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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

78 anos e ainda a bombar...

Mick Jagger...sempre crítico...coisas boas que a pandemia trás

Eazy Sleazy (feat. Dave Grohl)

Mick Jagger

We took it on the chin
The numbers were so grim
Bossed around by pricks
Stiffen upper lips
Pacing in the yard
You're trying to take the mick
You must think I'm really thick

Looking at the graphs with a magnifying glass
Cancel all the tours, football's fake applause
No more travel brochures
Virtual premieres, I've got nothing left to wear

Looking out from these prison walls
You got to rob Peter if you're paying Paul
But it's easy easy
Everything's gonna get really freaky
Alright on the night
Soon it'll be be a memory you're trying to remember to forget

That's a pretty mask
But never take a chance TikTok stupid dance
Took a samba class yeah I landed on my ass
Trying to write a tune you better hook me up to Zoom
See my poncey books teach myself to cook
Way too much TV, its lobotomizing me, yeah
Think I've put on weight
I'll have another drink then I'll clean the kitchen sink

We escaped from the prison walls
Open the windows and open the doors
But it's easy easy
Everything's gonna get really freaky
Alright on the night
It's gonna be a garden of earthly delights
Yeah it's easy sleazy
Everything's smooth and greasy
Yeah easy, believe me
It'll only be a memory you're trying to remember to forget

Shooting the vaccine
Bill Gates is in my bloodstream
It's mind control
The earth is flat and cold
It's never warming up
The Arctic's turned to slush
The second coming's late
And there's aliens in the deep state

Now we're out of these prison walls
You gotta pay Peter if you're robbing Paul
But it's easy easy
Everything's gonna be really freaky
Alright on the night
We're all headed back to paradise
Yeah easy. Believe me
It'll be a memory you're trying to remember to forget

Easy cheesy
Everybody sing please please me
Yeah
It'll be a memory you're trying to remember to forget

Aridez...

A tempestade agitava a noite tétrica e brutal

Os passos seguiam caminhos que o mar esquecera

Algo de si se passeava pela densa escuridão

Como uma nódoa a alastrar na densidade do coração

E sentiu um rodopiar de tempo

Uma invenção de espaço

Uma inversão de alma

Uma íntima porta a abrir-se

Para a alucinação do entardecer.

 

E de espinhos era feita a sua esperança

Centrífugos anéis de fogo consumiam os seus passos

Respirou fundo...

Aspirou o absurdo dilacerar da sua imagem

Renasceu como uma criança na margem de um riacho

E sentiu a perfeita sintonia da luz

A emoldurar a sua condição de enfermo

A sua diluição na vasta aurora

E só lhe ficou a impressão de um acre sabor

De um coração a sair-lhe em golfadas pela alma.

 

Kafka e o pai...ou as marcas da infância

O seguinte trecho tirado do livro - CARTA AO PAI - de Franz Kafka, é elucidativo dos traumas que por vezes os pais causam (sem intenção) aos filhos. Raramente os pais pensam no que fica dentro das crianças para lá do acto do castigo,e de como certo tipo de castigos as podem de facto traumatizar.

 

Uma noite, eu choramingava sem parar, pedia água, com certeza não por ter sede, mas para vos irritar, ou para me divertir. Depois de algumas ameaças ríspidas, que não serviram para nada, tiraste-me da cama, levaste-me para a varanda e deixaste-me ficar aí algum tempo, em camisa de dormir, diante da porta fechada. Não vou dizer que o que fizeste não estava certo, talvez nessa altura não conseguisses sossego de noite de outra maneira; só quero, com este exemplo, caracterizar os teus métodos e os efeitos que tiveram sobre mim. Depois deste incidente eu terei sem dúvida ficado mais obediente, mas ele também teve sequelas psíquicas. A minha natureza nunca conseguiu estabelecer uma relação entre o que era para mim perfeitamente natural – pedir água sem razão – e o gesto particularmente terrível de ser posto lá fora. Anos mais tarde ainda sofria com o pensamento doloroso de que aquele homem grande, o meu pai, a última instância, podia vir de repente, sem razão, arrancar-me de noite à cama para me levar para a varanda, mostrando-me assim que eu era para ele um simples nada.”

 

Este sentimento de medo e rejeição irá perseguir Kafka durante toda a sua vida, assim como irá influenciar toda a sua escrita. O sentimento de claustrofobia e de impotência perante o absurdo, dará os seus frutos na obra de Kafka.

Como por magia...

Por ali seguiu aquela infância...

Cheia de um passado incumprido

Ali está o jardim embaciado

Onde o asfalto fala de sonhos e de países

É pesado o respirar dessa infância

Que se transporta como uma fissura nos dias.

 

Há lugares onde a carne é uma nascente de gritos

Há um barco cheio de uma sorte que adormeceu no lugar onde caímos

Dói-me o rumo das portas e o peso que trago nos bolsos

Dói-me o riso dos recreios onde voei como pássaro sem dor

Agora...este invólucro onde me sento

É uma parede branca...uma planície de aflitos.

 

Bebo os pecados...convivo com gestos simples

Desejo outras terras onde escreva...riso e primavera.

 

Só quero que os anéis solares se entrelacem no meu corpo

E que todas as dores adormeçam numa letargia de luz entreaberta

Mas há o vento a soprar na confusa tarde

Há ilhas que os mapas esqueceram

E palavras que se bebem junto com sono

Mas falemos de noites e de salgueiros

De luzes que brilham no profundo escuro da água

Onde todos os movimentos cessam

E todas as madrugadas se calam...

Como por magia...

 

 

 

 

Na penumbra da casa

Na penumbra da casa.

As árvores parecem crianças à chuva

Rumorejam em volta dos versos

Frases de Pessoa aparecem como setas

O sol queima os passos...

As cidades perderam o valor

São como hastes dependuradas na memória vaporosa das aves

Depois...chuva e grãos de areia são a mesma coisa

Porém as colinas encaminham-se para a solidão

São a respiração do amor

António Nobre e a decadência

Os Alpes são brancos como sonos

Do mais quente do céu pendem sombras desarticuladas

Os cavalos crescem sobre o musgo dos bosques

Nuvens leves como respirações aproximam-se de nós

Cárites assombradas cospem doces astúcias

E nós florescemos nos prados

Imortalizados no esquecimento.

Cisma de Vida

Sopram prantos sobre as nossas vestes rasgadas

Emoções tiradas à força de pulso

Gotas de estrelas cadentes...

Mundos sem defeitos que sepultamos num lamento

Chão...placenta de escuro dia

Queixas que deixamos na sombra...

Como pirilampos brilhando na escuridão da alma.

 

Nascemos de uma incandescência

Pingamos sobre os dias como estrelas de pranto

Não há nada que as nossas magras mãos possam esgravatar...

Escorre-nos a vida por entre os dedos

Desperdício de poemas soletrados na areia

Queixando-se do corpo que os aprisiona

Poemas sem peso nem sombra

Poalha de vento seco...restos de intimidades

Labor e braços que se sepultam...em abraços

Elegante inconsciência da terra...folha de árvore viajeira...universal...

Cisco de tristeza que se ergue das profundezas...sotaque de cinza

Homem sem tamanho soterrado pela leveza das palavras...

Árvore-homem tricotado pelos céus

Medo da fonte copiosa onde nasce a solidão...

Dança que se desvanece num silêncio sem presente..

Fatal e belo cisma de Vida oculta

Na penumbra...de nós.

Por favor...tenham respeito pelos donos dos restaurantes

Acabou o confinamento. Os restaurantes e as esplanadas abriram. As pessoas desejosas de desfrutar da liberdade de tomar um café ou uma refeição, acorreram em massa. Mas essas mesmas pessoas que estavam cansadas do confinamento estão a contribuir para um retrocesso do processo. Os donos dos restaurantes já se queixam de que não conseguem obrigar os clientes a colocar a máscara depois de tomado o café ou a refeição (e já temem ter que voltar a encerrar), é que depois de servidos ficam a conversar e não colocam a máscara. A continuarmos assim, dentro de pouco tempo teremos que voltar a confinar. Como é que pessoas cuja taluda era o desconfinamento, estão agora selvaticamente a contribuir para que a situação se volte a agravar? Só pode ser por falta de civismo, estupidez,desresponsabilização e falta de respeito por si e pelos outros. É claro que esta gente( gentinha), de certeza que não possui nenhum restaurante ou outro tipo de negócio que tenha sido encerrado. Porque se assim fosse teriam um maior cuidado com a falta de uso da máscara.

 

Critico ( desde sempre critiquei) o governo por ter deixado ao livre-arbítrio das pessoas o uso da máscara. Critico o governo por não implementar regras claras quanto ao seu uso. Critico as autoridades por não aplicarem as multas que a lei prevê, quando as pessoas andam na rua sem máscara. Mas, caramba, é preciso dizer às pessoas para se protegerem? É preciso alertar (ainda mais) para os perigos que correm e que fazem os outros correr ao não usarem a máscara?

 

Bem lá no fundo a actuação destas pessoas não é mais que o reflexo individualista da nossa sociedade. Eu,eu,eu...os outros que se lixem. Só que neste caso quem se pode lixar são os outros, eles próprios, o SNS, o todo o comércio, ou seja, toda a economia pode sofrer por causa da falta de educação cívica de pessoas egoístas.

 

P.S. - No local onde vivo há um passeio pedestre junto ao Tejo, são cerca de 6 km de passadiços. Ontem dei-me ao “trabalho” de contar as pessoas que usavam e as que não usavam máscara. É claro( infelizmente) que quem “ganhou” foram os energúmenos sem máscara,e por larga vantagem.

Os restos da noite

Conheço esta rua como se vivesse nela

Guardo-a em mim todas as manhãs

Levo-a comigo até ao mais longo rufar do dia

Sinto-a como se domasse um sonho

E também levo comigo as pessoas que passam ao meu lado

Guardo-as dentro das mãos...respiro o seu ciclo lunar...

Hei-de senti-las pulsar dentro de um espelho...

Quer queiram ou não

 

Um dia...penso que vi um cavalo a brilhar sobre a sombra da vida..

Sonhei?

Ou era eu o cavalo que vivia nos ponteiros

De um indecifrável relógio?

 

Abrem-se janelas...

O meu sonho é viver dentro de cada uma delas

Aprisionar a perfeição dos dias

Como se habitasse a auréola de uma espiral com olhos de lince

Às vezes as minhas mãos sobem até aos degraus onde a existência se apaga

Libertam-se das noites e convertem-se à eternidade das paredes..

Sobem por elas...a pulso...

 

Se me chegasse uma mensagem gravada na saudade? Que me diria?

Talvez me falasse daquela manhã em que confundimos o mar com o céu

E me dissesse que o peso das horas é uma eternidade dentro do corpo.

 

Há chamas no meu sangue...

Converso com os espinhos que se cravam na pele

Aparentemente a cidade desgasta-se nas esquinas

Aparentemente os corpos assombram a lua

E o sentido das coisas faz-se de coisas sem sentido

Mas amanhã o sol é capaz de me devorar

E tudo cumprirá o seu ciclo de papel amarrotado

Pelas frases que se libertam das pessoas.

A madrugada desponta...

A manhã consome os meus restos da noite.

 

 

A pauta escondida da vida...

O homem. A música. A vida. A vida é como a música. Há uma pauta que ordena a vida mas que ainda falta descobrir. O instrumento dá vida à música. O instrumento que dá vida à vida é o corpo do Homem. Foi necessário descobrir o código ( há vários) da música para que esta possa ser explicada e entendida. Falta-nos descobrir o código que ordena a vida para que a possamos compreender. Esse código secreto existe. Essa música secreta que é a vida tem que ter algo que a torne real. A vida não pode ser só metafísica sem explicação. A vida tem que ter uma ordem. Um pergaminho. A música é etérea. A vida também o é. Mas ambas existem. Ambas se sentem. Ambas nos carregam de sentimentos. Contudo não lhes podemos tocar. Apenas as podemos sentir. Quem descobrirá a ordem secreta da vida? Quem descobrirá as notas musicais da vida? Há uma causa em cada acção que praticamos. Há uma regra que define essa acção e essa causa. É o efeito. Se já sabemos que existe a causa e o efeito e que essa acção tem uma regra que a define, porque não existirão regras para todos os nossos actos e acções? Quando um dia se descobrirem as regras ocultas da vida,( saber que a filosofia procura desde sempre descobrir), talvez o homem se torne Homem.

Os incompreendidos...

Caminhava ao acaso em busca de um lugar tranquilo dentro de si. Não falava do seu desespero. Nada dizia do seu estado de alma. Mas não era um rejeitado pela sociedade. Era uma alma inadaptada. Ninguém compreendia que possuindo todas as possibilidades para bem viver preferisse os venenos que o consumiam. Era um louco-lúcido. Era uma renúncia e uma dor. Nasceu de um impulso natural. Tinha o natural impulso para o desregramento. Era um perdido. Um suprimido. Fugia de si numa eterna viagem de carne fraca. Fechava-se no seu destino fugidio. Como se o  espírito do inferno habitasse o seu corpo. Mentia. A si e aos outros. Era a demonstração da luta contra a sociedade bem pensante. Era fadiga dos bons comportamentos que o afligia. Não os percebia. O seu bom comportamento era ser ele. Apenas ele. Mal comportado e livre. Ingénuo. Ingrato. Absolutamente egocêntrico. Não lhe importava que os seus actos fossem uma consumição para ou outros. Ou nem isso. Vivia absolutamente fora dos juízos dos outros. O que ambicionava ninguém sabia. Nada possuía. Nada conseguia possuir. Tudo era uma inutilidade para ele. Nada fazia sentido. Sentimentos? Quem saberá se os teve. Não os exprimia. Vivia fechado numa caixa de falácias. A sua própria vida era uma enorme falácia. Mas o que foi que o fez assim? Nada! Nasceu assim. Com a propensão para o desastre. Não avaliava a vida. Deixava que ela chegasse até ele e nada mais. Até ao dia em que ela o abandonou.Mas quem o pode condenar se a vida é pertença de cada um?

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