Animais de estimação
Sobre a peanha ( que se não vê), um velho candeeiro (que pertenceu à minha avó),preenche o espaço em branco da parede. Uma amiga vem ver-nos...espalha a sua curiosidade sobre estes estranhos seres. Nós.
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Sobre a peanha ( que se não vê), um velho candeeiro (que pertenceu à minha avó),preenche o espaço em branco da parede. Uma amiga vem ver-nos...espalha a sua curiosidade sobre estes estranhos seres. Nós.
Polifónicas ampulhetas marcam a compasso o tempo dos desertos
Esses desertos onde o tempo é deserto
E é feito com as cinzas da carne coralina.
Aí... onde o sossego é uma transparência de espuma e vento
O nosso retrato é uma espessa mão a acenar ao mundo... a gelar no mundo
Os nossos dedos descarnados cavam o chão da terra...
Barcos sem rumo perdem-se nas vielas
Docas de silêncio encostam-se às luas mais ocultas
Esconsas noites apegam-se ao renascer dos corpos.
Há uma força bruta que se solta da pureza dos ventos
Por dentro das tempestades jazem homens inquietos
Sombras celestes cavalgam a loucura dos homens
No leito do sonho acordam tempestades de fogo
Como feridas de náufragos antigos a tactearem as brumas da poesia.
Passo... e traço um risco sobre a limpidez das casas
Conjugo as horas com as pequenas estrias de uma espada intemporal
Um lago de sangue escorre dos meus braços
Sou a imperfeição das pedras a atear fogos de cristal.
Poderias passar por mim sem que eu perceba a tua sombra
Poderias raspar a minha pele como quem safra a linguagem das medusas
A bem ou a mal aceito tudo o que chega ao fim
Aceito os passos desentendidos do cansaço
Aceito querer-te com se fosses a límpida conjugação do amor
E lamber as tuas feridas com o meu sono de luar e cobalto
Aceito que tudo se resume a uma água que corta a direito...
Uma torrente aflita...um espasmo
E depois...como sei que tudo cai...como uma noite sem fim...
Aceito-te...tal como és!
No centro do meu mundo... aguardo.
A vida pode ter brilho...mesmo à noite...
Gotas de chuva estremecem na teia...
Cristais que escondem o escuro do mundo.
A suave luz da lua...
Parábola de precário equilíbrio ...fino fio de seda.
A alma do Homem.
Pendurada na lua...teço o meu caminho.
Na vida não há mais que um caminho...
É aquele que seguimos e pronto...
Mesmo que ele seja um fio de lua a espreitar pela nossa alma.
Colo-me ao céu...vivo na suspensão do absoluto.
Laje seca... para além de ti há uma ferida que bebe o cálice de outras eras
Cálice imerso em preguiça e tempo...meta de trópicos desfolhados por instantes
Desencontro de lavas oceânicas dispersas em passados de vagas memórias
No fundo das vozes há um abrigo de pele e seda
Princípio de outras eras onde a nossa pele se desfazia em sede de saudades
Entrego aqui as minhas mãos roídas pelo zinco dos dias
Deposito além os meus olhos fundidos no amarelo das acácias
Quantos passados passaram por mim?
Quantos anos me disseram que respirar é o mesmo que habitar o corpo da vida?
Já não sei... só sei que continuo a respirar
E a dizer que amo todo o vento que escorre pelas fachadas do meu corpo
O vento que faz abanar as gotas penduradas nos meus portões de ferro
E as terras e os lagos e as candeias que ainda se acendem nas noites frias do medo
Que me despertam como raízes de cruzes encerradas no fresco da noite.
E se de repente uma revelação se pendurasse nos ramos luminosos das gaivotas
E se todas as frescuras inexplicáveis das ervas me contassem
As traições que vivem no esboço de cada pessoa...
Agreste silêncio... infinito rio correndo sobre as dores das horas
Coincidência de mão a tocar o destino das portas cerradas
Futuro devorado pelo presente... brisa de pavores serenos
Voz inteira que ri e chora na penumbra roída das chamas indefesas.
Se eu pudesse guardava na minha algibeira todos os quadrantes e todos os sóis
Se eu pudesse correr como uma vela sem tempo nem alto-mar
Dormiria sobre a carne nua das marés...contigo a baloiçar...
Dentro de mim.
Finalmente aconteceu. O governo aprovou à Universidade Católica, a iniciar em 2021, o seu curso de medicina. Como já era esperado a Ordem dos Médicos opôe-se. Diz a Ordem que os medicos que se formam em Portugal são mais que suficientes para o nosso SNS. Pergunto: se são mais que suficientes, porque é que há 700 000 pessoas sem médico de família? Porque é que no interior há falta de médicos?
Não quero mais este peso sobre as costas
Não quero mais este tempo vestido de abutre
Não quero mais estas trevas escorrendo no negrume da noite
Não quero mais ser a sentinela...do corpo frio....
Quero percorrer...
Saturado de volúpia.... e de ombros nus...como um budista melancólico
O caminho lancinante do esquecimento...
Os anos cheios de pequenas coisas
As noites negras...as lágrimas doces e profundas...
Por isso...não me tragam mais anos...não quero mais dias
Nem trevas atraentes...nem caridades enfeitiçadas
Deem-me espaço e tempo...luz e movimento...
E eu farei de uma cabeça tenebrosa...algo vago...
Como uma harmonia...ou um sentimento imenso...
Uma banalidade... ou uma ideia atroadora...
Uma bela ambição...ou um espelho refletindo navios...
Uma aversão...ou um fogo triste...
Usarei todos os saberes...em todos os momentos...
Em toda a profundidade do oceano...
Em todo o sentido da existência...
Em toda a tenebrosa melancolia dos cadáveres...esquecidos...
Em todo o poder atroador da nostalgia...
Farei tudo o que quiserem...
Atravessarei uma auréola flutuante
Apanharei uma língua caída na lama
Repousarei num uivo...ou num sorriso largo...
Comerei a minha aversão à vingança...
Mas...tirem-me este peso das costas....
E como hoje é sexta-feira..aqui ficam 5 minutos de abertura de espírito. A vida é feita de escolhas...estaremos despertos para isso?
Pergunto à nova hora o que faço aqui
Corpo e alma desertos de nascimento...superstição e demónio...
Que música cantarei nos céus...se não sei cantar
Que sabedoria apresentarei a Deus...se nada sei...
Quem lá adorarei...se tu lá não estás...
Que tirano encontrarei sentado para me amaldiçoar
E para me dizer que ganhei...a paz....
Mas...digo à nova hora o que já não faço aqui
Digo-lhe que já não vejo natais nem luzes...
Digo-lhe que já não oiço os desertos
Digo-lhe que já não amaldiçoo a vida
Digo-lhe que já não ranjo o dentes quando não te vejo
Digo-lhe que as minhas queixas...de mendigo...
São o sangue seco que jorra dos cânticos
E que eu já não sou um arbusto...
Plantado em solo infértil...
Se há coisas que me deixam o espírito arrepiado é ouvir o pessoal do PC chamar fascistas aos que condenam a realização da Festa do Avante. É de uma tacanhez...
Desconstruir o tempo. Desconstruir os muros. Desconstruir o futuro. Desconstruir o nosso medo. Acusar os outros. Dizer que é deles a nossa culpa. O difícil é dizer quem somos. O difícil é assumir quem somos. A ignorância não é santa. A sabedoria não cai do céu. E temos a nossa luz. A nossa luz que por vezes faz sombra aos outros. Cria a sombra nos outros. E quanto maior a sombra menos luz temos. Menos temos da luz dos outros. Menos brilhamos. Então...sejamos luz sem brilho ofuscante. Sejamos pensamento sem ofensa. Equilíbrio de luz e sombra. Porque somos sempre outros...dentro de nós próprios.