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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Alquimia...

Alquimista que corres entre dois sonhos

Vives das cinzas que alimentam as espadas

Constróis o tempo que roda nas praças

Atravessando a noite nascida do sangue

Correndo nas almas que jazem nas pedras

Fazendo dos cardos amuletos de sombras

Morrendo no leito que nada no sonho...

 

A lenta passada da luz caminha em direcção ao infinito

O ventre da terra abre-se como uma estrada sem destino

Resta-nos caminhar em frente e conquistar o dia...

 

Fantasia....

Chamei pelo teu odor com os olhos pousados no poente

Chamei por ti num desespero doce que se calava no mar azul escuro...profundo

E a minha voz que ressoava numa irresistível sombra que se revirava no meu coração

Olhei a luz erguida num clamor transfigurado por um céu novo e reconhecido

Não havia árvores... nem folhas... nem aves...nem clareza ...nesse fim de dia

O vento chorava uma mágoa pungente e tão sentida

Que as doces memórias se transformavam numa luz que iluminava o escuro

E a lua que se arrastava num céu ébrio e transfigurado

Fugiu em direcção ao coração do Universo...

Só para não ver o poente da nossa música

Que entoava no ar árias profundas...

Que ecoavam nos corações passantes...mudos

Até que...finalmente vi as cores fortuitas do desespero...

Desaparecerem envoltas num perfume que se derramava pela vastidão da noite

Era de novo a branca esperança...

Era de novo a venerável bênção da harmonia...

Incontida...devoradora...

Era uma espécie de cascata musical...onde os teus cabelos revoltos

Derramavam hinos...profundos...que se insinuavam sobre os nossos murmúrios

Como lembranças beijadas...pela mágoa misteriosa...de um vinho inebriante...

Era um sonho...apenas uma flor de cardo...apenas uma fantasia...real!

Stay Away Covid

Somos pessoas livres na exacta proporção da quantidade de vida privada e da quantidade de segredo de que somos detentores” Bernard Henri Lévy

 

Não vou falar sobre as pessoas que colocam a vida na net. Esse tipo de pessoas e de conversas não tem qualquer interesse para mim . Vou falar da aplicação Stay Away Covid . Confesso desde já que sou contra. Sou contra não porque ache que vou passar a ter a minha vida privada controlada, mas porque penso que a app me viria complicar a vida.

 

Suponhamos que instalo a aplicação. Suponhamos que estou perto de alguém contaminado. A app avisa-me. Lá vou eu ao centro de saúde. No centro de saúde há dificuldades no atendimento. Vou fazer análises particulares? É que a análise feita no privado custa mais de 100 euros. Os centros de saúde estarão preparados para receber o acréscimo de pessoas que por via da app lá irão parar?

 

Suponhamos que passados alguns dias volto a receber a mesma mensagem. Lá tenho eu que voltar à “ via-dolorosa”. E isto continuamente.

 

Há quem a defenda. Há quem ache que é uma forma de prevenção. Ora o facto é que não é por ter a aplicação que vou estar mais protegido. A não ser que ao receber a informação, tenha rápido acesso à análise. Caso contrário fica toda a minha vida de “pés para o ar” . Além disso todos sabemos como funciona o SNS.

 

Não duvido que é bom ser avisado sempre que me cruzo com alguém infectado. Não duvido que posso saber mais rapidamente se fui infectado. Mas parece-me que é mais uma forma de complicar a vida do que de facilitá-la.

 

Por mim, vou continuar a usar SEMPRE a máscara e a desinfectar as mãos. E a esperar que o bicho evite encontrar-se comigo.

 

E para acabar; comprei a máscara inovadora que neutraliza o vírus. Custou-me 10 euros. Vai agora ser vendida em Espanha por 9,95 euros. Compreende-se....os espanhóis ganham menos que nós....

Vamos construindo a nossa história

Somos remadores a desafiar os rápidos da vida. Precisamos de treinar e de aprender a desafiar essas águas turbulentas.Corremos riscos. Tentamos antecipar os obstáculos. Ajustamos o corpo e a alma às coisas que nos vão sucedendo.Vamos construindo a nossa história todos os dias .Mas também vamos implodindo com todas as coisas que nos desgostam.Temos sorte.Temos azar. Estamos dependentes de todos os improváveis. Temos premonições. Por vezes adivinhamos o que nos irá acontecer. Mas o que nos torna humanos é a ilusão de que um dia iremos compreender tanto o passado como o futuro. Ou mais ainda..talvez até a vida....

Aquilo que sempre existiu...

Num dos capítulos do livro O FIO DA NAVALHA, Somerset Maugham fala da história (verdadeira) de um ministro de um dos estados da Índia. Este homem que estudara em Oxford. Que se vestia à europeia. Culto. Político hábil e ministro eficiente, decidiu que ao fazer 50 anos se demitiria do governo. Dividiria a sua fortuna pela mulher e filhos e iria correr o mundo como mendigo errante. A diferença entre o pensamento oriental e o ocidental é que lá todos achavam normal aquele procedimento. Cá todos lhe chamariam louco.

 

Todos procuramos o propósito da vida. Todos procuramos o seu significado. Os orientais valorizam a vida do espírito. Os ocidentais valorizam os bens. O dinheiro. A posição social. Há uma diferença enorme entre acreditar em algo e ter uma opinião sobre algo. Os ocidentais apenas têm uma opinião sobre tudo o que na verdade desconhecem. Os orientais acreditam na reencarnação  É este crer em algo que lhes faz dar pouco valor aos bens materiais. Eles acreditam na meditação para atingirem os mais profundos segredos da alma. Os ocidentais apenas acreditam no dinheiro.

 

Pode haver um propósito na vida? Claro que sim! Pode-se viver com pouco como mostrou o ministro indiano? Claro que sim! Contudo teríamos que abandonar a mentalidade ocidental. Teríamos que perceber que os bens são apenas uma prisão. Teríamos que perceber que não há maior bem que a nossa liberdade. Ainda que tenhamos que viver com pouco dinheiro.

 

No livro, Larry, um americano com bens, inspirado no ministro indiano,ao voltar da Índia resolve doá-los e ir trabalhar numa garagem como mecânico e diz a Somerset que nunca se sentiu tão livre. 

 

Acabo com uma citação do livro “ a individualidade é a expressão do nosso egoísmo, enquanto  a alma não se libertar disso não poderá unificar-se com o Absoluto. E o que é o Absoluto? Não sabemos, É aquilo que não está em parte alguma, e está em toda a parte. É aquilo que nunca começou nem nunca acaba. É aquilo que sempre existiu".

O inverno dos nossos sonhos

Que obscenos e sagrados...nos ergam as tempestades

Que nos aqueçam...como aquecem a lama vermelha nos dias frios

Que nos arranhem para as sentirmos através da pele...

Que nos entre nas papilas... que se levantam com a excitação...do sabor a fel...

E nos arranquem os cabelos... que se eriçam-se no corpo

Como ventres prenhes e ardentes...

Que nos interessa a vida...se é a morte que nos conduz...

Que nos interessam as formas...se seremos etéreos...

Queremos nós lá saber de energias positivas...se somos vidas negadas...

Quando tudo é agressivo... quando a melancolia nos cobre os olhos

Quando o tempo não é uma surpresa rara...mas um coração egípcio mumificado

E os dias são corredores...cheios de escadas infindáveis

Onde... suceda o que suceder...no cimo

Teremos o Inverno com que sonhámos...

Gaivota branca

Diz-me em que luz se encerra o pranto da memória

Diz-me que futuro já perdi

Diz-me de onde vem a fala dos poemas

E que rostos longínquos velam por nós...

Por dentro dos cânticos da morte.

 

Tudo o que sei...

É que por dentro dos rostos há segredos

Segredos que nos cercam....fachadas...sombras que se esvaem

Tudo o que sei...

É que por dentro da humidade dos rostos há lamentações de terra.

 

As noites... são distâncias...o mar... é um nome sem futuro

Não procures encontrar a linha cava do horizonte

Nem conhecer o corpo das leis que regem o vento

Não queiras saber com quantos nomes se constrói uma vida

Nem saber que febre aquece a esperança

Apenas te peço...que preenchas o vazio das formas que te habitam

E que te gastes...como se te dividisses...

Entre tempo e asas...entre voo e e água

E sejas a gaivota branca...que se cala em mim.

A capacidade de resiliência da juventude

Um grupo de jovens bebia álcool na rua. É proibido. Um desses jovens foi entrevistado por um canal de tv. Dizia o rapaz que tinham que vir beber em grupo para a rua porque lhes estavam a tirar o que de mais precioso possuíam...a liberdade de estar com os amigos. O facto é que essa liberdade nunca lhes foi tirada, apenas foi proibido o ajuntamento de pessoas a beber álcool em plena rua. O que este jovem vem demonstrar é que uma grande parte da juventude não está habituada a fazer qualquer tipo de sacrifício. Querem tudo e já. Culpa dos pais que não os souberam educar? Culpa de uma sociedade de consumo rápido? Culpa da falta de cultura? Culpa de uma sociedade que promove o egoísmo e o egocentrismo? A verdade é que este tipo de egoísmo prejudica os próprios, a família e todos aqueles que tenham o azar de se cruzarem com eles. O que se tira disto é que muitos jovens não querem saber se estão ou não com as suas atitudes a prejudicar os outros. Como a pandemia pouco os atinge, não querem saber se são ou não um veículo de contágio. É certo que muita gente madura também não cumpre as regras, mas o que se observa à noite nas ruas é o pessoal jovem a beber e a divertir-se. É claro que o também (literalmente) jovem dirigente do CDS veio logo a acorrer em defesa daqueles que não querem cumprir as regras. O Bloco alinhou pelo mesmo diapasão. Esta foi uma lição que aprendemos com a pandemia. Os pais , ao darem aos filhos tudo o que eles querem, ao pactuaram com a satisfação de todas as suas vontades, não lhes souberam incutir  a capacidade de serem resilientes, mesmo que se saiba que esta pandemia é temporária.

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