamos...numa maré de fé que se vai extinguindo.

 

Vivemos suspensos numa anémona de esperança. Descobrimos os ângulos viscosos do sol. A luz entontece. Somos irrisórias lâminas a cortar os dias. Estátuas rasgam-se debaixo dos nossos passos. Fendas abrem-se nas nossas mãos. Arranjamos desculpas. Ténues equilíbrios de quem quer passar sem que alguém o veja. E há uma equação em cada telhado. Uma árvore em cada perdão. Um assumir de culpas em cada equinócio. Febris...afogamo-nos em segredos e em ventos. Suspensos num mastro de velas fendidas...enfrentamos o desafio de sermos. De vivermos. Colhemos flores em goteiras de medo. E enfeitamos os corpos com horizontes longínquos. Somos barco e âncora. Estátua e artéria. E possuímos...na longitude da alma...a crença em....nós!

A saudade...

Já todos os grandes escritores portugueses escreveram sobre a saudade. Contudo, não me coíbo de também tentar exprimir a minha opinião.

 

Mas o que é a saudade? Como defini-la?

 

Para começar, a saudade é um sentimento, mas ao mesmo tempo é também uma forma física de sentir. Sim, a saudade sente-se em cada recanto da nossa alma e do nosso coração. É algo físico e imaterial ao mesmo tempo.

 

A saudade é a separação. A ansiedade. A nostalgia. A tristeza. O fatalismo. Tudo reunido nesta intraduzível palavra.

 

A saudade foi considerada uma das 10 palavras mundiais mais difíceis de traduzir.

 

Mas se a saudade pode exprimir perda e dor, também exprime esperança. Temos saudades do que perdemos, mas também temos saudades de algo que podemos vir a ter. Que é o que acontece, por exemplo, com os emigrantes.

 

Diz-se que a saudade remete para o tempo dos Descobrimentos, embora também se diga que no século XII a palavra já era usada.

 

Assim a saudade é a memória. O aconchego da alma. É o sonho agridoce. É a medida da alma portuguesa.

 

E ainda temos o fado. Que é ao mesmo tempo música,saudade e alma.

 

Para finalizar deixo um poema satírico e doce de Lope de Vega quando visitou Portugal:

 

Um português estava a chorar

E perguntaram-lhe a razão.

Ele disse que era por causa do coração

E que estava apaixonado.

Para aliviar a sua dor

Perguntaram-lhe por quem

Ele respondeu. Bem, por ninguém

Estou a chorar de puro amor.***

 

Belo retrato do português traçado por Lope de Vega.

 

 

***poema extraído do livro Os Portugueses de Barry Hatton

 

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