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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

As "Gretas" portuguesas... e eles também...

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(foto tirada da net)

Eis o perfeito exemplo da asséptica negação da luta pelo ambiente.

Algumas centenas de pessoas bloquearam uma  avenida de Lisboa em protesto pelo ambiente.

Pergunto:

Será que esta gente é capaz de largar os telemóveis?

Será que a maioria deles anda de transportes públicos?

Será que são capazes de prescindir das suas roupinhas de marca?

Será que são capazes de diminuir o seu consumismo?

Afirmo:

Se querem mesmo protestar pelo ambiente não cortem avenidas.

Se querem mesmo lutar pelo ambiente, reúnam-se e vão limpar praias e ruas.

Se querem mesmo protestar pelo ambiente, reúnam-se e vão plantar árvores.

Se querem mesmo protestar pelo ambiente, recusem usar tudo o que seja de plástico.

Se querem mesmo protestar pelo ambiente vistam-se com matérias naturais.

E apostem sobretudo em fazer apenas uma refeição diária de carne ou peixe( isto para os que ainda não optaram pelas "verduras").

Constatação:

Mas se protestarmos assim...não aparecemos na televisão!!!!!

 

O beijo da partida.

Vivemos sempre na indecisão de quem somos. Bagos de areia ou poços sem fundo? Somos iniciáticos seres procurando na conversão do tempo alguma réstia de nós. Uns têm fé...outros espreitam pela abertura dos fogos a sua própria aflição. O seu desapego. São espessas essas lareiras onde se queimam os dias. São intrincados labirintos que se enrodilham em volta da nossa vontade de fender a vida. A verdade é que somos profanadores de brilhantes e incompreensíveis vontades. A nossa vontade. E a vontade de quem não possui nenhuma vontade de estar connosco. E também a nossa vontade de não estar onde não estamos à vontade. É misteriosa a forma como vivemos. É como se estivéssemos sempre com o corpo retesado. Pronto a saltar. Só não percebemos para onde nem porquê. Somos os embaixadores dos fascínio. Somos capazes de matar e de afagar os cabelos de uma criança. Contemos a respiração. Sentimos que alguém...algum dia...virá ao nosso encontro. Esperamos a tempestade e celebramos com versos a alquimia das palavras. E não há um único momento em que não tremamos...com o medo desse vazio que se apodera de nós. Esse vazio chamado... beijo da partida.

O mais pequeno ser vivo.

Perguntam-me como estou...ou como vou. Eu sei que isso não é mais que uma pincelada de educação. Que ninguém quer realmente saber como estou ou como vou. E eu também não! Porque eu não estou nem vou! Eu sou! E além disso não tenho mais nada a dizer. Às vezes estas perguntas chateiam. E eu.. por vezes... sou incapaz de responder. Evito responder. Acho absurdo responder. Perguntarem-me como estou ou como vou é a mesma coisa que olhar o infinito. Olhamos e pronto. Ele lá está. Agora só falta dizer que o infinito não tem fim.

 

Outra coisa de que não gosto é de falar do tempo. Engasgo-me sempre com a inutilidade deste tema. Pois se toda a gente sabe como está o tempo...acho que é o mesmo que dizer que um morto está...morto. Ou se a chave daquela fechadura abre mesmo aquela fechadura. Depois...há coisas estranhas. O frio da tarde por vezes arrepia-me. Há poemas que também me arrepiam. E outras vezes fico arrepiado por ver que há pessoas com dificuldade em ser...pessoas. Umas são aranhas. Constroem teias em volta de si. Outras são pequenas libélulas a esvoaçar em descoordenados silêncios. Mas o que me deslumbra mesmo...é que o mais pequeno ser vivo possui inteligência. E o ser com maior inteligência é...por vezes... o mais pequeno ser vivo.

Comoções

Nota prévia: hoje encontrei na rua alguém que muito estimo e não resisti a publicar este texto.

Hoje encontrei-a na rua e ela disse-me . - já só desabafo com o espelho! Doía-lhe a perna. Ou seria a dor da solidão a acrescentar a dor à perna? Como podemos compreender a cinza que cada um tem dentro de si? Há tanta teologia nuns olhos vagos.

Dentro de cada um está uma superfície e um rasto. Um sofismo ou um espasmo. É a idade a flutuar nuns cabelos brancos. Pintados de louro. Onde assomam algumas raízes brancas. São as raízes da desordem interior. São a contemplação da dissolução do que foi belo. O medo transfigura a luz. A realidade é um instante dissolvido nas tardes. Tem que haver alguma glória na vida! Tem que haver alguma Razão na grandeza da vida. Mas...já só desabafo com o espelho! Esta frase diz-me como tudo acontece. E o meu pensamento enche-se de desertos. Rio-me para ela. Rio-me para disfarçar a secura que um dia virá. Secura de todas as coisas que mesmo com um espelho...desaparecerão. Rio-me para disfarçar o gelo que oculta o meu riso. E ela...já só desabafo com o espelho! E para além da complexidade e da simplicidade de tudo o que é absurdo...encontro uma subtileza em cada palavra. E sinto a brutalidade da pequeníssima lágrima que lhe assoma aos olhos. E sinto a nodosa brutalidade da vida a desnudar-se naquele sorriso triste. E eu..ali...em frente a ela. Eu ali...a alimentar a minha fome de compreender a imperfeição da vida. E ela...quase diáfana. Quase imaterial. Quase longe. Ela aflita. Será a minha última dor? Será que ainda terei mais dores? E tudo isto dito num tom de perfeita sintonia com a dor. Tudo isto dito com uma comoção de quem sabe tudo...o que virá.

 

Como quem desfralda a vida.

É possível que um dia acorde e sinta que me falta qualquer coisa. O som de um sino antigo. Ou o grasnar de um corvo. É possível que me ponha na sombra e me deixe flutuar como um altiva ave. É possível que cisme na minha indolência. E não me espante com a acalmia do mar. É também possível que sinta que a minha salvação está em imitar um girassol. Entretanto...mastigo a minha falta de jeito para andar dobrado. Prefiro descruzar as pernas e andar sempre distraído. Como se todos os dias fossem mais ou menos uma inauguração de mim. É possível que solte um desabafo e ache que o melhor é viver numa cabana. Como um monge imperial. Ou com a teimosa tendência de achar que os ciprestes são árvores de rapina. O Van Gogh é que gostava de ciprestes. Eu também gosto!Acho que são árvores que descrevem o enigma escorregadio das nossas vidas. Ou o céu dos descrentes.

 

Jamais sentirei que uma coisa me faz falta. Sou auto-suficiente. Abasteço-me com o meu assombro ou com a inteligência das formigas. Acho que sou mesmo uma formiga. Estarei enganado? Possivelmente! Talvez um dia... que ainda há-de vir ….compreenda porque envelheço. Até lá...só quero saber dos lunáticos espasmos do horizonte. Penso no que haverá dentro de uma pedra fechada. De uma mão fechada. De qualquer coisa que esteja fechada. Como o coração, por exemplo. A chuva faz florir as flores. A geada queima-as. Afinal há sempre uma enorme espada sobre a nossa cabeça. E há as ruas sujas. Tão sujas que até apetece cambalear por elas com sulfúricos passos enviesados. De repente...sinto uma mão crispada. É o universo a alertar-me para a ternura delirante dos dias que se refletem nas folhas das árvores. Mas eu....herdei o sobressalto. E caminho de olhos vidrados. Como quem desfralda a vida.

Halo de esperança

Cai sobre as profundezas da rua um sol amargurado. Alguém passa como quem forja um incontido desejo. A sua sombra vagueia pelas esquinas. Mas ele segue. O céu até podia incendiar-se. Os dias são tentáculos. As leis divinas são ruínas apologéticas. Contudo os homens continuam a arar os campos. Continuam a fazer companhia à pureza do fogo. Continuam a escrever canções. Ardilosos caminhos levam-nos a encontrar rumos. Mesmo onde os rumos não são mais que poemas de amor. Esses rumos que são consequências. Que são pequenos campos plantados de lírios. Que são pés descalços e solenes promessas.

 

Estender os braços e tocar onde não somos ninguém. Respirar os lugares. E se tiveres uma casa vazia...então...adorna as paredes com caleidoscópicos destinos. Escreve nessas paredes a tua filosofia. Uma simples pedra pode ser uma mesa. Uma simples razão pode irrigar toda uma vida. No interior da tua imperfeição há uma vaidade de luz. Uma original inconsciência. E...uma suave candeia que brilha na tua secreta existência.

 

Sempre que vejo dissolverem-se os limites do dia. Inclino-me perante a majestosa mensagem da vida. E sinto...que um pacífico halo de esperança me toca a alma.

 

Aos amigos que não esqueço...

Já sabemos tão pouco uns dos outros. Já nos perdemos tanto dentro de nós. Resta-nos o tempo que passámos juntos. Resta-nos a agonia de não nos vermos mais. E restam-nos as proezas que fizémos e as alegrias que tivémos. Sabemos que não é possível recomeçar. Já não podemos pegar nas noites e nas fogueiras e reinventar um só desses momentos. Agora...possivelmente...jantamos em varandas sobre o mar. Perdendo o nosso olhar em horizontes implacáveis. Agora...voláteis risos espreitam na nossa penumbra. Dissipada toda a possibilidade de os renovarmos. Sentamo-nos em subtis desejos de silêncio. E também já não queremos voltar atrás. Sentimos que a nostalgia nos faz bem.Que nos ajuda a viver. Ah! A nostalgia. Esse tecido fino que nos cobre a alma. Esse fresco na nossa pele. Essa cerzida claridade que se propaga em todas as nossas direcções. As nossas reflexões são densos frios a evoluir num áspero desejo. Sentimos que há um enigma na distância. Sentimos que tudo foi um ar que se rarefez. E que a nossa ausência também pode ser um encontro. Com as nossas memórias. Com a sufocação dos dias. Com o enigma da absoluta vitalidade das coisas que vivemos. E sobretudo...com a dissolução da realidade. Porque quando estamos ausentes. Porque quando os outros estão ausentes. Alcançamos a infinita paz de saber que ainda temos lembranças. Que ainda ouvimos na vasta noite o crepitar das vozes. Que tudo o que vivemos tendo sido tão real...toca os limites da irrealidade.

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