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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Acidez

Ácido desespero...espelhado num verão anil...

Cor da manhã...

Em que a dor indizível se liquefaz

E se esconde  na pele das árvores... dilaceradas

Que desespero acredita no lirismo das espingardas enfeitadas com cravos?

Que vapores de amor uivarão nos romances gelados pela invernia?

Viveremos nós ...um dia... numa camisola de lã imaginária...que nos afugenta o frio?

E as opiniões que adormecem num sofá feito de definitivas desordens de ideias

Quebrarão o silêncio dos lobos cujos uivos são risos humanos?

Não sei...

Ttalvez eu sussurre orvalhos de amores desencontrados...

Talvez eu me recolha em olhos dilacerados pelo brilho da neve...

Talvez eu escute as árvores despenteadas pela alvorada ventosa...

Talvez eu adormeça sobre um coração feitos de equinócios

E a minha alma também adormeça embalada pelo teu nome...

Suspensa num infinito Natal ...só nosso!

Os portões do mar também se fecham

Quem pensa nas árvores e nos ninhos? Quem pensa na crucificação dos sentimentos? Quem se deixa embalar pela geometria do mar? Pelo convés da chuva? Pelo vértice febril do vazio? Não temos quem nos ensine os impossíveis. Subimos escadas tropeçando na crueldade dos palcos. Colhemos o primor da chuva com mãos de palha. Na água que corre descansam os segredos. Na corda dos relógios piam pássaros falsificados. Oblíquos desenhos de vida enferrujada. Nas mãos vazias desfio os novelos do amanhã. Na extinção das luzes pulsam os mistérios. Quem nos embala? Quem avança connosco mar adentro? E sempre voltamos à incógnita pedra que nos ameaça. Que nos lembra das ruínas dos sonhos. Chifre de mar onde calcamos a maré cheia. Os olhos cheios. E seremos sempre assim. Abraçaremos os delitos. Pensaremos. Sem medos. Sem perdões. Com as nossas penas construiremos os nossos destinos. As nossas próprias maresias. Seremos infinitamente esquecidos. Ultrajadamente sugados pela sonoridade do canto das gaivotas. Assombradamente extintos. E longe...longe de tudo. Sobre um monte de pedras...cantaremos. Os manhãs são penas que voam. Sabemos isso. Os amanhãs são débeis extinções de hoje. Todo o rosto é uma incógnita. Toda a maré é um tumulto. Todos nós somos sonoras aves que ameaçam ruir no mundo. Sim! Posso representar qualquer tragédia. Sim! Posso comer qualquer artifício. Mas terei sempre... um inacabado fio de prumo entre as mãos. Que me ensina a conhecer as ressacas geodésicas das tardes. E a sentir-me uma indecisa crisálida. Que sabe que os portões do mar também se fecham. E os galhos dos dias aí estão...para que lá possamos descansar.

A teia de aranha

Nas majestosas janelas fumegam olhares

Nos jardins as flores são pedras preciosas

Na rua não há gritos...nem gemidos...mas há perturbação...

Os fanáticos não temem o horror... nem o medo...não pensam

Acordados seguem os animais para o matadouro

E o amor dedicou-se a um culto iniciático.

No rio os barcos pensam em cais

O vento...pensa na rosa dos ventos

E a chuva abate-se sobre nós

Traçando um arco-íris empalidecido

No deserto os Tuaregues fazem a cerimónia do chá

E eu...espero ansioso o momento mágico

Em que a aranha tece a sua teia.

Distanciamento social?

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( foto tirada da net)

Quando se começou a falar em desconfinamento, e concretamente em relação aos transportes públicos, foi-nos dito que estes teriam uma lotação limitada. Que não poderiam andar cheios e que teria que ser respeitado o distanciamento social,( eu prefiro chamar-lhe distanciamento físico).

 

Como estamos num mundo onde o mais importante é o lucro, logo os proprietários das empresas privadas de transportes, descobriram que aqui havia mais uma forma de ganhar;( mais), dinheiro.

 

Então reduziram o pessoal, (lay off), receberam as contrapartidas do estado, que continua a pagar-lhes como se tudo estivesse normal. E passaram a receber pelo pessoal que mandaram para casa.

 

Há uma pergunta que é preciso fazer. Como é que seria possível manter o distanciamento se os transportes foram reduzidos em 50 por cento?

 

E o governo? Porque não legisla limitando o número de pessoas que podem viajar juntas num meio de transporte? Podem argumentar que não se pode controlar o Metro ou os comboios. Mas pode-se impôr ao sector privado que não crie problemas aos empregados se estes chegarem mais tarde ao trabalho devido a recusarem entrar num meio de transporte superlotado.

 

Parece que agora ( dia 1 de Julho),irá ser aumentado o número dos transportes em circulação. Mas, pasme-se, apenas até 90 por cento dos que circulavam antes da pandemia. E tudo isto com um benefício extra de 20 milhões de euros.

 

É preciso que se comece, e já( pelo menos nos autocarros que é o meio mais lotado), a limitar as viagens a um número máximo de passageiros. E ao mesmo tempo obrigar as empresas a darem um tempo de tolerância aos seus empregados, de forma a que possam viajar com mais segurança.

 

É que não é só o empregado que defende a sua saúde. A entidade patronal também beneficia se  os funcionários estiverem  saudáveis.

 

A tudo isto temos que acrescentar esta incongruência; na rua não pode haver ajuntamentos superiores a dez pessoas. Nos transportes públicos pode-se viajar "enlatado":

 

A ilusão.

Separa-te do que não tens que dizer. Caminha pela sombra do que não faz sentido. És o último lugar do teu sim. A última aparição do teu nome. Sabes que a vida é um sombreado feito de delgados fios. A fala. A noite. O lugar onde não estás. Vês a verdade a ondular numa espiral colorida. Dá às coisas o teu sentido. Nasce. Renasce. Não te separes do irreconhecível horizonte. Cresce. Sabes que nadas numa constelação de sombras. Falas com as sombras. Sabes que as errantes estrelas são finas camadas de nadas. Sabes que não te podes separar do que não sabes. Podes sentir o último pavor. Podes descer ao mais alto despojo. E podes comer o mais louro trigo. O lugar onde estás é o teu lugar. O lugar onde ondulas ao vento que sopra da ilusão. Todo teu. Toda tua...a ilusão.

 

Memória de gato

Memória de gato. Dança de três dimensões. O homem geométrico. O homem negro de pele branca. O homem branco de pele negra. A maçã que ninguém comeu. A linha irrisória do que não vive em nós...e a do que vive. Tudo é irrisório. A lembrança. A moldura. A criança. O absurdo tamanho do olhar. O incompreensível silêncio do desenho que vive dentro da imaginação. Traçado de giz. Alegoria de fome. De fome de céu e de cometas. De luz de estrela cadente. Quem roubou as cores do homem? Quem assinalou a irrisória vontade de viver dentro de uma moldura? Quem nos marcou? Quem se lembra dos calções pelo joelho e dos ténis rotos? A bola. Jogar à bola. Crescer. A bola. Esfera que dança nos confins da memória. A nossa história. A nossa definição e também a nossa indefinição. O figo roubado. Sagrado. O prato cheio de cores. Os sabores sem sabor. Esquecidos. Num quadro negro. De medo. A pele a balbuciar arrepios. A espinha encravada na carne do amor. Quantas espinhas. Quantos amores. Tudo concentrado num grande lago opaco. Aqui as primeiras letras. Ali as últimas letras. Tudo. Aqui.

 

Cordão umbilical

Abre-se o cordão que nos ata à luz atarefada da manhã

Oníricas veias abrem-se ao leme dos tempos esquecidos

Os ventos recortam-se por dentro das memórias

As janelas abrem-se para as feridas do peito

Agarramos na espuma que ondula no niilismo das horas

Cortamos a direito por dentro da maresia

E crescemos... medramos... na insensatez que nos encanta

E vogamos dentro de um beijo terno que nos mata o fogo

Os deuses abusaram de nós... o dia aparece de repente

Vem adormecer a nossa indiferença que mastiga o medo

Na penumbra a nossa boca cresce... o olfacto torna-se um segredo

Os dedos abrigam-se dentro de outras mãos

Somos crianças acesas... a imitar velas acesas...

Abertos à indecisão de sermos fel e peso e barco

Aqui e ali misturamo-nos com a errância das ruas

Esperamos a vinda das flores que agonizaram no inverno

Embarcamos na chuva... na tumba... no amadurecer dos desertos

Cobrimos a cara com soluços de arestas nuas

Vulcão e pele de eternas lutas... esperamos milagres de vulcões solícitos

Que estúpida é a dor do vento que se disfarça de leme e mar

Iluminando a escura porta que se abre para a nossa solidão.

 

Espelho

Dentro do espelho ficou presa a imagem de um rosto

Solitária casca sem tempo nem verdade

A boca fala de memórias de luas esquecidas

O tempo balança-se nas conchas do outono

É altura de jorrarmos pelas escarpas do sonho...

Abracemo-nos como duas almas que descansam na paz dos seus corpos... nus.

 

 

Em todas as ruas há uma espuma esquecida

Boca de coração a fingir espasmos de amor

 

Pairas onde nenhuma água brota... como uma pele pálida e seca

Onde as sombras vão beber a ternura de um sopro

E onde tudo o que é esquecido é uma fonte de ruas compridas...e mortas...

Recolher obrigatório...já!

É preciso prevenir. É todos dizem. É preciso quebrar as cadeias de transmissão. É o que todos dizem. O PM acredita que as pessoas vão agir de forma civilizada. O PM acredita que as pessoas estão conscientes de quão perigoso é este vírus. O problema é que no meio das pessoas civilizadas vegetam aqueles que acham que isto não é com eles. No meio das pessoas civilizadas vegetam aqueles que não percebem que se forem contagiados irão contagiar familiares e amigos iguais a eles. Mas o que é que se pode fazer? É claro que não se podem prender energúmenos que se reúnem em festas nas praças e nas praias. É claro que aplicar multas a este criminosos não resolve o problema. Mas o que é que se pode mesmo fazer? Para começar, obrigar ao uso de máscara em todos os espaços, ou seja, na rua e em espaços fechados. Se as pessoas não obedecerem, então podem ser multadas. Esta seria uma medida profilática. A outra seria decretar o mais rápido possível, o recolher obrigatório, que deveria começar a partir da 22,30h, só podendo andar na rua quem tivesse justificação escrita para tal. Outra medida que o governo não deve ter medo de impôr é o confinamento. Em caso de necessidade o governo deve ordenar o confinamento de bairros, ruas ou até mesmo edifícios. Isto resolve o problema? Claro que não, mas ajuda no combate à propagação do vírus.

Insubmissão.

Sento-me na sala junto a um pálido candeeiro. A ternura vermelha da luz faz-me sangrar. Aspiro o aroma das memórias. Erro pelas folhas caídas na berma do carreiro. Secas folhas. Desistências de verde. É estranha e excessiva esta memória das folhas. Esta profunda neblina do Eu. Este cerrado sobressalto do passado. As saudades. O suplício deslizante do que fomos. O silêncio longínquo dos campos. A coragem desmedida para enfrentar o denso azul de um distante amanhecer. A minha alma aperta-se de encontro a mim. E...encontra-me...aqui. Eu...escorraço os meus sobressaltos. Sou o campanário que invade a tarde. Conheço a exatidão dos dias. Conheço a vigília da esperança. Entro na minha amargura. Afago-a como quem afaga a humidade taciturna do que há-de vir. Eu sou a minha própria oportunidade. A minha própria indecência. Busco-me agora e sempre. Percorro todos os lados de mim. Eu..aqui...tão perto da minha insubmissão.

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