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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Breviários# 2 ....final

Breviário XII

Há a noite...um sorriso...um espanto

A floração da luz acompanha os passos da lua cheia

Iluminando as trevas dos pátios sombrios

E os gritos roucos que cintilam nos frontões da alma...

Breviário XIII

Distraídos pensamos que o futuro ficará connosco

E na luz que alumia os nossos medos ...acreditamos nas cartas dos oráculos

Mas o tempo está morto...afogou-se na respiração das horas

É uma formiga-de-asa em delírio...voando para o êxtase do céu.

Breviário XIV

Vejo espelhada no céu o voar das pombas brancas

Asas que nos vêm absorver

Sei que os barcos deslizam ao longo dos canais

Acredito na candura de um céu lívido...

E na rósea aparição do dia que desperta nas brumas dos anjos

A campainha dos desejos insanos.

Breviário XV

Um dia veremos que o tempo é como um berço onde embalámos as nossas esperanças

e que as tardes e manhãs em que acreditávamos...

eram a memória da absoluta astúcia das horas...

mas nessa altura já submersos no desengano...

resta-nos a poesia da dor universal.

Breviário XVI

Por detrás de mim a primavera

O receio do mar já desistiu de se espelhar no alvorecer

Na paisagem apenas ondula um vestido de gaze branca

Silêncio...o teatro vai aturdir os incautos...

 

Breviário XVI

Guarda as tuas penas no vento...e as tuas alegrias no coração...

 

Breviário XVII

Não quero a salvação...só quero rasgar o véu que me atafulha a alma....

Canto-te!

As minhas palavras ficarão perdidas neste montado de sobreiros feridos...

Tal como nos rostos adormecidos... há distâncias imperturbáveis.. .corações secos

Apagados pela chuva que lentamente se esgota nas tardes sofridas das marés

E nas plantas residem os lamentos das almas... veias doces... águas feridas... chagas

Sim... sentirei a tua pele a insinuar-se dentro de um tempo que tritura as tardes

Sim... continuarei a ser a saliva impossível das cidades... a límpida solidão coralina

Escuto todos os lamentos... sei que os dias são tão iguais como sempre foram...

E sou teu... no sono enfeitado com luas prateadas... habito....

No ventre líquido da ternura...canto-te!

Solitários

Explodem grinaldas como bandos de pássaros que esperam a sua própria cor

O céu é uma recordação de águas profundas... um gosto... uma vida...

Na curva do verão iremos dormir junto de todos os tempos..

Suspensos na asa branca da lua... tomaremos todas as formas...desapareceremos

E nas nossas almas veremos os dias despidos... os corpos enfunados... repetidos

E o vento? A quem fustigará?

Que aves dormirão na sua profundidade? Que sonos recordarão?

Há curvas e curvas perdidas na suspensão das horas...

Regressos adiados presos em árvores solitárias...

Enquanto nos campos se deleitam universos paralelos

Adejam sensações de límpidas águas... e tudo desaparece no nosso sono...

Depois... na berma do tempo encontramos a prisão do corpo...

Olhos de côr violeta-fingida despedem-se de nós

Despidos procuramos a nossa pele... a luz branca perde a forma... e nós cantamos...

Como pessoas que dormem em sonhos de animais... ali estamos... invernais..

Solitários como gritos no vazio... ou como pedras atiradas por um louco....

 

 

Rua deserta

De que falas quando falas de uma negação de ti? De que falas quando falas de um passado onde ninguém já passa? Que vês quando do inútil vazio despontam rasos espasmos de luz? E quando vês uma flor murcha? E quando os sinos dobram os espaços? E quando os vitrais tecem metafísicos encontros? Ali estás tu. Orgulhoso. Inutilizado. Como uma linha de horizonte vazio.

 

Em ti se escoa a velatura da existência. Em ti se instalam os claros silêncios. Sumidos futuros. Ocos rebentares de nadas. Testas a tua queda num vazio de deuses carnívoros. Traças rotas perpendiculares a ti. E sentes as incrustações da espuma. Imaginas que ninguém te vê. Cobres-te de um pó opaco. E sentas-te na borda de um universo distante.

 

Entre o espaço de uma janela e uma rua deserta há uma síntese de medo. Do chão erguem-se felicidades que ninguém procura. Invisíveis pesos agarram-te ao solo. Incerta é a escuridão. O passar dos séculos revela verdades universais. Na tua boca entra o sabor de uma génese metálica. Olhas o limite da tua imagem. Dás-te conta da angústia espelhada nos túmulos. E... sabes que só te falta...viver.

Breviários

Breviário I

E como se tivesse subido a um tempo feliz e inocente

toquei com a ponta dos olhos no mar...

Breviário II

Infinito... o sol beija o meu corpo abandonado à brisa

as horas correm no canto das aves

e o tempo pára dentro da minha alma.

Breviário III

Espero que a madrugada se erga por detrás das colinas

vejo o vento que empresta a sua força às vagas

e sei que tenho um dia inteiro para caminhar pelo sonho adentro.

Breviário IV

O nosso presente é sempre o fantasma do nosso futuro...é um entrelaçar de dias e emoções... que culminarão no dia em que a nossa luz se apague...

Breviário V

Os passos que conheço são vestígios imaginários das ruas da cidade inexistente...

por isso os meus olhos se colam à sedução de um destino inesperado...

Breviário VI

Cintilante o vento fingia que trazia em si a imagem das palavras

Ao longe as vagas no oceano rugiam...

E fulgurantes pensamentos atravessavam as minhas mãos destapadas

Como se fossem rostos que por mim subiam.

Breviário VII

Vive em mim a espera de um passado errante

Divido os dias para além de mim

E tu és o êxtase..

O vento que fustiga a alma com uma dor cantante

Um amuleto que uso sem nada possuir

E em vão persisto em ficar aqui.

Breviário VIII

Um barco saltou pela minha janela..ancorou na planície para além da maresia

O seu rumo eram outras terras...outro escoar de manhãs

Um chão pequeno que o ouvisse...uma pele sem remorsos

Mas a aurora encontrou-se com o lodo...e o rio ficou feliz.

Breviário IX

Deixei para trás as coisas que me devoravam...agora o tempo amansou

Mas continuo a tactear os dias..

Como um adolescente deitado sob árvores frondosas.

Breviário X

Era o fogo da cegueira a erguer-se...nostálgico

Eram imagens que devoravam o tempo do esquecimento

Vestígios de memórias encravadas em nós

A erguerem-se do mais profundo sopro do nosso peito.

Perdidas...como a lisura dos espaços desertos.

Breviário XI

Nada nos separa das pedras...

Porque do promontório vê-se a distância onde o nosso olhar se encanta.





Neblina

Um homem escuta o seu interior...ventrículo...aurícula... os dias crescem dentro dele

Corre... a neblina vinga-se do dia... distorce as suas faces...

E o homem desliza como um bailarino... bardo ressequido... poeta da floresta...

Foge... o vazio persegue-o... o vento é a poesia do ar ...

Talvez uma melodia o recorde... que nas praias rastejam partículas de sóis doirados

Sempre luminosas... sempre iluminadas....

 

Partículas

Pintam-se as fachadas... uma nuvem abraça o mundo... distorcidos braços incendeiam-se

Das árvores sopram vagas de folhas... como homens caídos... sintéticos... desavindos

As cores absorvem a neblina..é outono... paro... o vento restolha.. vagueio

São outras as minhas cores... é outro o meu sol... escuto o ruído ressequido das oliveiras

O mundo desconhece a minha melodia... a minha dança acrobática... a minha escala

Algures... na floresta vivem homens nus... outros vestem folhas... verdes

As aves agitam-se como melodias inacabadas... o céu espera... o verão adia as nuvens

Nos passeios soam violas... Bob Dylan renascido... a fala da vida a desfazer-se em vento

Nas margens do rio dançam pedaços de madeira... lixo de outros lugares

Mulheres passeiam... amarelecidas pelos dias procuram a grinalda... a máscara... a névoa

O vento esqueceu a poesia... o ruído rasteja pelo medo... acre... alma... fascínio

Sigo para dentro da chuva... acalmo a morte...

Arquejo perante os relâmpagos... não os temo

E sento-me sobre a minha brisa... como se fosse um punhal que corta o mundo

Deslizo para dentro de mim... descanso... enfim.... tornei-me uma partícula de nada!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Inquietações

Sentou-se em frente de uma moldura desbotada. As arestas do tempo a ferirem-lhe as saudades. Inesgotável apelo a outras eras. Duro renascimento de ventos áridos. O tempo...tela de instantes passados. Fonte de frágeis sonhos. Sonhos que tocam na aridez da carne...como quem anda sobre luzes de pedra. Finitas na sua magreza dura. Puras na sua dureza íntima. Ferozes na sua intrínseca vontade de o moldar. Por instantes sopra do seu universo uma vontade de se revoltar. Longínqua paz de eras perdidas. Aceno de ventos estelares. E toda a vida ali...num sorriso de blasfémia. A morte a assomar ao seu deserto. Levantou-se. As ruas esperavam por ele. Pela sua pálida imagem. Pelo seu estéril esquecimento. Pelos seus passos mecânicos. E foi...como quem não volta.

 

Ignorava a sua condição de pessoa. Era mais um à procura de uma ideia de si. Ou de uma ideia de uma ideia de si. Todos os seus pensamentos esbarravam naquela parede. A vida não se justifica. A vida esgota-se no seu próprio desinteresse. Gostava de se enredar em absolutos. E gostava da facilidade que sentia na falta de sentido das coisas. Afinal era fácil perceber o absoluto. O absoluto é um rasto de tempo que nos arrasta. Ou um desgaste de tempo que nos desgasta. Uma fantasia. Ou um toque de alarme. Ou a fatigação do coração. Que vive na clandestinidade forçada do homem. Que vive na aparência de uma luta. Que travava consigo e com a fragilidade de uma inquietação.

 

Cidade

Percorro a cidade e afasto-me das colinas que a vida usa para esconder as recordações

A brisa é uma máscara que o fascínio expõe aos meus olhos...

A voz rastejante do vento

Acre tilintar de nadas... grandes nuvens...

O chão é um quadro negro... uma mescla de passos e música

Todos os sopros são caminhos sem norte...

Braços angelicais a abraçaram guitarras tristes

De longe vêm os tempos sujos... o mundo mancha o deslizar das coisas...

Sinos de embalar exalam a nossa imperenidade

Alguém se baba pelas esquinas... a morte está a leste...

A rota existe na recordação.

 

Anjos emancipados... manchados de sangue...

Imploram pela costa acobreada do entardecer

Querem que escutemos os punhais que varrem o ar...

E as liliputianas mensagens que repicam na sombra

Como distantes abraços de ridículas ervas-vida...

Arquejantes... como folhas trespassadas por relâmpagos

Os nossos corpos  afastam-se... cada vez mais... sempre mais...

Como a luz...

Ou como fragmentos de areia espalhados pelo universo!

 

NÃO AO MONTIJO E NÃO A ALVERCA!

IMG_1895.JPG

Um grupo de sábios,(sábios?), veio apresentar o seu projecto para o novo aeroporto de Lisboa. Esse grupo de sábios,(sábios?), concluiu que o Montijo não é o local certo para o novo empreendimento. O local adequado é....Alverca. Opinião defendida por outro sábio,(sábio?) Pedro Santana Lopes.

 

O grupo de sábios, (sábios?), diz que entre Alverca e Portela, se podem movimentar 75 milhões de passageiros/ano.

 

O grupo de sábios diz que há muito espaço para crescer.

 

O grupo de sábios diz que é só construir uma linha de comboios rápidos.

 

O grupo de sábios acha que se podem encafuar 35 milhões de passageiros/ano em Alverca.

 

O que me parece que o grupo de sábios não sabe é que toda a zona envolvente de Alverca já é um caos com o trânsito. E saturada em termos populacionais.

 

O que me parece que o grupo de sábios não sabe é que pode construir na lezíria que vai de base aérea até ao Tejo, (mas falata-lhe o espaço para acolher todo o movimento de mercadorias e passageiros),onde nidificam cerca de 300 mil aves. E é parte da Reserva Natural do Estuário do Tejo. Reserva que os aviões teriam forçosamente que atravessar, para aterrar, com todos os perigos que daí advêm.

 

O que me parece que o grupo de sábios não sabe é que Alverca já não pode crescer mais. E que seria um pandemónio se se viesse a verificar o aumento de tráfego automóvel. Uma vez que N10 não tem capacidade de escoamento já hoje, e a A1 já está esgotada, quanto mais com um novo aeroporto. A solução seria a de construir uma estrada sobre o rio...(é para rir)...:)))

 

Quanto ao comboio rápido, se hoje as 4 linhas já são insuficientes, e não há a possibilidade de acrescentar uma nova linha, porque não existe mais espaço lateral. A não ser que construam uma linha aérea.(é para rir)...:))))

 

O que me parece que o grupo de sábios não contempla é a saúde mental de quem vive nesta zona. Que iria ficar sujeita a valores de ruído(poluição sonora), incompatíveis com a sanidade e qualidade de vida dos habitantes. Estes teriam aviões pela frente (Alverca),e por detrás(Portela), a levantar e a aterrar de 2 em 2 minutos, ou menos.

 

Mas o que verdadeiramente me incomoda, é ver, (e conhecer), um aeroporto que está praticamente pronto a funcionar. Ou pelos menos com muito menos despesa e impactos; ambientais e saúde, e ninguém o sugerir. Claro que falo de Beja.

 

Beja é uma região carenciada, e o aeroporto dar-lhe-ia uma nova vida. Em Beja sim, bastava construir uma linha férrea para comboios rápidos e tudo se resolveria.

 

Assim...

  • NÃO AO MONTIJO E NÃO A ALVERCA!

  • NÃO AO LOBBY DA VINCI!

     

Aos sábios,(sábios?), não desejo mal. Apenas que viessem viver para Alverca, caso o seu projecto de aeroporto fosse implementado....

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