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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Destinos

Sou uma gota...um rosto que bebe o mundo...como quem desembrulha uma prenda

Sou um Tempo... que não tenho...um grito deambulante pela cidade vazia....

Sei o nome das pedras...escuto o infinito...pinto-me de luzes condenadas...

Não cabe mais ninguém em mim...estou cheio como uma luz grávida...

Ou um destino que cresce em vagas sobre a saudade de um riacho...

Bosque impregnado de sombras luzidias balançando sob os plátanos...

Sou a dança de luz ...vazia ...agitando-se sobre a poeira...

Pés marcados na cinza do caminho...escuro...segredo de sombras espessas...

Rio de habitantes alados...que desconhecem o balancear dos corpos em transe...

Corpos que se desvanecem sem ruído...que se perdem na floresta inumana...

Ornamentados de escuros cetins...como cascas de árvore vestindo um espírito magro

Vogando a favor da corrente...foz de monstros...paz espezinhada na sombra do chão...

Que caminha sobre o orvalho de um Tempo...feito de histórias e embriaguês...

Obra de medos que nos carregam...como cântaros de sonhos sobre a cabeça...

Alucinados festejos...roupas rasgadas...magros meses encharcados de dúvidas...

Cuspo que engravida as mãos calosas...gastas...esparsas...

Como um lugar secreto por onde os corpos se amam e o amor escorre!

Uma sugestão

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Em 1947 Camus publicava - A Peste . O livro trata de uma pandemia que se instalou na cidade de Orão na Argélia, país de nascimento de Camus. Podiam os políticos ter aprendido muito com o escritor, (se o lessem, os Trump, Bolsonaro e todos aqueles que minimizam a actual pandemia.

Eis um pequeno excerto: " Depois dirigiu ( o dr. Castel, personagem que no livro sabe perfeitamente o que se está a passar, uma vez que já tinham morrido várias pessoas com os mesmos sintomas) um olhar benevolente à assistência e declarou que sabia muito bem que era a peste, mas que, bem entendido, reconhecê-lo oficialmente obrigava a medidas implacáveis. [...e que, portanto, estava disposto a admitir, para tranquilidade deles, que não era a peste."

Ironia

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Muro branco...espelho de vida...refletida...

Sombra e luz...amor e pedra...dura...

Sombra que mostra o acto dos corpos

Em silêncio...em comunhão...

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Lua pousada na buganvília em flor

Noite pousada nas folhas da vida

Rosto de imensidão...escuro de todos os destinos

Abandono de alma...fina ironia da noite...

Que se dane o mundo

Magro sopro aflito....lento desfiar de horas...eira trigo Egipto

Mordaça na boca a tapar verdades...caule de palavra...zinco de saudades

Peito de enseada...abrigo de instante...sonho de bocejo...pétala reluzente

Hemisfério de vida...ópio ocultado...ocaso de beijo...acaso de ferida

Num instante vejo...ternura aguardada... num instante perco...o fio da meada

Num claro-escuro brilho...despojada fonte...a água já não corre...já só sobe o monte

Fantasma de ventre...pertinaz aurora...chega de ser gaze... na ferida que chora

Chega de ser fundo...chega de ser poço...vi o fim do mundo...a naufragar num moço

De estrada sem sala...lenta vasta insana...vi fome na bala...

Vi sombra na cara...quem dispara o sonho? quem ri de si?...tristonho

O fogo o fumo...o cristal do ar...que se fine o cheiro...que se dane o mundo...inteiro.

Arquipélago

Quero no meu mais profundo grito se abrigue o sonho visionário das memórias

Quero que todos instantes sejam visões de remotas ilhas inexplicáveis

Onde o assombro começa nas chagas das papoilas

E os porquês egípcios rejubilam nas maçãs do rosto de um qualquer tempo imaculado

Quero perdurar por dentro da circuncisão da terra

E revelar o segredo íntimo das medusas

E esperar... esperar que os corpos se ergam como fotografias de mármore

Depois... quero voltar ao instante em que os dedos cansados

Desenham ternura num papel imaculado

Mostrando-me os vertiginosos arquipélagos

Que despertam na orla embriagada das gaivotas.

 

Espaço

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Rústico muro....portão de ferro...entardecer de cobalto

Sina de lua a espreitar o mundo

Sina de homem a espreitar a lua

Sina de esperança a aguardar a noite.

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Solitário campo onde a tarde cai

Imensa mata escura onde a vida nasce

Imenso laranja puro...onde os olhos tecem...

Espaços!

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No vaso a flor...no ar a calma

No espaço o ardor... do tempo...da alma...

Rasgos de vida

Olhar parado nas costas do destino...cálice de mundo...pequenino

Mar de nuvem...folha de verdade...respirar exige... um peito imenso

Rosa amarela...medo da saudade...tempo de sorriso...flor rara de incenso

Regato de ouvidos...verbo de muitas cores...turva é a janela...geração de dores

Funil de verdura...permanente quarto...longe está o dia...perto está o barco.

 

Turva e branca sede...escuro engodo laço...negas que já foste...o sol do meu abraço

Água perfumada...lume e mansidão...bela esquina ácida...dor de coração

Teia de placenta...murro de memória...rua foz de menta...espelho de história

Veias gotas voz...dias fios invernos...além vais tu fechada...aqui vou eu enfermo

 

Rasgo esta cidade...com fios de pele a prumo...bebo a novidade..emborco o fel sem rumo

Azul de grito opaco...verde relógio d´água...fresca tarde insana...frio calor de mágoa

O teu braço agita...treme leve a terra...anel de sol que grita...exangue verdade encerra

E agora tu pequena... feliz pulso de verão....ágeis dedos correm...na pele de mansidão

Ar na mão fechada...torre de silêncio...morte perfumada...grito em suspenso...

Vida túnel cortinado...cobrindo a janela...do silêncio.

 

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