Fluindo...fluindo...
Envolvo-me no tempo. Levito nessa abstracção. O tempo é uma poeira. Um medo. Uma alma de chuva a rodopiar no infinito. O tempo continua. Impassível. Solícito. Em cada um a cinza do desespero. A regra magnética dos dias. A tina onde abafamos os gestos e as palavras. Temos em nós o frio. É a nossa quota parte dos sentidos. Do fundo de nós erguem-se sons. A vida é vulgar. A vida é barro que nos molda. Sim ! Não somos que nós moldamos o barro da nossa vida. Em nós vive a alma de todas as coisas. A realidade é o fruto invisível do sonho. A aurora impregnada de névoas. Os sons celestiais. Somos seres de interior. De interiores. Temos raízes. Temos ramos. E supomos que nos falta qualquer coisa. Que nos falta sempre mais qualquer coisa. O sonho a alguns. A alegria a outros. Nascemos impregnados de lendas. De cismas. Pisada a lama...lá fica a nossa marca. Inúteis reflexos de nós. Abocanhados pelo destino somos a folha seca. Bela. Dourada. O outono fita-nos boquiaberto. E o amor é uma escadaria granítica. Subimos. Descemos. Inconscientes de que tudo nos devora. Das coisas que nos devoram. No alto...a noite. No olhar...uma estrela. Um cada nada um tudo. Em cada momento um mundo. Fluindo...fluindo...