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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Fluindo...fluindo...

Envolvo-me no tempo. Levito nessa abstracção. O tempo é uma poeira. Um medo. Uma alma de chuva a rodopiar no infinito. O tempo continua. Impassível. Solícito. Em cada um a cinza do desespero. A regra magnética dos dias. A tina onde abafamos os gestos e as palavras. Temos em nós o frio. É a nossa quota parte dos sentidos. Do fundo de nós erguem-se sons. A vida é vulgar. A vida é barro que nos molda. Sim ! Não somos que nós moldamos o barro da nossa vida. Em nós vive a alma de todas as coisas. A realidade é o fruto invisível do sonho. A aurora impregnada de névoas. Os sons celestiais. Somos seres de interior. De interiores. Temos raízes. Temos ramos. E supomos que nos falta qualquer coisa. Que nos falta sempre mais qualquer coisa. O sonho a alguns. A alegria a outros. Nascemos impregnados de lendas. De cismas. Pisada a lama...lá fica a nossa marca. Inúteis reflexos de nós. Abocanhados pelo destino somos a folha seca. Bela. Dourada. O outono fita-nos boquiaberto. E o amor é uma escadaria granítica. Subimos. Descemos. Inconscientes de que tudo nos devora. Das coisas que nos devoram. No alto...a noite. No olhar...uma estrela. Um cada nada um tudo. Em cada momento um mundo. Fluindo...fluindo...

Caule partido

Horas de incerteza...incríveis rios...profundos horizontes

A profundidade das luzes a derramar-se no cálice do mar

Há nos dias cinzentos...

Um enorme delírio de olhos perseguindo a sombra dos ciprestes

Há nesses dias...

Uma profundidade escondida nos minutos

Que se desdobram pela secura das tardes

Fecho os olhos...

Vejo incríveis lugares onde repousa a serenidade muda dos prados

E é lá que amanhece...

É lá que tu me esperas nesse lugar onde crepita a mansidão da planície

Será delírio ou existe mesmo um lugar onde eu possa renascer?

Será delírio ou existe mesmo esse lugar...

Onde a alma se transforma em ave solta no bravio do céu?

Hoje lembrei-me dos dias...

Em que os teus cabelos se deitavam nas concavidades da areia

Desses dias onde a chuva descansava na tua boca...e na minha...

Dias onde se fundia a nossa vontade de sermos ar e sangue mineral

De nos perpetuarmos na febre que amanhecia junto a nós...

Como um aroma de alfazema que se extraviou....

E agora se agarra desesperadamente ao nosso corpo

Mas já nada existe...já não sentimos a fome de nós a devassar-nos o corpo

Nem sentimos a sede de um sono a deslizar pelos nossos dias

O luar esvaziou-se de nós...

A chuva perdeu-se na profundidade dos mares

Somos agora um mineral...

Completamente solto a escorrer pelas encostas escarpadas da saudade

Ou um caule partido...

Que voga no calor de um corpo arrefecido...

Como é fácil viver

Como é fácil viver. Como é fácil fechar os olhos. Como é fácil descobrir o interminável caminho do que é insignificante. É fácil caminhar por dentro da alma. Fazer ruir essas portas de prisão. Simular que tudo é nada. Que a vida é um livro. Mesquinho. Atabalhoado. E do nosso mais profundo subterrâneo emerge uma força. Um significado. Uma banalidade. É fácil acordar e esquecer a imensa usura dos dias. O desabafo do que não queres ouvir. O desabafo do que não desabafa. Do que se transfigura em silêncios. Sentir. O frenesim da solidão e do que é misterioso. Sentir que o espanto é como um fel. Um tremendo sentimento. Sentir o frágil ser que nos separa da vida. Que vive dentro de nós. A insignificância de tudo o que fazemos. De tudo o que dizemos. Todos os instantes são apenas um. Todos os dias são apenas um. Somos a significação de algo que não sabemos. Somos o absorto desabar do destino. Astutos alguns. Agrestes outros. É preciso perceber as regras da loucura. A loucura. Esse estado anestesiado da realidade. Essa mesura de alegria inconsciente. Atrás de nós está outra coisa. Dentro de nós está outra coisa. Escondida em nós está outra coisa. Qual coisa? Desconhecemos! Mas é fácil viver. É fácil deixar-se entranhar pela luz. É fácil sentir que a nossa alma se levanta quando não nos curvamos. É fácil conhecer o nosso drama. E coabitar com as nossas desilusões. Porque somos minúsculos. Somos detalhes. Somos impacientes. Somos respeitáveis. Por isso nada melhor que nós. Nada melhor que aceitar a nossa incongruência. Nada melhor que sentir que o céu está muito longe. E que a nossa solidão tem o peso da vida.

A nossa fragilidade

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Jack London, (claramente inspirado na Peste Negra que dizimou grande parte da população mundial em 1348), publicou a Peste Escarlate em 1912. Este livro de ficção fala de uma pandemia que irá assolar o mundo em 2013. Esta nova estirpe de um vírus desconhecido irá pôr em evidência as fragilidades da nossa vida no planeta.

 

Com a morte de quase toda a população mundial, os poucos sobreviventes regressam ao estado selvagem. Tudo o que consideramos básico, banal e garantido, deixa de existir. Deixamos de ter água nas torneiras, não há electricidade, comida, ( as pessoas têm que voltar a caçar e a pescar para se alimentarem), roupa, etc.

 

Este livro visionário,( um pouco à semelhança do Ensaio sobre a Cegueira de Saramago), por em evidência não só as nossas fragilidades, como também os nossos egoísmos. Perante algo maior que nós, ficamos a pensar na inutilidade das guerras e do dinheiro. A pandemia,  é algo que nos mata mas que ao fazer-nos voltar aos tempos primitivos é algo que nos redime. É uma lição.

 

Podemos pensar que isto nunca acontecerá. Que estamos tão desenvolvidos que vamos conseguir superar todas as dificuldades. A verdade é que não sabemos. Lição dos tempos ou aviso de que temos que nos proteger?

 

Bocas lavadas...

Eras tu a rota...a dança...o passo de magia

Eras a resina mastigada das flores

Eras a prece feita de melancolia

Eras o anjo feito por um destino salvador

Na sombra oculta do mar lavado

Ergueram-se soturnas aves assombradas

E o sal luzia no espanto das ondas

E tu corrias pela noite de areia

E eu afundava-me nas pedras que o teu corpo ocultava

Era outro o tempo...era outra a idade

Éramos dois sóis a clarear a orla do dia

Éramos duas imagens de sol a pôr

Com os cabelos nus como crinas cristalinas

E havia um tumulto deslumbrado nas areias

E havia um bailado de moreias

E houve uma primeira noite na orla do voo das águias

E houve no centro de nós uma consciência múltipla

E então erguemo-nos...como bosques nus....

E então poisámos sobre a espuma

E habitámos a planura do vento

Quebrando o espaço...mostrando ao tempo

Que o sonho vem do nevoeiro

E que nas dunas...as flores agoirentas

Ainda suspiram pela fantasia

Das nossas bocas lavadas pela... maresia...

O riso dos lírios

Eis que o silêncio se transforma numa cidade

Eis que o suor se apaga com o lento respirar dos instantes

E tu pensas...tu queres... tu achas...

Que o sangue que te sobe à cara é um inverno a arder no fogão da sala

Que a luta que empreendes contra os arquipélagos pejados pelos teus fantasmas

É uma festa de feras que circulam no vasto império da tua estreita rua

Como se fossem donos da tua vida...

Como se te expulsassem do teu silêncio

 

Purga...explosão...gruta em que a tua sede se explica

Magia de insecto que explode na maciez da pele

Doirada bruma...coração de relógio

Fincas os pés nas palavras e bebes o sumo da fruta divina

Tens em ti toda a extensão dos segredos...

Pedra de ponte azul...cambiante de margem

É junto ao mar que o céu se apaga e tu cresces

É lá que o vento te leva pela porta da verdade

 

Se eu existo...se tu existes...se o chão é uma brasa afogueada

Então o estalo das folhas a varrerem o ar revoltoso

É uma expressão de vida...de sede...

De punhal liso a cortar o leitoso riso dos lírios.

 

Os passantes...

Estes que passam. Aqueles que passam. Todos pisam as mesmas lajes gastas pelo silêncio. Todos sentem os restos dos dias encravados nas ruas desertas. Um esforço. Só mais um esforço. Para subir essa íngreme escada de pedras ancestrais. Esses que olham e se sentam nos jardins. Esses que pisam as folhas que o inverno abandona. Esses que acarretam a invisível cinza do tédio. Esses cujo tempo lhes corroeu a feição da alma. A esses que crescem em imutáveis humidades e bolores. Que tecem teias grotescas. Que soterram sonhos em vastos campos irreais. Que se encerram em invólucros de que não podem falar. Esses sabem que todos os dias as pedras se desgastam. Que todas as músicas se podem escutar. Que a luz do sol se entranha nos corredores mais sombrios. Quando a alma não é postiça. E o tempo que lhe é reservado...é uma insignificante migalha de riso. Uma frágil persistência que atravessa os séculos. Uma humilde espera. E uma mentira colorida pela esperança. Esses são aqueles que nada esperam. Petrificados. Roídos até ao tutano. Olham em volta e só vêem...um dia,uma semana, um ano. E camada a camada. Pingo a pingo. Evaporam-se. Dramáticas clepsidras dobando o jogo da vida...e da morte.

Leves são as sombras

Leves são as sombras que respiram na suavidade dos teus olhos

Enfeitam as nascentes onde a hera se cobre com celestiais luzes

Em ti pressinto o pórtico onde o Destino fala à alma

Em ti visito a flor dourada que nasce na quentura do teu coração

Antes de ti... havia uma escada sem fim e sem começo

As pedras eram secretos caminhos cravejados com folhas de bronze

Visitemos as serras e as falésias frias...os abismos...as lamentações

Um dia todas as folhas te enviarão mensagens..

E mesmo as que habitam estranhas árvores te conhecerão

Porque eu..humilde bússola enfeitiçada

Irei até junto das mais longínquas costas..serei a tua minúscula luz imortal

Porém...por entre todas as verduras se erguem castelos

E nos cumes escarpados se pressentem anos de silêncio

Um silêncio que recorda...

O insaciável desejo de Redenção do Homem.

Pela nossa liberdade...

Ao lado dos profetas da desgraça temos os profetas do desconfinamento. Os profetas da liberdade. Sim! Não se pode cortar a liberdade de expressão mesmo que certo congresso seja uma forma de desrespeitar quem luta nos hospitais pela nossa saúde.

 

Se o níveis de contágio aumentam, confina-se. Se os níveis de contágio diminuem, desconfina-se. Assim, vamos de confinamento e desconfinamento em  confinamento e desconfinamento, com o número de mortos e internados sempre a aumentar, até à vacina final. A vacina essa mística figura da nossa salvação.

 

Pergunto, sabendo todos nós que o desconfinamento dá origem a um maior número de pessoas infectadas, porque não manter o confinamento? Falo de, por exemplo, manter sempre o recolher obrigatório,( não este das 13 horas ao fim-de-semana), mas um mais realista, em seja obrigatório o recolher durante a semana às 23h e ao fim-de-semana às 20 horas.

 

Quem é que ainda não compreendeu que o vírus não tem contemplações com medidas que não sejam realmente obrigatórias e duras? Também é preciso recordar( é preciso?), que o que estamos a viver não é para sempre. É temporário. Por isso não me venham com as tretas da liberdade. Eu que vivi no tempo em que era proibido falar contra o governo, situação que durou 48 anos, não percebo como é que agora estes choramingas das liberdades,( não é só a extrema esquerda, uma direita também dada a extremismos alinha na mesma opinião), não conseguem suportar uns dias ou meses em que a mesma seja um pouco reduzida.

 

Compete ao governo implementar medidas, e sabemos que têm que ser as mais difíceis. Mas caramba, comparar a nossa mordaça à dos norte-coreanos,ou com a da jornalista chinesa Zhang Zhan,que pode apanhar 5 anos de prisão só por ter feito uma reportagem emWuhan sobre a covide,  é comparar p...com marmelos. Por isso as medidas mais gravosas deveriam ser mantidas até ao fim da pandemia. Para defesa da nossa saúde. Para defesa do SNS. Para defesa da nossa liberdade de reunião com família e amigos.

A minha bóia.

No rosto do céu reside o mistério...a dor...a aurora

No sonho do sorriso está a vida...a viagem...o sol

Estranhas brumas derramam-se pelas noites

Corremos o mundo como se fôssemos feitos de esquecimento

Os nossos corpos despojados

Foram feitos para adormecer dentro de rostos felizes

Tudo se reflete nas paisagens...o prazer...a eternidade..

Tu e eu fomos feitos de todos os prazeres

Fomos bosques e pássaros...pradarias nuas...

Pálpebras prometidas à natureza

Deixemos que o universo marque o ritmo do nosso corpo

Esse estranho corropio de imagens...

Encerradas em pele e olhos brilhantes

Os teus seios entreabrem-se como nuvens paradisíacas

Longos pássaros descem sobre a nossa carne raiada de fogo e paixão

Prometo-te que o Universo durará para sempre...

E que dentro dele estarei eu...também sempre...à tua espera

E...como um sol que se levanta no pulsar das palavras...

Digo-te que és o meu sufoco...a minha luz enternecida

A minha água açucarada...

A minha bóia.

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