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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Centopeias...

Deslizamos subtilmente pela superfície dos dias

Como centopeias... gostávamos de ter cem patas...

Mas não somos centopeias...

Temos dois braços e duas pernas

Mas como centopeias deslizamos sem deixar marca

E fechámos as ideias num horário

Esquecendo que havia um intervalo para pensar

E..imprevistos seguimos...de consciência vazia...

Somos inconsciências vazias...

Vivendo no vazio dos dias...desfeitos....segmentados...

Desfeitos em bocadinhos...

Um bocadinho de paz aqui...

Um bocadinho de amor ali...

Sem atitude nem reflexão...

Seguimos com pressa...sempre mais depressa...

Porque nos esquecemos onde fica a meta...

Essa meta que reside no esquecimento trivial

Da incapacidade para descobrir...

O nosso próprio vazio!

Eu não me penso

Não me penso, vivo confortavelmente com os meus defeitos e as minhas qualidades. São em mim tão naturais como o sangue que me corre nas veias ou o ar que respiro. Como me poderia pensar.. se sou eu? Como me poderia preocupar com quem sou, se sou! Depois...temos os outros que nos pensam, que opinam sobre nós, e devemos saber que haverá tantas opiniões sobre nós como o número de pessoas com quem nos relacionarmos.Mas...como pode alguém opinar sobre nós enquanto Seres Humanos? Como pode alguém achar que sabe quem somos? É tudo ilusão meus amigos, por isso não vos penseis, e deixem que os outros vos pensem, mas sigam o vosso caminho prazenteiro, porque ninguém pode fugir de si. E e só por isso se é alma e corpo, e as opiniões exteriores são todas iguais, não valem nada.

 

Água rasa...

Falta-me a manhã que se empoleira na árvore. Falta-me a doçura de uma eternidade. Falta-me a hora e a majestade de uma dor. E falta-me desfazer-me em espuma... enquanto escuto o vasto lamento do amor. Ser eu mais um dia. Construir mais um dúbio sinónimo de um dia. Sentir o insignificante suicídio de um dia. Subir a tormenta que me assoma. Sentir um desabafo em cada estrela. Atirar uma pedra à sucessão das estações. Insultar tudo o que me pesa. E jamais...jamais necessitar de passaporte...para te amar.

 

Sentir uma mínima dor. Atravessar a luz. Desfazer o meu equívoco. Matar a claridade e sobreviver ao gélido plasma do medo. Ser sólido como um relógio sem tempo. Ser o templo onde tudo se resolve. Um templo sem mistério nem lembrança. Afável. Nunca esquecer as pedras e as pegadas. Descobrir nos séculos velhas confissões de estradas. E saber que não há sagração na morte. Mas que há...apenas...uma água rasa e calma...onde nos abandonamos...

Germinação...

Germina fulgurante sombra...cresce nesse sentir de lua gelada

Já não me espera a humidade corrosiva dos dias

Já não me arrasto para a cave entumecida

Agora perco-me num jardim de rosas estioladas

Agora furo o tecto do mundo

Bebo os rasgões subterrâneos da alma

Até que a minha carne ensanguente o frio do inverno

Até que em mim cresçam a vozes do inferno

E eu sacuda esta lama de fogo...que me aquece

E me perca em cada encruzilhada.

 

Profunda voz que doira a ácida tarde

Opaca asa que desperta na agudez dos gritos

Impaciente ausência...oco despertar

Quando de súbito...as aves se erguem e deixam um rasto no céu

Eu oculto o meu acordar...

E levito na ardência do meu nevoeiro...do meu respirar...

CÂNTICOS#3

 

Cântico 7

Nos moinhos que já não aproveitam o vento

Vivem agora lagartos de côr azul e verde... Metálicos

Como o exílio geométrico de uma tarde em declínio...

Espelhada na vertente de um céu cerúleo.

Cântico 8

E foi assim que procurei dentro das aves o sonho perdido

O sonho que desliza pelos confins dos campos cobertos por trigos doirados

Seara de astros ondulantes que me recordavam presságios de dias prometidos

Mas agora que renasci dentro de uma madrugada...

Como se tivesse saído de um sarcófago feito de espelhos

Agora sinto as tuas mãos...

Como locais secretos onde a saudade se abandona.

Cântico 9

Vejo o lentíssimo tempo cair sobre a solene duna

Pelas vagas deslizam ilhas e pássaros galácticos

É o silêncio...o sabor a algas...a falésia fendida pela lembrança da tua voz

E neste espaço incomensurável de um tempo sem nome

Adormeço sob a pureza da libertadora voz do mar.

 

 

Processar a dor...

Explode um inferno na tua cabeça. Queimaste as tuas asas em fogo de inverno. Tinhas o medo e o veneno. Um dia...deste voz a todos os anseios. Diluíste os teus dilemas. Deixaste de ser uma débil construção de ti. Ergueste-te. Sabias que estavas errado. Que vivias na obstrução da felicidade. Mas querias ser sincero...e não uma caricatura de ti. Então...olhaste e viste como a lágrima que cai se renova. Como a manhã salva a inquietação da noite. Como poderias arrancar o espinho. Destecer a encruzilhada. E distribuir-te pela vida. Soubeste que de nada vale uma ânsia. Mas querias submergir. Saber qual a importância de uma ofensa. Descobrir a grandeza de uma pose marcial. Uma pose de ti que os outros não vejam. As memórias insinuavam-se como figurinos da dor. Sabias que o cansaço do inferno deixa um rasto na alma. Algo assim como uma alameda de árvores decrépitas...sem folhas nem frutos. Mas afinal...apenas querias rebentar essa bolha secreta. Essa dor secreta. Essa apologia secreta do sofrimento. E sorrir...como quem instaura um processo ...à dor!

Aceitava receber menos 20% do seu ordenado?

Um funcionário feliz é um funcionário produtivo. Esta máxima nem sempre é aplicada pelas entidades patronais, mas há alguns bons exemplos. Já há em Portugal, algumas, (poucas), empresas que estão a praticar horários de trabalho reduzidos. Essas empresas deixam ao critério do trabalhador quantos dias por semana querem trabalhar. É óbvio que o salário é auferido em função dos dias de trabalho realizados. Uma empresa alemã,( é na Alemanha que este sistema é mais aplicado, sediada em Matosinhos, permite que quem quiser pode trabalhar apenas 4 dias por semana, mediante uma redução de 20% na massa salarial. Sabemos que nem todos podem viver com menos 20% dos rendimentos, mas há quem possa, e não tem a hipótese de escolher o seu horário de trabalho. Outra possibilidade que esta empresa dá é a de , além de conceder 28 dias úteis de férias, os empregados ainda podem tirar mais um mês, claro que é sem remuneração, mas o mais importante é ser dada essa possibilidade. Outra vantagem deste sistema é que permite poupanças no consumo de energia, e aumento de produtividade. A filosofia base deste sistema é que as pessoas não tenham um horário das 9 ás 17horas, e não estejam no seu local de trabalho, tenham ou não tarefas para desempenhar.

 

Quer queiramos ou não, esta será a forma de trabalho do futuro, uma vez que a robótica eliminará postos de trabalho. E os empregos que houver terão que ser divididos. É como se houvesse falta de água e esta tivesse que ser racionada. A diferença é as pessoas terão muito mais tempo livre para se ocuparem dos filhos ou realizarem tarefas que as satisfaçam.

Sintonia...

Pegar no mundo com mãos de sonho. Habitar a irregular linha do destino. Fazer de cada paradoxo uma descoberta. De cada descoberta uma perfeição. E ter febre. E gastar as horas. E inventar um artifício. Uma idade. Uma idade depurada. Paralela a uma metafísica. Onde dança uma ordenada ordem de caos e perenidade. E sentir a renovação silenciosas das árvores. A recordação perfeita de um riso. A divina harmonia das luzes. A dança exótica de um amor. A submersa paz do recolhimento. A imutável sintonia de um olhar. O corpo que morre...lentamente....

 

Temos a urgência de um prazer. Temos o vício de encher as horas. Temos um espaço que fica entre a nossa submersão e o nosso labirinto. Entre a nossa angústia e a nossa abstracção. Entre a nossa primordial vontade de caminhar e a nossa inóspita resignação aos dias. Entre o preço que pagamos e o bafo das vozes antigas. Sempre e relembrar-nos de sinos e de sinais. De evidências e de vibrações. A tudo o que nos leva ao lado de cá das coisas que não entendemos. E assim nos consumimos...como um fácil bafo de vento.