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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A harpa

Tombados sobre a nossa própria pele

Respiramos as invisíveis luzes do deslumbramento

E mesmo que das montanhas se ergam rugas

E mesmo que a nudez se cole ao nosso corpo

Como o aroma de uma resina fresca

Seremos sempre peixes secretos

A navegar num fragmento de ausência

E mesmo que perturbemos o silêncio dos fantasmas

Aqueles fantasmas

Que florescem nas nossas grutas mais secretas

Aqueles cuja agonia é um vazio de estátuas

Expostas à mutilação do tempo

A nossa alma acenderá sempre o brilho antigo da vida

Erguer-se-á sempre do branco respirar da espuma

Como uma tarde que cai nas sombras do ocaso

E se enreda na fantasia de um relógio parado

Mas nós iremos por esses caminhos

Iremos preencher o vazio dessas estradas

Como quem escuta as sílabas de um Deus atónito

Ou o som de uma harpa chamada... Vida.

O saxofone

Tropeçamos em pedras como quem respira fundo

Bebemos os sonhos que escorrem pela ampulheta da raiva

E...como quem guarda poemas em gavetas

Absorvemos o vinho que alegra o mundo

Mas nunca somos nós...

Nunca damos vazão ao lento desabar da tristeza

E se as pedras ganham vida quando lá gravamos o nosso nome

E se pensamos que o mar é um milagre de azul e cinza

É porque esperamos que algo se erga dentro de nós

É porque as palavras são pastosas

Colam-se a nós como cobaias da felicidade

Com as palavras amamos violentamente o cerne das coisas

No seu vazio construímos muros e arcadas

Facas alquímicas...fomes

Podemos proibir o sangue de correr

Podemos proibir o vento de soprar..somos sonhos

Vestimos um xaile negro ...desatamos um nó

Desafiamos tudo o que não faz sentido

Em cada noite...minguamos...

Em cada tigela sorvemos a sopa do medo

E também precisamos desatar as correntes do silêncio...gritar...

Precisamos conhecer o ventre das trevas

Trespassar caminhos...demolir desterros

Ao longe acende-se uma vela

Como se fosse uma cicatriz na escuridão

Mas não nos alumia...esconde-se...

Transforma-se em choro de barco à deriva

Enquanto nós...fechamos os olhos

Escutamos um saxofone...

E somos o jazz da vida..

 

"Tudo aquilo que os pais não querem que os filhos venham a ser"

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Em dezembro de 1981 foi lançada esta biografia dos ROLLING STONES. O nome do grupo provém de uma gravação do músico de Blues Muddy Waters, "Rolling Stone" de 1950.

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"Tudo aquilo que os pais não querem que os filhos venham a ser" - foi assim que em 1963/64 os Rolling Stones foram apelidados por uma grande parte da opinião pública.

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Ainda imberbes.

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Chuc Berry toca um rock que é uma ramificação urbana e electrificada dos blues rurais. É esta escola negra que irá influenciar a música dos Stones.

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Brian Jones...que viria a morrer jovem.

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Concertos e processos judiciais...algo que nunca lhes viria a faltar.

 

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Charlie Watts...que como sabemos morreu este ano (2021).

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A famosa música "sympathy for the devil" que tantos rios de tinta fez correr.

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Marianne Faifhful - quem não se lembra de canções como Sister Morfine ou The Ballad os Lucy Jordan e da sua voz inconfundível.

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E é assim, um dia "desenterramos" livros do sótão e vemos como foi breve o tempo.

 

A enseada

Do perfume que habita a pedra

Ergue-se a nostalgia de uma cidade branca

Como um promontório de cal e campanários

Como um regaço de prantos

Como um labirinto onde o coração se divide

Em linhas de claridade e desertos brancos.

 

E habitava um brilho nos olhares extasiados

E surgiam praias de areais púrpura

Onde o silêncio era um mastro de seda

A duvidar da sombra

A mergulhar nas águas

A engrandecer os olhos

A esvaziar as enseadas

A encher os corações.

 

O grito

O grito do silêncio ergue-se como um perfume

A brisa sopra como uma felicidade omnipotente

Dentro de mim acende-se um sol de memórias

Dentro de mim há uma arca

Onde guardo a pedra, a flor seca, o tempo de nós

Olho para dentro desse tempo onde o ar secava o sal

Olho para essa lacuna de mim onde apodrecem os dias

E vi...refletida no chão a alegria de mais um dia

De mais um espelho baço

A erguer-se na intacta expressão dos meus olhos

Como um coluna de aves a voar sem destino

Mas sempre a subir...a subir...

Até serem apenas infinito.

Meu mar sereno

Meu mar sereno onde caminha a hora das aves

Minha praia onde me esvazio do infinito que me cobre

Tuas ondas são navios onde me agarro

São teias onde floresço

São cavalos de luar debruçados sobre a minha alma

Nada mim sobrará depois da espuma

Nenhum pedaço de mim

Traçará um rastro na penumbra dos baixios

Não haverá rumo...nem triunfo...

Nem restos de flores a soçobrar nas correntes

Eternas correntes que correm lisas pelos caminhos do sal

Livres e soltas de amarras

Como ventos assoprados por uma madrugada crua

Sozinha...sem rasto de mim

Sem lastro de crinas ao vento

Numa tese sem fim

Onde vou caminhando na hora seca.

Vazio

Vazia a hora...vazio o vento...vazia a vaga

Que enche o pensamento.

 

Vazio o pranto...vazia a força... vazio o voo da bala

Que cala o pensamento.

 

Vazia a chuva...vazio o tempo...vazia a imagem

Que encanta o pensamento.

 

Vazia a porta...vazia a costa...vazia a rua

Onde se passeia o pensamento.

 

Vazia a mão...vazio o gesto...vazia a dor

Que se acolhe ao pensamento.

 

Mas eu nunca quis ser a rocha rente às vagas

Nem quis afastar de mim o mau tempo

Nunca quis ser a pedra onde o vento embate

Nem a face luminosa da corrente

Vazia...a mente...

Pecado

Na pedra e na cal respiram as mãos do tempo

Nos terraços alargam-se os horizontes das pupilas

Como um perfume de cidade parada sobre a nossa densa vida.

 

É a noite... é o florir da alma...

É vento que se enrosca em nós

E desfaz os nós do ninho que nos liga à vida

E o vento tece em nós o rosto de um cavalo a galope

E o vento divide-nos

E somos pranto e água a divagar

E vamos pelas correntes dos labirintos

E erguemos mastros que se eriçam com a dúvida do destino

E ligamo-nos a todas as coisas que há nas trevas e nas areias

Como uma rocha pura

Como um chão calado

Como uma luz exaltada e solitária

Rezando pelas asas dos promontórios

Onde nos esperam mais passos e mais jardins de alabastro

Desenhamos círculos doidos...em torno de nós

Numa geometria inconsisa e demente

Além disso...

Sabemos que iremos rolar como uma imensa luz

Como um corpo liberto das sombras e dos ciprestes

Como uma luz fresca

Como um pecado sem originalidade.