Para lá do tempo
Para lá do tempo existe a primavera... as árvores esculpidas... as chamas negras...
Pelas paredes esgueiram-se sombras...desertos floridos...luzes cintilantes... tosses secas
Para lá do tempo circulam as águas cristalinas...as geometrias despidas...
As salas de espera
E lá estão as filosofias gregas... as vastas esculturas decrépitas... as prisões da luz...
Para lá do tempo a pólvora aguarda a sua hora... os mares que entrarão nas casas...
E os recifes que exibem a sua espuma.
Para lá do tempo existem as janelas... os vidros baços... as bocas que se beijam...
Os tectos onde os silêncios se escondem... as decisões abstratas... as rochas eternas..
Para lá do tempo existe o fogo... as facas que cortam os dias de fumo... o ar....
E um dia seremos a energia atómica... a luz dourada... a combustão da dor...
Dentro dos buracos negros vivem os ecos dos dias espatifados... bíblicos rancores....
Como sombras enclausuradas num sol escuro... somos nós!