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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Ode ao Tejo

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Todos os dias aqui me sento...a ver-te

Todos os dias aqui me sento...a amar-te

Todos os dias aqui venho... querer-te

Todos os dias aqui venho... procurar-te

 

Todos os dias me sento aqui ...sozinho

Neste banco junto a ti... desafogado

E todos os dias tu és o meu caminho

E eu...sou o teu naufrago aqui sentado

 

Todos os dias te vejo partir

Em ti vão meus olhos com as águas

Os barcos...levam margens a sorrir

E eu...aqui deixo velhas mágoas.

 

P.S.- não é sujidade que a foto apresenta, são milhares de aves que aqui estão a passar o inverno.

Seriedade...

Não é ao mar que pergunto...é a ti...

Conta-me coisas... abre o teu coração

Inunda a minha alma ...dissolve-te nela

Diz-me que és uma louca que vive num aquário

Diz-me a verdade...vais despir a tuas redes?

Vais dizer-me que me levas a sério?

Vais despedir-te da piedade que não te rodeia?

Vais dizer-me...cara a cara...beijo a beijo...

Que tu própria te mentes? Diariamente...

Vais dizer-me que somos tão pouco sérios...que devemos mentir?

Para não nos tornarmos... sérios....

Para nos tornarmos loucos...

Para não nos levarmos a sério!

As coisas da vida

As pessoas amam as coisas que lhes bastam

As pessoas amam a clareza inesgotável das coisas que não existem

As pessoas têm a clareza turva dos lagos parados no tempo

Mas não há tempo absolutamente nenhum

Não há lago absolutamente nenhum...

Não há paragem no tempo nem velocidade

É tudo tão simples...tão compacto...

Tão feito de coisas lisonjeiras e estranhas

Que tocar nas mãos de alguém ..

É como tocar num céu feito de pequenos poros cristalinos

Poros vivos e tão grandes como a pureza de uma sedosa vigília encantada

Onde esperamos que uma luz nos toque na profunda claridade dos olhos

Como se fosse algo que queremos muito...

Que esperamos muito...que tememos muito

Algo que nos faz sentir que somos tempo que se sustenta de toda a nossa alma...

Imperfeita...insegura...mas que nos basta para sermos um segundo...

E uma vida...

Alma solta

Hoje saí à rua...e vi que as horas não passavam de estrelas

Caminhei junto ao rio...esperei pelas rugas...contei-lhes histórias

Disse-lhes que é fácil ser feliz...basta abraçar e acariciar os grandes espaços

E que é facílimo ser herói...

Quando a dor é apenas um estranho assombro a enfrentar os dias

A correr pelos dias...a corroer a pele dura e calejada das tardes

A dizer-me que não há infelicidade nem flores que não murchem...

Nem há mãos que desistam das carícias.

 

Hoje saí à rua...e os meus olhos eram pepitas brilhando na clausura dos sentidos

Caminhei junto ao rio...esperei pelos passos das garças..

Descobri na água o espelho da alma

Contei-lhe histórias...disse-lhe que é fácil ser alma..

Basta um pouco de ar e de perfume

E no meio de tudo isto...

Até me esqueci de dizer que não há grilhetas nas cores do horizonte

Que os abraços são bocadinhos de tempo preso na solidão dos corpos

Esperei tanto tempo para passear por mim...

Que agora já não preciso mais da coragem das tardes

Porque o vento me carregou...

Com todas as possibilidades de ser ave à solta na minha imensidão

Bem pior seria impedir-me de carregar a minha vida...

Assustar-me com pequenos sonhos

E saber que nada me impede de ser eterno...

 

Pingo de palavra

Olho-te por dentro das palavras que se misturam com o brilho do meu olhar

Vejo-te como um poema escrito no princípio dos tempos

Sei que te posso apertar nos meus braços como se fosses a minha escrita

E que da mistura de alma e corpo... palavras e braços...

Saem respirações ofegantes

Sei que de todas as misturas...de todas as cegueiras...

De todas as palavras...nada nos explica

Nada nos diz que somos ar e milagre

Perfume e versos...corpos completos

Podias até ser o meu livro...

Aquele que desfolho perante a nostalgia dos dias

Podias até ser a minha extinção...o meu sangue

A respiração das páginas

E até talvez possas ser o insulto depois do prazer

O verso orgiástico... a frase mordida

E eu seria talvez o poeta que te recolhe nas mãos

Como um pingo de palavra condensada num beijo...

Fica comigo...

Tanta coisa acontece ao mesmo tempo...tantos porquês e tantos senãos

Partilhamos a rua e a nossa face com quem se cruza connosco

Cada um é um mundo..cada um está no seu mundo...e contudo

Todos partilhamos o mesmo mundo...o mesmo sol...a mesma superfície

Vivemos isolados dentro dos nossos olhos..como gente estranha às coisas que acontecem

Nascemos..mas simplesmente somos incapazes de ver para além da nossa infância

Somos incapazes de adivinhar o olhar que olha o infinito..a luz das coisas escondidas

E com que facilidade inventamos tristezas...sem saber qual é o fim e o princípio da tristeza

Sem reparar que a tristeza não nos serve...é como uma roupa apertada...

estranha ao nosso corpo e alma

Simulacro de morte do coração...estranhos...somos estranhos...

os pássaros são estranhos

A felicidade é estranha..

a felicidade esse sentir de lágrimas apertadas no rosto das manhãs

E Deus? Esse ser que dizem que inventou o mundo e os homens

Esse ser que queria que todos fossem felizes...é apenas uma miragem da alma

Prometo que um dia vou desenhar no vidro embaciado a palavra destino

Prometo que me escondo por detrás da janela...

E escutar o sorriso das pessoas que invento

Por vezes inventamos pessoas...construímos pessoas como castelos de cartas

Por vezes as pessoas são mesmo um castelo de cartas...

Que se desmorona perante a aflição do nosso coração.

 

Disseram-me que por debaixo da nossa pele existe uma dor tatuada

E que todas as palavras do mundo estão dentro de nós

E mentimos...quando dizemos que nos conhecemos

E mentimos quando falamos das coisas que existem para além da tristeza

Porque habitamos dentro de um palácio triste...cheio de luz e surpresas

Um palácio que não podemos partilhar...

Porque temos medo das sombras que vivem nos corredores

Por vezes...uma pequena lágrima muda uma vida..

Um pequeno rio que escorre das nossas profundezas

Ingenuamente vamos empilhando folha sobre folha..palavra sobre palavra

E não sabemos para que serve esse livro fantástico da Vida

Mas corremos em direcção a um tempo...um tempo de dizer...

Fica comigo...

 

 

 

 

 

 

 

 

Mascarada no cinema

Devido ao covide reduziram-se os lugares disponíveis nos cinemas e foi tornado obrigatório o uso de máscara dentro das salas.

Pergunto, então e as pipocas, porque é não foram proibidas? Ou será que alguém come pipocas com a máscara colocada?

Esta é outra das leviandades à portuguesa, primeiro criam-se regras, proibe-se, depois vêm as excepções.

Intemporalidade

Do vazio ergueram-se os anjos do tempo imortal

Sombras desoladas...intemporais

Traziam consigo uma sensação de morte

E eu não percebia se aquele troar de asas

Era o silêncio nos meus ouvidos...

Ou o universo a clamar por mim.

Ferviam como sons mágicos...

E soavam como espirituais negros...soul e blues...

Músicas sagradas que refulgiam e voavam em volta de mim

Como pássaros celestes...inconcebíveis...

Bebi o meu vinho naquela tarde calma

Assombrado pela imagem do que via...

Como se espreitasse para dentro de água pura... translúcida...

Matei o tempo dentro de mim

Transformei-me em Mente...apenas...

E o tempo foi inexistência...magia espiritual...

Um acordar para o mais profundo da ignorância..

Impossibilidades...

Chegamos aqui como aves caídas do céu..e de repente somos céu

Somos o acaso... a impossibilidade...

E sabemos que amanhã outros céus se vão erguer do caos

E sabemos que somos complexos e que a Terra não quer saber de nós...

Quer comer-nos.

E depois...se imaginamos que os olhos vêem coisas inexplicáveis...

Perguntamos se são inexplicáveis porque é que as vemos?

E porque é que não as sabemos explicar?

E há tanta coisa há nossa roda...há tanto para sentir...

Tantos cais para embarcar...tantos amanhãs

E há os pássaros e as primaveras...

E até temos a possibilidade de fazer as lágrimas rirem da nossa ignorância...

E depois...há a sorte...o futuro que não é futuro...

O futuro que é apenas um sórdido mentiroso

Verdadeiros são os cheiros dos  pomares...

E se perguntares por ti...

E não souberes responder...não perguntes

Deixa que as coisas te toquem...te maravilhem...

Como se fossem apenas partes de ti

Como se fossem nada mais que tu...

Porque és tu que te fazes existir... e as fazes existir

Porque é por ti que existe o amor...

O amor...porque é que sentimos amor?

Porque é falhamos tantas vezes no amor?

E recomeçamos...e caímos...e somos tão densos...

Mas mesmo que o anoitecer te avassale...

Te lembre da impossibilidade de teres um dia diferente

Arrebata esse dia que vem a descer de mansinho pelas estrelas

Mesmo que te pareça ser impossível que haja dia...

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