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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Um branco caudal de alma

Passei o dia com o peito vazio

As ruas eram desertos de tédio

Que se colavam ao interior do tempo

E eu perguntava às paredes ácidas e aos confins do silêncio

Se os desertos têm fim

Se o tempo é uma estrela a iluminar cada casa

Se nas planícies...

O canto das cigarras é apenas vento a embalar o destino

E pensava...

Será que nas indecifráveis luas também há caminhos de sombras

Será que lá poderia escutar o vazio dos relógios

Relógios feitos de uma respiração imóvel

Ah! se eu pudesse desenhar as sombras do vazio

Ah! se eu me pudesse desenhar as minhas próprias sombras

Que constelações acenderia na minha mão calcada pelo medo

Que antigas respirações trepariam pela minha carne em êxtase

Como folhagens de secretos frios

De ostensivos males

De densas arcadas inacabadas

De poemas sombrios feitos na textura dos becos

Como se fossem coisas que há em mim

Como se fossem coisas que não há em nenhum lugar

Como se fosse o brilho misterioso de um areal em desalinho

E eu emergisse de um branco caudal de alma...

Dentro de mim há um rio

Dentro de mim há um rio

Onde o peso dos dias aflora como um caminho estreito

Dentro de mim há uma sombra

Que se desprende da frescura da minha alma

Dentro de mim há um sol

Que se refugia na lonjura dos pensamentos

E se esquece do tempo onde é preciso modelar o barro dos dias

Tudo se amontoa em mim

Como restos de um tempo sem medida.

 

Dentro de mim há um escuro

Que me encobre como uma neblina feita de séculos

Em frente a mim há toda a estética de uma alegria pura

Em frente a mim empilha-se o deslumbramento da vida

E traço um risco na luz

E faço uma aliança comigo

E descubro na verdura do mar

A fúria única que une a paixão à vida.

 

Por detrás do espelho baço das palavras

Por detrás do espelho baço das palavras

Ergue-se um céu estrelado

Onde se espelha um semblante excessivo

Que despede chispas inflamadas

Chispas ruborizadas e terríveis

Que se bebem com enorme lassidão

Porque trazem amor escondido na sua voluptuosidade

E são como cravos vermelhos cravados em degraus de pedra

Que temos que subir...pé-ante-pé...silenciosamente...

Para não acordar os medos sorridentes

Que dormem em vasos

Feitos de sonhos encantados e cheios de Primaveras

De onde sopra um odor fresco a hibiscos floridos

E que colocamos como mastros altaneiros sobre a alvura do peito

Anunciando como os repuxos nos lagos

O nosso amor!

O vazio da espuma

Em redor de mim a chama do silêncio anuncia o dia

Do chão molhado ergue-se o perfume da terra ressequida

A lua traça labirintos nos caules dos poejos

E nesta pureza de verde e prata

Tudo me liga ao mundo

Tudo me diz que sou mar dividido

Mar entrelaçado com o luar que me agarra

Mar de pedra e de gesto perdido

Mar de mãos que escorregam no corpo da chuva

Mar de brancura e enseada

Onde as aves se apartam das ilhas e dos ventos

E onde o meu corpo galopa no cadafalso das artérias

Como um papel rasgado pela escultura do tempo.

 

Aliança de teias e rostos de mármore rosa

Sozinho...acoitado numa prece pintada num naufrágio

Onde navega a noite e o vazio da espuma

Onde os homens se resgatam nos cálices do infinito

Com rostos imóveis...com floridos destinos

Com intensos clamores de mãos

A agarrar a fúria das tempestades

Que por eles se roçam...que por eles passam

Como imagens de abismos rugindo

Por dentro da sua alma

Feição de calma... e raiva...

Só para te amar.

A vida mistura-se no corpo

Mas eu nuca quis ser a clareira a gruta ou a esteva

Nem quis ser a sombra que divide a claridade

Nunca quis ser o círculo do naufrágio

Nem o nome que não dizes.

 

A vida mistura-se nas ruas

Mas eu nunca quis ser mais que um barco

Nunca quis ser mais do que um clamor

Nunca quis ser mais do que um rosto

Que renasce em cada recanto do poente

Só para te amar.

A sabedoria de Buda ( a paz de espírito e o espírito da paz)

Quando pensamos naqueles que nos fizeram mal, naqueles que nos prejudicam ou são susceptíveis de o fazer, manifestamos subitamente um sentimento de mal-estar. Estávamos descontraídos e contentes. eis-nos contrariados, repletos de maus pensamentos. o descontentamento germina no nosso espíritoe transforma-se em animosidade. Que atitude tomar no sentido de suspender este processo?

Eis o que nos diz  - O pensamento do Despertar:

Mesmo que a pior das calamidades me atinja, a minha alegria não deve ser perturbada por ela; já que o descontentamento não me leva a parte alguma e, além disso dissipa o mérito adquirido.

Se existe um remédio para que serve o descontentamento? Se não existe um remédio, para que serve o descontentamento?

A resplandecência do silêncio

Efémeros abraços resplandecem nas têmporas da primavera

Pródigos tempos nos chegam aos olhos

Intactos como poemas polidos pela terra.

 

Nestes dias o olhar queda-se petrificado

Pela resplandecência do silêncio

Não há limites para a verdura dos campos

Formas e cores adquirem a beleza das utopias

Estamos sós

O paraíso não tem motivos para duvidar da nossa essência

Somos distintos

Abraçamos as folhas dos instantes

Sabemos viver na efémeras flores dos jacintos

Podemos comer na mesa dos esquecidos

E murchar como plátanos subterrâneos.

 

Vidraça

A lua dissolve a sua luz sobre o meu rosto

Que implode na vidraça ode miro o silêncio.

 

É noite neste cais onde volto

Como se fosse uma ave que migra para se sentar no rumor do mar

Árvores de fogo desabam na rebentação

Mas já não escuto a sua dor.

 

Penso em ti

A tua imagem é agora uma gaveta fechada

Um final de dia que já não oiço

Uma tatuagem que já não ostento

Do lado do mar chegam-me palavras salgadas e dedos invisíveis

Dedos que se agarram às casas e às pessoas

Como se fossem coisa sua.

 

Há no ar o abandono da fala

Neste holocausto do silêncio impera o vento do sonho

A luz é uma esquina que está disponível para os desencontros

Há ritmo e rumores no ar

Dentro de mim o espelho da água queima a minha imagem

Dissolvo-me lentamente dentro de uma luz humilde

Fecho-me por dentro

E dentro desse meu espaçoso mundo

Revejo palavras pavorosas

Tenho visões de portas fechadas

Céus onde a paisagem sufoca a frescura da luz

Nego-me a esta ilusão... a este sossego

A este lodo que rebenta nos meus poros

Na minha memória ofereço o meu riso aos ninhos dos pássaros

Diluo-me como uma vida

Que principia no desmoronamento das paisagens

É irreal esta madrugada perfumada por bruma e espuma

É como se tivesse deixado cair a infância

Nos canteiros de um jardim onde não regressarei.

 

E nos meus pulsos crescem as horas

Alargam-se as paredes...há uma saída

Escondida no peso das mãos

Mexo e remexo nos sonhos...ateio o vento...tacteio-o

E já não posso desembarcar nesta imensa rua

Nesta trovoada de janelas em fogo

Porque no longuíssimo corredor da minha voz

As sombras fazem eco

E as coisas pegam-se aos regressos

Como pequenos monstros incapazes de florir

E que se abrem a um tempo que me circula nas veias

Neste desalinho sei que apenas me resta o grito

E a gestação magoada dos néons floridos

As contas do nosso rosário

 

Prolonga-se a noite numa espiral de fumo

Tudo podemos ser

Quando as grades não tapam o céu

E podemos adormecer debaixo das sebes sonolentas

Sem perguntar à alma qual o caminho para as horas fundas.

 

Foge da vidraça

Não sejas a mosca tonta

Que vê a vida através do vidro...quebra-a...

Não percas tempo com mágoas

Procurando mágoas...bebendo mágoas...

 

Confusos como rostos inclinados

Desejando assistir à nossa comédia

Questionando as trevas...os sons

As vozes claras dos cantos divinos

Não reparamos nas árvores mestres da vida

Ali estão pendurados os nossos sonhos invisíveis

Somos nós...

As ramarias açoitadas pelo sopro luminoso que as beija

Somos nós...

Feitos de impalpáveis recordações

Querendo à força conhecer o futuro...que é só um

Acalmemos o corpo

Deixemos as sombras povoarem as nossas harmonias

Sintamos o aroma delicioso que veste os cabelos suaves

Bebamos as fugidias promessas de uma felicidade inebriante

Derramemos os desesperos pelo chão áspero

Rastejemos sobre os insípidos dias

Ao som cordato dos violinos

Vivamos...vivamos...vivamos...

E... no fim...

Gastos como rosários manuseados vezes sem conta

Sentiremos um frémito que nos sobressaltará

E como que beijados pela música inebriante do ocaso

Encontraremos a Vida!

 

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