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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Imaginação....

Neste tempo de suor pousado na testa das estradas

Neste caminhar suado pelos restos de um céu sem tempo

Vagos mistérios erguem-se nas sombras

O tempo arde numa pira de desesperos

A terra permanece para além dos ouvidos dos astros

A Via-Láctea percorre o nosso corpo encrespado

E nós...a viver como se percorrêssemos as algemas do mundo

Sabendo que a nossa imaginação

É um pingo de cinza no interior das casas

Que um dia o vento levará....

 

O nosso tempo...e as prestações bancárias.

Quase todas as pessoas dizem que não têm tempo, quando afinal dispõem dele todo, o tempo de cada um é só dele e é ele que deve utilizá-lo como lhe convier. Hoje dizer que não se tem tempo para nada é um lugar comum, uma forma de se fazer “ importante “, quando o importante é ter tempo e poder dispôr dele. Construímos a nossa sociedade em torno do tempo, somos monopolizados por ele, e hoje, não só vivemos mais tempo, como vivemos a maior velocidade, velocidade essa que sendo contranatura, nos desgasta física e psicologicamente. Com as novas tecnologias passámos a ter máquinas que nos aliviam o esforço para ter máquinas que nos escravizam. Passámos do tempo em que produzíamos o que consumíamos, para um tempo em que a propaganda e o marketing, nos criam necessidades que não temos devido ao excesso de produção, e é esse excesso de produção que origina o consumismo que nos está a escravizar, a roubar-nos a alegria, a paz, (uma vez que estamos sempre a ser consumidos pela ânsia do consumo). O nosso tempo único de uma vida que devia ser utilizada em actividades que nos dessem prazer É usado em preocupações com prestações bancárias..

 

Segredos...

I

Alheio aos prados desenho segredos nas folhas dos cardos

II

As luas azuis prolongam-me os passos

Num delírio de sol espreito o mundo

Teço sonhos ...em brocados de sede

Tenho a fome dos lobos acenando aos ventos.

III

Nos limites do frio esvoaçam flores

Nas gotas de orvalho se despem estrelas

O maior segredo destas as algemas

É ser feito de palavras que se tornam poemas.

Entre dois tempos

Entre dois tempos caminhei

Desfiz a manhã em múltiplos espaços

Parei...quando a luz do sol me apalpou o rosto

E tudo se tornou tão simples...

 

Agora sei que um lençol de seda me espera no azul do vento

Agora sei que uma febre de rosas me despertará do sabor acre dos dias

Como se caminhasse em direcção a uma porta entreaberta

Onde a pura imagem da sombra me espera...

Caminhos de nuvem

Quem voa por dentro da sombra lenta de um pássaro

Sabe que o medo é uma ideia de fim sem começo.

 

Aos olhos da vida todas as coisas se reduzem a cinzas

Aos meus olhos todas as coisas reluzem num bailado de estrelas.

 

E se repito muitas vezes este sussurrar de luzes

É porque na minha boca cantam pássaros esfaimados.

 

Há um frio severo em cada flor

Há um eco de mundo a reluzir nas paisagens

E há um caminho percorrível pousado em cada nuvem....

Flores de terra

E aqui estamos...

Com serenos corpos a cavalgar a desenfreada busca dos dias

Ou como facas que buscam a carne imprópria para viver...

 

Oculto os meus olhos nas dobras de um sol de incenso

Nas minhas mãos crescem almas e flores de terra

Nas minha mãos floresce a negação da minha estéril passagem

Porque à geometria da noite me afeiçoei

E no claro sopro do vento me despi

Como um esteta que renega a sibilina face da morte.

A face dos céus

Da boca escorria a pele dos sonhos

Os dedos desencontrados traziam algas na memória

A dor perfurava o desenrolar das ondas

E eu vibrava...como uma estrela diluída numa maré de silêncio.

 

De mim caíam pequenas chagas

O vento tombava nas minhas mãos

Arrastava o meu corpo no lastro da manhã

E eu repousava na clara luz da tua face.

 

Desembarco a minha voz na palidez do mar

Pouso os meus receios num liso nevoeiro

Regresso...à ausência da minha própria memória.

 

Divido-me em fantásticos espectros cristalinos

Que só a lonjura das planícies reconhece

E só num golpe de cinza se libertarão.

 

Quando entro nesse ritual de luminosos sóis

Esqueço a decepação gelada do mundo.

E tenho pena...

Da pobre geada a morrer na alegria do sol

Que cai da face perdida dos céus.

Falésia

Enquanto me perco nas costuras das ruas

Aproveito o largo céu para sorrir...

 

Avanço sobre o promontório onde a luz se despede

Deixo a minha sombra nos rochedos

Bebo o sangue das falésias

E abro o peito sobre a noite que cresce no mar.

 

Antes que o tempo caia na obscuridade da lua

Antes mesmo que o vento me povoe a alma

Construirei um destino com os olhos que caem no fogo das emoções

E depois...terei um pensamento limpo

Povoado por céus que espiam a minha escuridão...

 

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