Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

Poemas da juventude....

Estar triste é sentir

algemas no ventre da razão

e eu fico assim

quando tu dizes:-não!

Estar triste é chorar diante de mim

é querer gritar e não ter voz

é estar numa prisão

e uma lágrima cair

até ao coração.

Estar triste é querer escrever

o teu nome com as estrelas

e não conseguir.

 

escrito algures entre 1979 e 1980

Instantâneos...

O Chega votou contra a lei da eutanásia e votou contra o confinamento.

O Chega não quer que as pessoas em sofrimento intolerável escolham morrer. Prefere que as pessoas morram pelo esgotamento da capacidade dos hospitais para responder à pandemia. O Chega quer o caos e a confusão...vive disso e da eutanásia da memória.

Curioso...o PCP votou de igual modo nas duas situações.

 

Muita gente acha,( hipocrisia política), que a culpa é do governo pelo descambar da pandemia, por este ter facilitado as deslocações na Natal. Contudo se o governo tivesse proibido essas deslocações, caía o Carmo e a Trindade. O governo era um criminoso que não permitia que as pessoas tivessem um santo Natal.

Agora digo eu...se o governo tivesse proibido as deslocações, a pandemia ia aumentar da mesma forma. As pessoas iam juntar-se quer o governo quisesse ou não. Possivelmente agora a oposição arranjaria outra forma de culpar o governo e desculpar aqueles que prevaricaram.

 

E para acabar....nunca vi tanto cócó de cão nos passeios como agora. Mais um exemplo de civismo. O cãozinho vai passear o dono , mas o cócó fica lá...depois os funcionários da limpeza apanham.

 

Os livros são...pessoas!

Todos os livros esperam uma mão que os desfolhe. Todos os livros esperam um olhar que os acolha. Todos os livros esperam a estante onde podem descansar. Todos os livros ganham vida na casa de quem os possui. Todos os livro são máscaras e campos floridos. São presença que se implanta na memória. São pupilas brilhantes. Os livros estendem as suas palavras como se fossem dedos que nos agarram. São fontes de luz e transparências de cristal. São libertações e castiçais. São vislumbres de pensamentos e espuma de mares desconhecidos. Os livros possuem-nos. São céus azuis e límpidos espantos. São serenas tardes e mornas madrugadas. São corredores e navios. São claridades e barcos. Cais e ruas. São perfumes e suspensões de vazios. São auréola de dias tristes. São braços e vento e pátria. São brisas frescas e searas de cristal. São pássaros vermelhos e garras de lua. São baloiços e árvores. São correntes de pensamento que fluem em rios tranquilos. São pequenos raios de sol e extasiadas borboletas. São longas vidraças por onde espreitamos céus e abismos. São vibração e folhas caindo. São dança de lua e face de planície. São força e caverna. E acendem-se em nós como um vitrais de ouro que nos penetram. São pássaros azuis e florestas de cristal. Os livros são palavras dentro das pessoas. Os livros são palavras com pessoas dentro. Os livros são...pessoas!

 

Uma vida no Nosso Planeta

capa 34.jpg

(A primeira visão do planeta Terra a partir da Apollo 8 - uma imagem que transformou o modo como percepcionamos o nosso planeta e nós mesmos)

Comecemos por alguns dados:

1937 

População mundial :2.3 mil milhões

Dióxido de carbono na atmosfera : 280 partes por milhão

Áreas naturais que restam : 66%

1960

População mundial :3 mil milhões

Dióxido de carbono na atmosfera : 315 partes por milhão

Áreas naturais que restam : 62%

1997

População mundial :5.9 mil milhões

Dióxido de carbono na atmosfera : 360 partes por milhão

Áreas naturais que restam : 46%

2020

População mundial :7.8 mil milhões

Dióxido de carbono na atmosfera : 415 partes por milhão

Áreas naturais que restam : 35%

Para percebermos o que estamos a fazer ao nosso planeta, os microbiólogos têm um gráfico de crescimento com o mesmo contorno, ( um planeta fechado, é esse o fundamental da imagem, não temos outro) e sabem como termina, e é da seguinte forma:

Colocam-se várias bactérias, ( nós os homens) numa placa de laboratório estéril e hermética - um ambiente perfeito, livre de concorrência,  dotado de nutrientes abundantes,(a placa - a Terra, os nutrientes- tudo do que tiramos partido para a nossa sobrevivência),as bactérias demoram algum tempo a adaptar-se ao novo meio, é o período de latência, (para nós é o tempo em que vivíamos em comunhão com a natureza, tirando partido dela mas respeitando-a).

Este período pode durar apenas uma hora ou vários dias, ( milhares de anos para o homem), mas termina de súbito - as bactéria resolvem o problema de como aproveitar as condições da placa ( Terra) e começam a reproduzir-se dividindo-se a uma cadência que pode duplicar a sua população de 20 e 20 minutos,( uma centena de anos para o homem). Assim começa a fase exponencial.

As bactérias separam-se e espalham-se em vagas sucessivas pela superfície dos alimentos. Cada bactéria agarra o seu quinhão e apodera -se daquilo que precisa. É uma competição. É o cada um por si. É também um tipo de competição que não acaba bem num sistema fechado, ( a Terra e o Homem).

Quando as bactéria se reproduzem em tal número que chegam à borda, cada célula individual começa a agir contra todas as outras, ( a luta pela sobrevivência), ao mesmo tempo. Então os alimentos começam a desaparecer. Os gases produzidos ( poluição), começam a acumular-se e a envenenar a uma velocidade crescente. As células começam a morrer. As mortes acontecem exponencialmente devido a um ambiente cada vez pior. Chega o momento em que a taxa de natalidade e de mortalidade se igualam. Atingiu-se o pico, ( ainda não atingimos o pico mas já ultrapassámos algumas barreiras). Mas num sistema finito e fechado, ( a Terra), isto não se prolonga para sempre.

Os alimentos começam a esgotar-se ( não sabemos até quando a Terra pode alimentar um crescente número de pessoas).Os resíduos acumulados tornam-se mortíferos por toda a placa( a poluição actual). A colónia morre tão depressa como surgiu ( estamos perto de uma extinção em massa, isso já está a acontecer com várias espécies de peixes, aves, etc. ( continua)***

***Texto extraído do livro de David Attenborough - Uma vida no Nosso Planeta

 

Ele...

Tocava nos dias com dedos de nada. Bebia o salitre das ruas com enternecedora aflição. O mundo era uma golfada de jardins. Notícias. Suspensões. Encontros e desencontros. Nos seus planos viviam longínquos projectos. Saturadas auroras. Definitivos inícios. Todos os dias eram inícios. Convexos perfumes. Ressonâncias da infância. A infância que o acompanhava sempre. Que nos acompanha sempre. Há muito tempo que os seus caminhos se quebravam num delírio de musgos. Mesmo quando as gaivotas eram maiores que os seus olhos. Mesmo quando nos átrios os sinos pasmavam com a sua inocência. Nunca entendeu bem a distância que se perdia em si. Amava as flores das cerejeiras. Amava a chuva que encharcava as vidraças. O horizonte era a sua ressonância. O seu cântico de clara transcendência. O seu deserto. O seu mistério. Tinha sempre diante dos olhos aquele quintal. Aquela queda nos degraus. Criança obstinada. Consequência de infinito. Bolor de hera sem rosto. Exílio de vinho divino. Limbo de erros e victórias. Assombro metafísico. Desencontro de princípio e harpa de fim. Melancólico clamor. Ele era tudo. Cada coisa. Cada falha. Cada precipício. Ele era o livro profundo que todos tinham dificuldade em ler.

 

A transparência das vagas

Ele vinha todos os dias como quem caminha dentro de si. Transportava uma alegria inocente. Caminhava como um riso aberto às folhagens. Os olhos eram luminosas taças por onde bebia o mundo. Gostava do mundo. Sentia as coisas como se fosse íntimo da vida. Tinha poucos silêncios e não possuía obscuras verdades. Não procurava descobrir os sinónimos das distâncias. Tinha o peito aberto ao mar e à maresia. Era o sopro das leis imutáveis do universo. Era o universo. Era um nome sem nome dormindo na leito do pasmo. Abria os braços e abraçava o vazio como se fosse livre. Era livre. Surfava o vazio. E descobria a força de ser ave. Era a vela engastada no ventre do vento. Construía poemas como se fossem estátuas. Absorvia o tempo em rotas imaginárias. Em cada mão uma nuvem. Em cada lua uma encruzilhada. Era a pura memória dos temporais. Vivia nos temporais. Como quem compreende o azul dos céus. E adormece nas transparência das vagas.

 

A plateia...

Esta noite esqueci-me de sonhar com o canto da luz

Esta noite esqueci-me de sonhar com a virtude solitária

Esta noite esqueci-me de sonhar com a essência da alegria

E fui...procurar a incompreensão pelas terras dissolvidas

Fui procurar o instante em que um fio de luz atravessou o espaço

Zunindo aos meus ouvidos astrais

Como se me alongasse nesse instante de energia

Fui procurar a fonte da origem das paisagens longas e misteriosas

Onde as brumas interiores já não se distinguem das noites imaginadas.

Fui procurar dentro das pedras

Enormes sentimentos castrados pelas nuvens

Confundi a lonjura com as lágrimas que alongaram o meu olhar

Alonguei-o mais do que a minha vista podia alcançar

E centrei-o no ponto longitudinal da árida poeira

Depois...atei a minha alma a um cadáver de refulgente transparência

Indeciso...perante um cenário de trágica comédia

Fui expectador e actor de todos os sentimentos

Deixei a pegada da minha alma no deserto

Junto à árvore seca onde a fonte da alma se extingue

E onde se apaga a luz do desconforto...

Só depois descansei...

Porque vi que abandonavas a plateia...

Deixando-a deserta!

Um novo dia...

Amanhã será outro dia...

Será o dia em que a chuva vai arder

Será o dia em que os trovões

Vão estender o pescoço para a terra

E os meses se vão estreitar entre os ramos das árvores

A poeira cinza do verão adormecerá num berço de estevas

Nada escapará à tempestade

Que repicará como um sino feito de girassóis

A chuva lavará as roupas que estremecerão de prazer

Nas fogueiras arderão as equimoses das tábuas

As impurezas esbranquiçadas

Entrarão silenciosamente na carne

Gota a gota...

Entranhando-se pelas escamas dos peixes que sobem os rios

E os espantos dirão

Que dos mapas das cidades escorrem sombras anémicas

Não haverá sinais de fumo nem homens-foguete

Não haverá atenções voltadas para Abril

E para espanto geral os sons sufocarão as letras...

Que fugirão correndo para os olhos das musas

Amanhã será outro dia...

Será o dia em que as existências ganharão patas de cavalo

As almas simples tirarão a pele às estrelas

E as portas afogarão o riso em peitos ogivais e cúmplices

O tempo profundamente transtornado...

Mostrará os seus olhos ameaçadores

As feridas farão visitas de passagem ao gólgota

Os bálsamos arderão num futuro luzidio

Como o tempo da idade das crianças

E...enquanto furtivamente os acasos da redenção

Espalham pelas ruas rostos sufocados

Penso que ditoso será o amanhã...

Que me trará um outro novo dia...

Rui Rio foi grotesco

Foi grotesca a forma como Rui Rio comemorou a victória de Marcelo Rebelo de Sousa. Foi grotesca a forma como salientou a victória de André Ventura no alentejo sobre os comunistas. Nas entrelinhas o que Rui Rio disse às pessoas do PSD é que é aliado ao Chega que o partido vai atingir o poder. Triste espectáculo o de um líder de um partido que tem as suas raízes profundamente democráticas vir agora dizer que vale tudo para chegar ao poder. E o vale-tudo é a aliança com um partido xenófobo, racista e hitleriano ( Hitler começou com os judeus, André Ventura com os ciganos). Um partido que não apresenta qualquer ideia. Que não expõe qualquer programa de governo. Que apenas se limita ao insulto. Que vive do insulto e do vazio de ideias. Um partido que divide as pessoas entre as de “bem” ( que não sabemos quais são) e as outras, as de mal, ( que também não sabemos quais são). Onde é que já vimos isto recentemente? Um partido que pretende mudar o regime mas que não diz que regime pretende. Com um líder que é uma cópia de Bolsonaro e de Trump. Um líder que vive da mentira e da ocultação de intenções. Mas o que faz mais tristeza é ver um país que viveu 48 anos de ditadura, ainda ter ao fim de 47 anos de democracia, tantos saudosistas do passado. Tantos zangados com a democracia. Sinal dos tempos? Sem dúvida! Quebra de confiança nos partidos ditos tradicionais? Sem dúvida? Mas também uma grande dose de cegueira. Uma grande dose de falta de conhecimento e de cultura.

Os presos...

Diz-se que é na prisão que os presos pagam a sua dívida para com a sociedade. Absurdo. Os presos nada devem à sociedade. Os presos nada pagam na prisão à sociedade. Os presos custam dinheiro à sociedade. Quando muito os presos têm dívidas para com aqueles que prejudicaram. Que fazer então aos presos? Pô-los a trabalhar para que paguem àqueles a quem prejudicaram. E obrigá-los a ir dormir à prisão todos os dias.

Pág. 1/4