“Carmina Burana” é uma importante colectânea de poesia latina medieval (e também em alemão antigo) deve a sua popularidade, sobretudo à obra coral sinfónica do compositor alemão Carl Orff, de 1936, em que alguns poemas desta colectânea são postos em música. [….Tem sido discutido quais os limites da composição dos poemas coligidos, e a crítica, hoje, inclina-se para que o manuscrito seja do século XIII e recolha poesia composta neste século e no anterior, embora não seja de excluir que alguns poemas possam ser do século XI.
O poema aqui traduzido “In taberna”, parodia a certa altura um hino de S. Tomás de Aquino.
Vamos então à taberna:
Na taberna quando estamos,
De mais nada nós curamos,
Que do jogo que jogamos,
Mais do vinho que bebemos.
Quando juntos na taberna,
Numa confusão superna,
Que fazemos nós por lá?
Não sabeis? Pois ouvi cá.
Nós jogamos, nós bebemos,
A tudo nos atrevemos.
O que ao jogo mais se esbalda
Perde as bragas, perde a fralda,
E num saco esconde o couro,
Pois que num outro conta o ouro.
E a morte não val` um caco
Pra quem joga só por Baco.
Nossa primeira jogada
É por quem paga a rodada.
Depois se bebe aos cativos,
E a seguir aos que estão vivos,
Quarta rodada, aos cristãos juntos.
Quinta roda, aos fiéis defuntos.
Sexta, às putas nossas manas,
E sete às bruxas silvanas.
Oito, aos manos invertidos.
Nove, aos frades foragidos,
Dez se bebe aos navegantes,
Onze é para os litigantes,
E doze, dos suplicantes,
E treze, pelos viandantes.
Pelo Papa e pelo Rei
Bebemos então sem lei.
Bebem patroa e patrão,
Bebem padre a capitão,
Bebe o amado e bebe a amada,
Bebem criado e criada,
Bebe o quente e o piça fria,
Bebe o da noite e o do dia,
Bebe o firme,e bebe o vago,
Bebe o burro e bebe o mago.
Bebe o pobre e bebe o rico,
Bebe o pico-serenico,
Bebe o infante, bebe o cão,
Bebem cónego e deão,
Bebe a freira e bebe o frade,
Bebe a besta, bebe a madre,
Bebem todos do barril,
Bebem cento, bebem mil.
Nenhuma pipa se aguenta
Com esta gente sedenta,
Quando bebe sem medida
Quem de beber faz a vida.
E quem de nós se fiou,
Sem cheta s`arrebentou.
E quem de nós prejulgava,
Se quiser, que vá à fava.
Créditos - Poesia de 26 séculos - de Jorge de Sena
O sânscrito foi a língua de uma magnificente literatura que simboliza o passado linguístico de todas as grandes literaturas ocidentais, pois que representa, ainda que diversificado, o tronco originário de todas as famílias de línguas ditas indo-europeias: o celta, o grego antigo, o latim ( e com ele as línguas românicas: português, espanhol, francês, italiano, etc.) As irânicas como o persa antigo, as eslavas, todas descendem desse tronco mítico. A literatura nesta língua divide-se em dois períodos principais : o védico (1500-1300 a.C.) e o dito clássico (350-a.C- 1000 d.C.). Aquele é dominado pelos Vedas, os Upanishads, os Sutras.***
Eis aqui alguns poemas traduzidos os sânscrito:
De Kalidasa
O professor que pensa que o que importa
é estar na cátedra ganhando a vida,
sem estudar mais, deixando que em si morra
a controvérsia que ao pensar acende,
não é senão mesquinho traficante
que a obra dos outros a retalho vende.
De Barttrhari
No prólogo, criança. Acto primeiro, um jovem
ardendo de paixão. No acto segundo, um pobre
que é rico, logo após, num interlúdio breve.
E, no último acto, esse Homem, trôpego e curvado,
sai do palco da vida, pois se acaba a peça
com que ele se estreou, ao ter nascido um dia.
****
Aquela que na ideia tenho acesa,
de mim não cuida, e a um outro homem quer.
E noutra que não é ela é que ele pensa,
e uma outra ainda há que só por mim suspira.
Ao diabo o amor, mais elas,e ele, e eu.
De Dandin
Vai, se tens que ir – disse ela. Rezarei
para que os deuses te protejam sempre.
E aqui te juro que hei-de renascer
lá onde quer que fiques, meu amor.
***
“Oh, não me esqueças nunca!” - “ Como posso,
se o coração que lembra vai contigo?”
De Amaru
Depois que nos amamos, meu amor,
ainda arquejantes do potente amor,
então na tua fronte, meu amor,
aspiro inebriado o suor do amor;
e quando os nossos corpos para o amor
se enlaçam e deslaçam por amor
e se repousam de ter feito amor,
mais me inebria o perfumado amor
que em nós confunde um hálito de amor.
***Créditos – poesia de 26 séculos de Jorge de Sena