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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Infinito

Tu o és espelho que me prolonga

Tu és a minha definição de infinito...

A minha pátria...a minha leveza

E sobretudo...

A minha razão causal de existir.

O teu luminoso riso apazigua os meus murmúrios

A tua sombra é o meu céu

E és também a folhagem que se agita...

Dentro do meu coração.

Bom ano 2021 para todos

Fujo para dentro de uma tempestade. Uma tempestade que não sei. Que desconheço. Uma tempestade de interrogações. De dúvidas. De incertezas. A vida. Escrutínio jocoso. História interior de mim e da cada um. Silêncio estático. Imprevisível angústia. Erótica dança. Fora de mim a metáfora. Dentro de mim a extraordinária essência de uma  dança invisível. Alucinação de monólogo interior. Tudo cabe no eixo da vertigem. Tudo gira na imaginária cabala dos dias. Cada ano a renascer em cada um de nós. Ilustração do imaginário. Espaço onde pulsam as sensações e os sentimentos. O amor. Os sonhos. Os fantasmas. A espuma que nos alimenta. O cadafalso que nos condena. A vida. Demência exterior. Demência de mundo interior. Epopeia do futuro.O elo que nos abre a porta. O ano novo. A esperança.

 

Bom ano 2021 para todos

Dez pensamentos

I

A viagem começa sempre nos nossos pés.

II

Todo o Homem é um fim e um começo...e nada mais é... que um caos inexplorado...sempre sedento de si...

III

A poesia é o real transformado em belo...

IV

Quando  submergires na noite...recorda-te que a manhã trás a neblina do dia desconhecido.

V

Olho as horas que correm sobre as pedras imóveis...

e nessa distância de mim...acredito que as palavras não sofrem...

VI

Gostamos de gostar e gostamos que gostem de nós. Mas todo o gostar pressupõe conhecer.

VII

O Homem é tal e qual uma árvore enxertada com diversas espécies de plantas

O tronco é um só...

Mas dos ramos nascem ideias como se o Homem fosse constituído

Por manhãs e noites onde as palavras adquirem o veludo do barro

Ou a aspereza de um desejo embutido num alvéolo de utopia.

VIII

Aquele que não ama...ignora o que é ser amado. Mas o que ama também ignora, porque nunca saberá qual a intensidade do amor que os outros sentem por si.

IX

Para se sentir a poesia é preciso lê-la em voz alta, dar-lhe a entoação correcta, construir cada frase dentro do espírito, não é preciso ser poeta...mas é preciso possuir a alma da poesia.

X

É o homem que constrói a sua realidade...dentro do sonho irreal que é a vida.

A todos um bom Natal

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É preciso pensar. É preciso olhar em frente. É preciso ver a tarde e a rede que se agita ao vento. É preciso olhar de frente a claridade dos espelhos. Mergulhar no tempo febril. Buscar o vão que há na vida. É preciso pensar no que é obscuro. No que é baço e vazio. Na treva rubra do silêncio. É preciso olhar de frente a clara luz refletida na areia. O rosto reflectido na brancura dos muros. O perfume recto do pranto. É preciso pensar. Nas portas que nos rodeiam. Na consciência das grutas onde o tempo se esconde. É preciso olhar de frente as ausências. Fechar o tempo em pequenos quartos. Dobrar os cabos. Ausentar-se dos lugares antigos. Dos sentimentos antigos. Esquecer o súbito primeiro passo. O passo que nos trás a saudade. É preciso voltar e não voltar. É preciso conhecer a rebentação das vagas. A impetuosa corrente dos rios. A longa estrada e a sagrada poesia escondida na orla do nevoeiro. É preciso olhar de frente. Os temporais. Respirar os temporais. Escutar as sombras da maresia. É preciso percorrer a escuridão e a secura das terras. Sentir a sede das paredes caiadas. Olhar de frente a púrpura luz do vazio. É preciso desenhar sóis na aspereza das almas. Enfrentar as caóticas cidades. Renascer em todas as horas. Nas tardias e nas matinais. Mas...renascer sempre. É preciso ascender aos cânticos das gargantas roucas. Permanecer na imanência dos segredos. Ascender à alucinação das coisas. Dominar os desertos. Ser puro como as planícies. Ser a espora com que se espicaça a vida. Conhecer a medida do infinito. E ser...a imagem pura de um eco habitado por fantasmas. Para...sem medo dos átrios sombrios...esculpir a vida. Aceitar o brilho saturado de desânimos. E erguer-se no canteiro...onde floresce o pasmo de se estar vivo.

 

A todos um bom Natal

Estremecimento

Esta distância que não passa

Este nevoeiro que arrefece

Este vento que me lembra

O frio dia que estremece

Esta noite que aquece.

 

Esta multiplicação de tempo

Este rumor de luz

Esta seara de alento

Este passar de fogo

Esta límpida agonia

 

Esta tua imagem sólida

Este meu silêncio de treva

Esta estrada onde rolam

Labirintos de alma e neve

 

Este instante de disfarce

Este murmúrio de lua

Este abafado deserto

Este mundo de luz crua

 

Este rápido véu

Esta chama de alento

Este meu liso descampado

Onde me esperas sorrindo

E onde eu te encontro

Dentro de um sonho

Para dentro do o qual eu vou...

Caindo!

Nada para além da luz

Folha de liberdade...caos de prata

Isolada montanha a olhar o mundo

Murmúrio de mentira...estrela em fusão

As palavras são insignificâncias

Os cascos martelam os dias

Confissão ou mania...inútil ser

A mentira assola o dever...

De suportar a vida.

 

Nada para além da luz

Nenhum rosto nas estrelas

Fictícia folha a representar o sonho

Inútil melancolia a proibir o mundo

Metade paz...metade logro

E a outra metade a azedar

Num intolerável e inerte dever

O alicerce de vento...que cobre o tédio

Que levanta do chão

A apagada construção de nós.

 

Os vestígios de um homem

Vejo esse homem. Navego por esse sonho de momentos. Absorvo essa tarde que se fixa na ignorância das coisas. Sinto a luta violenta entre o que existe e o que não existe. Nada sei de existências. As existências são apenas vestígios. Actos de lágrimas despercebidas. Limites de silêncios. Suspensões de flores. Garridas cobardias. Audácias de estremecimentos. Vejo a sofreguidão do destino. A nódoa escura no ventre das casas. A palidez profunda do que não deixa vestígios de si. A concentração do absurdo. A fé na mais bela crença. A respiração da imortalidade. O bafo de um pássaro. A ferida do átomo. O cinema da realidade. A queixa da sombra. O espanto indescritível da suspensão dos sonhos. A paz do irreal. A convulsão dos desejos. E uma ou outra contradição.  E vejo os vestígios de um homem a acenar...ao nada!

O tempo da família...conto de natal

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Foi há muito tempo que aconteceu. Era um bairro operário. Um bairro onde todos eram pobres. Um bairro onde ninguém possuía carro ou televisão. Nesse bairro havia uma família que era a mais pobre de todas. Eram onze filhos mais o pai e a mãe. Naquele tempo só os homens trabalhavam fora. Quase todas as mulheres eram domésticas. Nessa família, o filho mais novo, pequeno e raquítico, por vezes ia a casa de uma vizinha pedir algo para comer, mas dizia sempre para não contarem ao pai. Mas naquele dia não foi assim. Era dia de natal. Nessa manhã, a criança foi bater à porta da vizinha e chamou o filho, que era amigo dele, para irem brincar. E foram. O filho da vizinha perguntou-lhe a que iriam brincar! Vamos brincar aos cavalos – disse o outro. E como é que vamos brincar aos cavalos? - perguntou o amigo. É assim,(o menino mais pobre tinha trazido uma corda e passou-a por cima dos ombros e por debaixo dos braços, a imitar os arreios do cavalo), tu agora pegas na pontas e vamos correr. E foram. Após alguns minutos o menino que fazia de cavalo parou e disse que o cavalo estava com fome, e como o amigo era o dono do cavalo, tinha que o alimentar. O menino menos pobre foi a casa buscar pão para o cavalo. Pouco tempo depois repetiu-se a mesma história. E depois aconteceu novamente o mesmo. A mãe do menino menos pobre achou aquilo estranho e perguntou ao filho o que se estava a passar. Este explicou o que já sabemos. Então a mãe convidou o menino mais pobre para almoçar com eles. Ele disse que não. Como era dia de natal ele tinha que estar com a família.

 

 

Um não-conto de natal

Chegou o natal. Os meninos que eram pobres...continuaram pobres. Os meninos que tinham fome...continuaram com fome. Os meninos que andavam descalços...continuaram descalços. Chegou o Natal. Os homens que eram cegos continuaram cegos. Os homens que eram indiferentes continuaram indiferentes. Os homens que eram desesperados continuaram desesperados. É natal. As luzes acendem-se. As guerras continuam. Os sinos tocam. As estrelas alumiam o céu. É natal. Os olhos brilham. Os milagres não acontecem. É natal. Umas mãos tocam o sonho. Outros sonhos não têm mãos que as toquem. É natal. Mesmo para os que não têm família. Mesmo para os que não têm casa. Mesmo para os que não têm um pinheiro enfeitado com luzes. É natal. Mesmo para os que não têm ceia. Mesmo para os que têm os rostos vazios. Mesmo para o que não têm como o celebrar. É natal. E não se deram as mãos. Não se abraçaram aqueles que não têm quem os abrace. Não se condoeram da solidão aqueles que se deviam condoer. É natal. Não sei se Jesus sorriu. Não sei se Jesus percebeu que há crianças sem Reis Magos. É natal. Não sei se os homens perceberam...que este podia ser o dia da mudança. O dia da humanidade. O dia da iluminação dos rostos...e da alma. Quando chegará o verdadeiro dia de natal?

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