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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A mascarada

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Finalmente foi aprovada na Assembleia da República a lei que obriga ao uso da máscara na via pública.

Como nada em Portugal é linear, é claro que tiveram que fazer um lei cheia de excepcionalidades.

1- A máscara só é obrigatória se a pessoa se cruzar com outras na rua.

Fica a pergunta, o que é que isto significa?

Acho que muito simplesmente que na realidade ninguém está obrigado a usar a máscara quando sai de casa. A pessoa pode sempre argumentar,(no limite), que não pensava cruzar-se com ninguém, os outros é que não se desviam.

2 - A multa pela falta de uso da máscara vai de 100 a 500 euros.

Mas o Bloco e outro lá "conseguiram" que o papel das autoridades não seja o de multar mas o de sensibilizar.

Pergunto, se é para sensibilizar porque é que ficou a possibilidade das pessoas poderem ser multadas?

Por outro lado, penso que nesta altura já não deve haver pessoa alguma que não esteja "sensibilizada", uns para o uso, outros para o não uso.

Neste caso parece-me que o papel da polícia deve ser mesmo o de multar.

Por absurdo se aplicássemos a teoria ao trânsito, ninguém era multado por excesso de velocidade, seria apenas sensibilizado.

 

Absorção

A tarde. O silêncio nos olhos. O brilho nas memórias. Na ponta do cérebro cintilava a existência de um desinteresse. Era a inércia do cérebro a acompanhar a abstracção do homem. Tudo se movia em roda de si. A vida. A curiosidade que despontava nos pensamentos despidos de utilidade. Viver. Vogar. Boiar na pele do dia. Sentou-se num banco de pedra...como quem nada tem a dizer de si. As pessoas passavam. Assimétricas. Como se existissem na imaginação de um fantasma. Ou numa vaga invisibilidade que perpassava pela luz. A luz. O cheiro das ruas. O impenetrável sentido do nada. O impermanente sangue da vida a fluir. A aquecer o sangue. Ergueu-se enquanto o sol se enrugava nas sombras. Respirava. Sonhava. Era agora o exímio dono das suas pálpebras...cerradas. Na alma desenhou-se uma revelação. O descanso de uma paz periclitante. A absorção do mundo. Respirou fundo. Fez uma festa a um cão que passava. E percebeu que o corpo é a moeda com que se paga a vida.

 

 

O que não é...

Estou dentro de um ruído transparente...

Mas nenhum ruído atravessou o meu sossego

Mas uma segunda língua principiou a nascer-me

A língua transparente...

 

O que é meu não é meu...

Estou na parte do tempo dos que vivem envoltos em mistério

Sou o fim que nasce de um ser e faço-lhe uma festa tímida na testa

Sou a silhueta do navio do meu ir-se embora

Que toda a obscuridade seja móvel e deslize para fora do quarto

Aquele ser finito com substância infinita

Manchando o canto do tempo em que entrei

Como uma neblina densa de onde se espera que venha a luz.

 

A lagarta

Hoje acordei com os olhos marejados de maravilha

E maravilhado vi a importância de uma lagarta

Vi a sua importância... porque vi para além dela

E porque para nos maravilhar-nos...

É preciso ver para além das coisas.

Vi nela...a futura borboleta...

Imagino- a sobrevoando...

Os campos emocionados de flores

A articular as suas asas sobre a beleza surda das cidades

Sim...também se vêem borboletas nas cidades

Perdidas talvez...como nós...

Mas sempre borboletas graciosas...como nós...

Borboletas para quem os jardins são oásis

Rumores de sol carmim e alegria

Porque a beleza apaga a morte... breve...

Da Vida!

O ar puro da tolerância.

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(foto tirada da net)

É com apreensão que verificamos a crescente força dos partidos políticos conotados com o nazismo e com o fascismo. Partidos que apelam ao xenofobismo, ao racismo, à homofobia e ao anti-semitismo. Perante esta realidade talvez seja importante recordar a realidade que conduziu Hitler ao poder.

 

Nos anos 20 do século passado a Alemanha ficou traumatizada com a grande inflação. Grande parte da classe média perdeu o seu património – ora esse facto levou a que as pessoas tenham sentido a necessidade de se reunir em torno de uma ideologia comunitária, ainda que esta fosse odiosamente racista – uma ideologia que perante o caos económico, os fizesse sentir que pertenciam a algo. Que os fizesse sentir que tinham quem os defendesse.” (a)

 

Qual a semelhança com os tempos que vivemos? É claro que agora não é a alta inflação que serve de aglutinador às pessoas que aderem a esses partidos. Tudo parte de descrença. Descrença no Estado. Descrença no futuro. Descrença na economia. O que de facto aglutina estes movimentos é a pertença ao grupo. É a ideia criada de que os problemas que existem na sociedade têm como origem os outros. Os de outra raça. Os de outra côr. Os de outros países. Os de outra religião. Os de outra orientação sexual. Os factos demonstram que perante a descrença sobressai a irracionalidade. Despertemos e aprendamos com as antigas lições da História. Contudo, a verdade, é que precisamos de respirar o ar puro da tolerância.

 

a) baseado no livro - o Homem Mundial - de Phillipe Engelhard

 

A fissão nuclear

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(Imagem tirada da net)

A fissão do urânio representa uma metáfora dos problemas que a nossa sociedade atravessa – a da transformação social – basta que seja atingida uma massa crítica para que a fissão atómica se faça. O mesmo acontece na sociedade, esta só tem sentido na medida em que compreende um certo número de pessoas , animadas pela preocupação do bem comum e prontas a agir sem esperar disso um proveito pessoal. (a)

 

Quando existe uma massa crítica de cidadãos não somente capazes de acções altruístas mas também do exercício da razão crítica, a transformação social parece então possível. A razão crítica é a razão que permite tomar uma certa distanciação face aos códigos, às ideologias e aos estereótipos da sociedade e, eventualmente, voltar a pô-los em causa. O civismo pode levar a uma pressão social conformista ou até opressiva, a razão crítica é a distanciação necessária que pode levar à dissidência social. Essa dissidência exprime-se por meio de ideias e comportamentos dissonantes, portadores de mudança. A razão crítica é uma afirmação da liberdade e da responsabilidade, que tem o seu ponto de partida numa filosofia do não. Ela começa por uma verificação que os mais lúcidos podem fazer, seja qual for o seu grau de instrução, a sua idade ou o seu sexo: a vida tal como a vivemos já não é suportável e já não a queremos mais.” (a)

 

 

Com base nestes pressupostos e relativamente aos caos ecológico em que estamos a mergulhar, muito embora tenhamos muita razão crítica, é ainda maior a percentagem de pessoas que preferem o civismo ou o comodismo, que não nos permite agir no sentido de mudar o que sabemos não querer mais.

 

Tudo vem do Estado, tudo acontece em redor do estado.” Hegel diz que o Estado tem a sua raiz na contingência da sociedade civil . Invertendo a proposta de Hegel, se o Estado está doente é à sociedade civil que compete, não subverter o Estado, mas forçá-lo a desempenhar o seu papel de mudança social. O problema é saber como é que um Estado doente e uma sociedade conformista e/ou inconsciente se podem reestruturar mutuamente. “ (a)

 

a) baseado no livro – o Homem Mundial- de Phillipe Engelhard