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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Horas de calmaria

Desfolho as horas que entardecem calmamente

Pairo como uma ave vaga sobre os prazeres sonhados

Recordando sentimentos como essências sem presente

Que voltam a mim nessas horas tão diferentes...

E que são como nostalgias a ranger os dentes

Fatigados!

 

Horas de silêncio esmorecido...infinito...derradeiro...

Horas de brisas...beijadas pelas sombras da tristeza

Onde a esperança geme com a certeza...

De que de nós nos escondemos...fingimos...

Desinteressados!

 

Encantos perpassam sobre as nuvens

Declina o sol nos teus cabelos maravilhados

Os últimos raios são hinos...são futuros ilusórios...são pecados...

E a tua carne murmura sobre as flores

E como as ovelhas seguem os pastores...

Assim te seguem os meus olhos...

Deslumbrados!

 

Mas a noite cai ...feiticeira...na estranheza calma da verdade

E eu recebo em voz alta o teu segredo

Renuncio à verdade da tua carne...escondo o medo...

Atinjo a melancolia da realidade...e tu és a minha fogueira...o meu degredo...

A fé desfeita da vontade...onde escurecem os meus olhos...

Desmaiados!

Lonjuras

Trago na minha lonjura manhãs e desertos

Trago vulcões...trago noites...

Trago dentro de mim um país...assombrações

E incautos momentos...despertos.

Trago palavras nuas...ternuras...

Invento flores...acordo os medos...

E estrangulo fantasmas

Invento sonos como quem se passeia sobre fios de espada

Sepulto os meus gritos na humidade da terra

Celebro missas com gestos de astro baço

Tenho a minha própria poeira...privada

Aquela que me cobre como uma capa que geme

Aquela que me diz que dentro de mim vivem beijos

E absurdos...e corpos nus...

E toda a amálgama de risos finos

Onde incautas flores...desabrocham!

 

 

Fachada

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Fachada esquecida no tempo...desencontro de alma

Saturação de vida e de pasmo....desencontro de esperas

As brisas entram se pedir...as janelas despedem-se

Já ninguém te bate à porta....

Ficou gravada  a semente do que viveste.

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Maior é o pão...navegação de fome

Antigo aprumo de saberes...fonte de luz

Quem nasce dentro de uma memória

Cresce na extremidade de um poema

E desperta em cada amanhecer.

Caixa de segredos...

Sou o guardião da tua caixa dos segredos

Recito verdades pela manhã e tenho olhos profundos à noite

Viajo como um bicho sem graça pelos versos quentes e doces

E exalto a luz ávida pela escuridão das palavras impronunciáveis

Vivo num miradouro que procura os teus olhos assediantes

Como os caprichos encantados de uma tentação salgada

Onde os vastos desejos proibidos fumegam como cachimbos de água.

Mostra-me esses olhos que se agitam no fundo de um mar negro

Como se fossem coisas nossas... e que gritam longamente pelos vestígios da mágoa

Reunamos então as orquídeas espalhadas pela desesperança

Num enorme ramo de mistérios aspirados pelo coração

E que um dia....talvez...

Requintadamente... enfeitem o nosso misterioso aperto na alma...

O vento do tempo

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Dissipa-se pela noite o perfume de uma luz azul

O tempo perde-se nos confins dos segredos

Os meus olhos tocam os pequenos naufrágios da alma

A noite embala-me...como se eu fosse uma estátua impermanente.

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Memória gravada no estreito caminho da pedra

Tempo de outros tempos a ecoar nos desertos da memória

Rostos naufragados na construção do seu mundo

Beleza pura perdida no vento do tempo.

 

Luz...

Temerosos dos vagidos incandescentes da razão

Dizemos palavras mortas à porta da cidade oscilante

E bradamos essas palavras às raízes magoadas

Como se fôssemos condenados a seguir espectros que gritam:

Eis os crepúsculos ancorados na miséria

Eis os nus desenrolados nos cobertores

Eis os suspiros das sombras negadas...comungadas...excomungadas

Eis o Divino a comer as almas...como uma estátua seca...

Lá vem a adoração da luz esfomeada

Lá vem a vida íntima dos Santos

Lá vem a cruz cambaleante com a carne pendurada....ácida

Oh que terrível tragédia nos assedia a sombra

Ah que terrível ser reflete a luz abissal do coração

Essa luz que nos pinta a carne e a entrega tingida de vermelho

Aos dias cheios de esqueletos virtuosos mas condenados

Como se fossem moedas falsas...

Mas nós que pedimos luz...mais luz...chamuscante e solitária

Luz que inunde toda a nossa superfície solar da alma

Luz que nos pouse na lápide..alumiando o nosso nome

Luz ignorante...incompreensível...dramática

Luz gemente...triturante...fornicadora...

Luz risonha... que todos os dias assiste à nossa tragédia!

Dúvidas

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Olhos de labirinto...buscas de desconhecido...curiosidade

Corrente de oceano mudo...esguio fio de saber

Intocável dúvida...interrogas os meus olhos...

Ou sabes que sou uma sombra escondida num arbusto?

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Luta pela vida...claridade de ser

Austero fundamento da sobrevivência

Da morte...a vida...tudo tão próximo

Provérbio...sabedoria...

Concreta cal que nos espera.

Relógio

Bailam pássaros naquele jardim. Oblíquos voos de tarde envidraçada. E eu espero. Submerso. Numa continuação de azul e mar. Podem-se erguer a taças e brindar a um qualquer paraíso. Esse paraíso que só existirá para além do nosso olhar. Para além de todas as profundidades que possamos beber. Para além de uma obscura espera onde um exótico tempo está suspenso. Enquanto em volta de nós brilham cantos de cisne negro. Nunca saberemos quantos solstícios se passeiam na lonjura da nossa aflição. Nem a quantos corpos pertencemos. Nem quantas aves rolarão pelos instantes que nos afligem. Bebamos então a essa nossa claridade. A essa nossa abstenção de nós. A essa roxidão que se suspende na nossa garganta. A esse relógio de tédio que em vão conta o nosso tempo.