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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Mar bailador

05-09-2017 088.jpg

Azul de infinito...balanço de jardim

Pétalas de espuma branca...canto de água na rocha

Esplendorosa vela que leva corpos e sonhos

Corrente áspera a transbordar perigos

Voz ensolarada de maresia...odor a vento e tempo

Brincam meus olhos no teu eterno vaivém

Escavando puros sentimentos de alegria

Escuto na perfeição misteriosa dos teus movimentos

A paz a bailar na doce ondulação

O murmurar de vento e algas

As ramagens imaginárias da alma

A rara luz que dança em cada movimento de ti

Como se fosses a leve e líquida estrada

Onde termina o sol

E onde nasce o silêncio dos dias perfeitos

E tu florescesses em encantamento e luz caída

Do baile puro dos espaços.

És o sentido do meu texto

És o sentido do meu texto

A minha chama e a minha sorte

És a chuva que passa pela vidraça

E escorre pela minha alma

Cheiro o teu fascínio

o teu odor reside no mais profundo de mim

No lume do teu abraço

Reconheço as gotas de suor que se desfazem no teu colo

Conheço contigo a existência

Sem ti como poderia falar de existir

Ou de coração em sobressalto

Ou do cantar dos anjos

Ou até mesmo da felicidade de escrever só para ti

Tu tens o amor gravado na cegueira trémula dos meus braços

Tens o meu corpo a deslizar pelo momento da tua atenção

Esqueço o sono...

Basta-me um pouco de tão pouco de ti

Que a insónia é o meu milagre

Deixa que te diga...

Que guardo dentro de mim...

A frase quase absurda do amo-te muito

A frase sem finalidade..

Tu és a finalidade e para isso não são precisas frases

E não me falta...

O ontem e o hoje..e o teu abraço...

 

Inverno

Tenho uma cadeira onde sento os sonhos

Tenho um peito onde escondo as sombras

Tenho uma secreta esperança

De um dia poder crescer dentro de uma carícia

E fazer de mim um elíptico mar

Onde me seja possível construir silêncios.

 

Há por vezes em mim uma solidão de absinto...um sabor a terra...

Sei...que há tantas solidões como quartos...

Ou camas...ou apenas olhares

Sei que há ecos que são mais que ecos...

São aves a soçobrar...estrelas a cair

E o inverno a descer pelas colinas...

A enverdecer os campos...a rasar as casas...

A falar de outros frios que aí vêm...

Sóbrios e fartos como a chuva

Ou como a face deserta das cidades...

 

Pássaro de fogo

Tirei de dentro de mim tudo o que não prestava

Os apertos no coração...os fantasmas invernais...

O emaranhado dos sentidos

A fome de ser mais que a minha fome

Tornei-me naquilo que sempre quis...

Mergulhei em regatos de fantasia...despertei da agonia

Fui o solstício de mim próprio...

Matei a sede em orvalhos cristalinos...e ardi

Como às vezes ardem os pássaros que não têm onde poisar.

Quem diria que somos os mesmos

Há um cheiro de memória a enfeitar as sombras

A frescura da manhã

Assinala o despertar da verdade que queremos esquecer

Se tivéssemos asas...

Seríamos aves soltas na indecisão dos dias

Seríamos inesperadas fontes onde a luz se encandeia

E os olhos se alegram

Abriríamos as portas do passado...

Não para entrar...mas para sair...para voar...

 

Já não temos a medida da paz

Perdemos a infância nos volteios da vida

Quem diria que somos os mesmos que ontem corriam pelos valados

Que ontem procuravam abrir as ruas desconhecidas do sonho

E dizer...que tudo era nosso...

Como se fosse nosso o dever de sermos donos de nós...

Como se tivéssemos mesmo que ser quem somos...

Permanecendo ausentes...das coisas...

 

Renascemos...petrificados em poses de estátuas nuas

Sensíveis...saboreamos a chuva que afoga as mágoas

E nem sequer sabemos qual é a inconsciência do tempo

Que mansamente...nos fala de felizes segredos...

Vazios...