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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Perfume

Que se passa contigo minha aurora desenfreada?

Meu perfil de espera...minha caminhada

Meu sonho de menino a crescer...

Em espiral ilimitada....

 

Um secreto perfume percorria o inverno

Musgos cresciam na despovoada tarde

As chaminés definhavam numa névoa de fumo

Tudo fazia lembrar o frio secreto das janelas

Onde brancas nuvens se espelhavam

Como retratos de pálida paz.

 

Rente ao mar...com olhos de renascer

Fecho-me num sol...agarro nas crinas das algas

E lá sigo...rasteiro...como a luz do farol sobre as águas.

 

O exílio das palavras cresce nas areias

Busco esse tempo que cai a pique sobre o frio

Em cada recomeço uma carnívora sensação

De estar a fabricar um mundo impossível.

 

Falo de um tempo feito em ilimitado firmamento

Falo de um mapa sonolento

E de um clamor de insónia...

A percorrer o nebuloso silêncio

Do suão que passa em magníficos luares

Do pasmo das abóbadas de sombra

Da carnificina dos corais

Que paira no desânimo da noite.

 

O meu primeiro livro

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Pois é caras/os seguidoras/es aqui está o meu primeiro livro. A pesar de já ter bastante material publicado em antologias e coletâneas, foi com alguma reserva (mental) que me abalancei a publicar. Este livro de 120 páginas reúne poemas que escrevi já há algum tempo.

Fica aqui um pequeno "aperitivo":

 

Hoje saí à rua...e vi que as horas não passavam de estrelas

Caminhei junto ao rio...esperei pelas rugas...contei-lhes histórias

Disse-lhes que é fácil ser feliz...basta abraçar e acariciar os grandes espaços

E que é facilimo ser herói...

Quando a dor é apenas um estranho assombro a enfrentar os dias

A sair dos dias... a corroer a pele dura e calejada das tardes

Mas não há infelicidade que não murche...

Quando há mãos que não desistem das carícias.

Querem ler o livro? Para mais informações aqui está o e-mail:

aventuraedesventura30@gmail.com

A diferença entre os que são contra e os que são a favor da despenalização da eutanásia

A diferença entre os que apoiam e os que são contra a despenalização da eutanásia, reside nas seguintes diferenças; quem apoia é a favor da liberdade de escolha. Quem é contra, quer impôr a sua lógica, contra a vontade e a opinião de quem deseja ter uma morte digna.

 

É estranho e até oportunista, que sempre que há uma lei sobre a despenalização da eutanásia, venham logo os pretensos defensores da vida, dizer que o que é preciso é desenvolver os cuidados paliativos. Cuidados esses que caem logo no esquecimento assim que os projectos de lei são reprovados. É que depois de chumbados ninguém mais fala de cuidados paliativos, nem quer saber da agonia das pessoas que já não têm qualquer esperança de viver dignamente.

 

É tanta a falsidade e a demagogia dos que são contra, que como sabem que a despenalização da eutanásia pode ser aprovada, que agora até são a favor de um referendo. Referendo esse que não apoiavam quando sabiam que a maioria dos deputados seria contra a aprovação da lei.

 

Quem é contra acha-se dono da vida e da vontade dos outros. Acha que pode dizer o que pode ou não pode fazer cada um com a sua vida.

 

Outra mentira que normalmente dizem os que são contra, é que os que são a favor querem impôr a morte aos outros. Nada mais falacioso. Os que são a favor querem apenas e tão só, dar a oportunidade de decidir a sua vida(neste caso a sua morte) a quem está a sofrer, e nunca obrigar quem quer que seja a seguir o caminho da eutanásia. É apenas a liberdade individual e de consciência a funcionar.

 

Um médico que é contra disse na tv que em 42 anos de prática de medicina, nunca um doente lhe pediu a eutanásia. Pois é na palavra pediu que está o fundamental. Tem que ser pedida. Não fica ao livre arbítrio dos médicos. Por outro lado se nunca um doente lhe solicitou a eutanásia, fica um pouco difícil de compreender os seus receios. Segundo ele as pessoas não pedem, preferem sofrer.

 

É claro que eu não gostaria que me impusessem a morte, mas também não gostaria de não ter a oportunidade de a procurar, se fosse apenas isso que me libertasse do meu sofrimento.

 

Morte e vida são intrínsecas ao ser humano. Não pedimos para nascer, mas devemos ter a oportunidade de pedir para morrer, segundo aquilo que consideramos ser a nossa dignidade.

Laço negro

Silêncios de renda...flautas do poente

É ti que peço o meu lado branco

A ti...que me semeaste em barcos de papel

A ti...que me construiste com o eco da escuridão

 

Sei que a dúvida é o meu poente

Que a nascença do mundo é uma ave azul

Que trocámos o cais pela viagem

Que descemos ao poço da vertigem

Compostamente adornados com um laço negro.

O choro do silêncio

Tenho silêncios que me envolvem

Tenho um cais e um barco e uma flauta

Tenho uma roda de estrelas mortas à nascença

E uma seara de dúvidas azuis despontando nos meus olhos de criança

 

Troquei a verdade pelo poente

E a morte por uma borboleta verde

Troquei de estrada e de verdade

Troquei a lonjura da escuridão por um fio do teu cabelo

 

Tenho na boca um sabor a metal

Tenho um laço negro e um avião de papel

Da minha boca caem tranças

Das minhas dúvidas nascem tempestades

E as estrelas choram com medo do meu silêncio.

 

Olhar de menino

Tirei de mim todas as ruas da cidade

Fitei o vazio do cais e depois...

Imaginei-me a esculpir uma trança de estrelas

Com bocados de pássaros azuis...

 

Imaginei um destino encostado ao umbral do meu silêncio

Imaginei um rasto de noite a enfeitar o vazio dos sonhos

E depois...nada...mais nada...mais nada...

Ah! Mas antes disso...

Carreguei a noite com pétalas de pele arrancada aos espelhos...

 

Eu sei que habito o voo amargo das borboletas

Eu sei que me enfeito com nuvens de pedras acesas

E todas as noites desapareço na fenda das estrelas

Enquanto o luar se esmaga num ritual de garras afiadas

E eu me perco no desequilíbrio que se agarra ao lajedo da minha alma...

 

Neste longo este escorregar pela febre dos pinheiros

Pairar no sono...brilhar no encanto da noite sem retorno

Cheirar o chão e de súbito...

Despedir-me das folhas amareladas dos castanheiros....

 

Enfeitar as ruas com mundos sem sentido

Ter nas mãos o sangue do destino

Olhar a morte como quem vem ao mundo

Sentir o eco de uma floresta alheia a quem passa...

E pintar com musgo...o meu olhar...de menino...

Gelo

Nasci no gelo das pedras

Pisei o silêncio dos insectos

Procurei a vida na desordem do chão

E acordei abraçado ao impetuoso leito das trevas.

 

Neste lugar onde um dia brilharão as algas

Neste lugar nu de espelhos mágicos

Crescerá o bolor e a cinza

E das folhas secas nascerá um voo de aves perdidas.

 

No avesso do mundo crescem aves e sóis

Dentro de mim cresce um silêncio de sono desabitado.

 

Nada é como é.

Mais longe que o longe fica o tempo em fui. O tempo em que pensei no que não era. O tempo em fui o que não fui. Agora...não penso o que sou...nem sou o que penso. Sou apenas o momento. Sou apenas o desejo. Sou o milimétrico sobejo. Desse tempo em que me sonhei. Sobra-me agora tudo o que me falta. Falta-me agora tudo o que me sobra. Dobro a vida. Vejo o nada. E encontro tudo. Abro a porta e entra o vento. Entra a sorte e o universo. E entra a estranha calma...que me conforta. Olho o que não sei. Fala-me quem não percebo. E tudo o que por mim passa...é apenas mais um pressentimento. É mais uma forma de sentir a nuvem. A ameaça. E nada é verdadeiro. E nada é por inteiro. E nada é por nada. Porque tudo lá começa. E tudo lá acaba. E só o nada é verdadeiro. Mas tudo tem um nome e um significado. Tudo acontece no encantamento. Todas as vertigens são mensagens. Todos os corpos são atrevimento. Todas as marés são rasas. Todas as casas são abandonadas. E todos os universos estalam nos olhos de quem passa. Todos somos universos. Todos procuramos o poço de onde sai a luz. Tudo exige esforço. Tudo se contradiz. E nada é como é.

Véu de basalto

Em redor de nós o pão feito do avesso

Uma luz azul cai na gaveta vazia

Os ecos do mundo dormem num charco de luz

A terra das sombras devora as cinzas da mente.

 

Que tenho eu com isso?

Que ruas há nesta cidade onde não há fuga...

Para a liberdade?

 

E depois...inventei acasos...por acaso

Pisei destinos no rasto das flores

Na minha boca cresceram ilusões

Os meus pés ganharam asas de desejos e...

Pus-me a caminho procurando as esquinas onde não houvesse guerras.

 

Cama de trevo...véu de basalto

Miserável mistério a cair a prumo...

Sobre a minha ânsia....de ser tempestade.

 

É claro que por debaixo das palavras há um eco

Sei isso...porque sempre que lá mergulho

Me assusto com a sujidade das lágrimas...

A aceitação do nada

A idade. A neblina. O outono. A força que já não é. A força que teima em abalar. A chuva já não é chuva. O vento que já não sente. O olhar é um silêncio de ramo quebrado. O corpo é um silêncio de olhar parado. O sofá. A televisão. O frio. A oscilação da fala. O cansaço feito de muitos outros cansaços. O saber. A respiração que se agarra a nós. Cansada de tanto respirar. Já não há calor. Nem marés cheias. Nem praias amenas. Há pele...apenas. O verão virá. A luz entrará no quarto. Quem sabe se ele ainda lá estará. Mas ele sabe quem já não é. Ele sabe que dorme sob a última luz. Da última lua. É visível a sua conformação. A sua sabedoria. A sua aceitação. Do nada.