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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Por dentro de nós...

Façamos o tempo respirar na rocha

Trágicos sonhos...inúteis areias...

Por dentro de nós...

O sulco espumoso das gaivotas

Por cima de nós...

Pontes absortas esperam o tempo da papoilas

Como se na humildade das janelas vivesse a derradeira tarde

Onde o sopro do suspiro

Cai como uma dor...

Dentro de um mar em êxtase.

Chuva

Deixamos nos dias um rasto de pássaros melancólicos

Como se a nossa vida pertencesse à vastidão da praia onde adormecemos.

 

Hoje...vi uma luz tocar o tempo...hoje...

Despertei como se naufragasse numa espiral de metáforas.

 

Na rua...varrida por passos que de tão apressados nem são passos

São pressas de vida presas ao infortúnio das manhãs

São de pessoas que tiram do seu fundo o seu próprio naufrágio

Como se fossem sombras ensolaradas.

 

Deixemos que a vastidão do silêncio

Ocupe os dias construídos em relógios parados

Deixemos que as horas cresçam dentro de nós

Como florestas de folhas mudas e inúteis

Ou como chuvas que secam as ervas por onde passam.

Aconchego de mãe

Grande será o dia em que eu erguer a face

E contemplar essa comprida esteira de luz

Que se ergue entre mim e a paisagem

Se o sentimento for demais para mim

Se for maior que aquilo que possa suportar

Então talvez eu me encha de pasmo

Como um coração que descansa num ritual de paz.

 

Todos os desesperos são apenas frutos que caem da vida

Todos os temores são razões sem razão nem forma

Mas há um brilho em cada palavra

Há uma letra em cada estremecimento do corpo

Que nos faz erguer os olhos cheios de surpresa

E acreditar...que o tempo é um sudário terno

Onde embrulhamos a nossa alma

Como se fosse um aconchego de mãe...

Que nos acalenta ao fim do dia...

Um velho

E nós ...os que vamos por aí de mão dada com a vida

Como crianças que vão para escola

Aquecendo os nossos corpos com o sol que nos queima os olhos

Não sabendo que dia nos escapa pelas mãos cobertas de salmoura

Nem perguntando ao amanhã que trilho devemos percorrer

Olhamos a nostalgia com um divertimento de bêbados.

E pensamos na orla impossível do destino.

 

De nós...pingam atraentes verdades e falsas filosofias

Deixamos o riso correr pelas esquinas do coração

Comendo e bebendo os mistérios que o fogo encerra

Como se nos olhássemos a um espelho feito de falso vidro

E que à socapa nos deixa transparecer fios de alma em cada ruga deslavada.

 

Caminhamos...

Somos pessoa educadas que deixam passar primeiro a vida

Depois...

Fechamos a porta que nós próprios abrimos

E vemos um velho sentado numa pedra

Esse velho pertence a um remoto tempo que se libertou do inverno

E é agora um véu de fumo a encadear o caminho dos outros cidadãos

É agora uma antiga asa de borboleta descolorida...uma coisa...

Se assim se pode dizer.

 

E o silêncio é um longo braço

I

E todos nós cá estamos...esperando quebrar a noite

Em que o mal se extingue...e a vida reluza numa aura de paz...

 

II

Posso estar aqui...onde não há vazios

Posso estar aqui...onde o vento não me acode

Porque em mim as cores são cegas

E o silêncio é um longo braço a apontar-me o horizonte...

 

III

Todos nós ali estávamos...

Fecundos punhais na hirta noite

E sugávamos as veias que a luz tecia

Éramos a fronteira onde a lua se extinguia

Como uma vida...como uma sentinela...

Como uns lábios onde despontavam os abismos da noite..

 

A pele dos dias.

Não cabe em mim o tempo em que as árvores desfolham o destino

Não existe nem céu...nem beiral...nem lugar sem fim

Onde a impossível pétala rosa das manhãs seja apenas o começo de mim

E eu acorde maravilhado com a maresia que se cola às ruas vazias

 

Não há lugar...nem pátio...nem sombra

Onde o meu corpo desabe como um templo sem idade

E onde a infância renasça como um caminho ladeado por séculos de sonho

 

Em mim...repousam todos os lugares que não percorri

Em mim...crescem as sombras em palavras que desconheço

E o meu pensamento inventa pálpebras que não descerro

Porque os meus olhos se cobrem de gestos e de lábios...fechados

 

Desculpa...não percebi que o tempo era um solene raio de luz

E que na superfície das coisas...há uma abismo insondável

Que cai sobre a pele descarnada dos dias.

Até que uma leve pluma nos toque o coração

Sejamos luz e mar...sulcos de sonho a fender o granito

Trágicos como a cinza...heróis como pontes que não atravessamos

E se o tempo cair como uma folha sobre a areia

E se a espuma nos entrar nos olhos como uma papoila amarga

Abramos veios no peito com o tamanho insano das janelas

E deixemos espraiar os olhos pelas longínquas searas amarelas

Bebamos a respiração das gaivotas

Até que uma leve pluma nos toque o coração.

Homens...e nada mais!

Alguém que acha que os caminhos são inúteis e que bastava haver apenas um

Onde o próprio vento falasse de primaveras inacabadas e verões de cal

Lavando as searas e fazendo-as respirar o calor amorfo de um tempo que nunca acaba

Disse-me que bastava haver um pássaro colorido em cada espiga

Para que o mundo tivesse o tamanho que cada um lhe quisesse dar

E que os sonhos são escarlates...

Como se fossem gerados por um deus arrependido

De nos ter deixado cair na tentação de sermos homens...e nada mais!