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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Chama apagada

Olho os dias...até que o céu se esconda na minha alma.

Chamam-me os segredos escondidos do mundo...

Mas eu adormeci...

 

Percorro a minha a estrada...

Mais como um fim do que como uma viagem.

 

Nos olhos do medo há silêncios de vida

Num charco de penumbra descubro a ilusão

De estar vivo...

 

E há um mundo em volta de mim

A lembrar-nos de quão curtos são os dias

Tenho todos os segredos para descobrir

E todas as silvas me falam das amoras doces da primavera.

 

Há um rio para além deste rio

Onde os pássaros...esquecidos de mim

Acordam os cardos floridos.

 

Percorro este chão de hortências

Onde a eternidade da beleza supera a morte

E o medo de ontem...sugere novos dias...novas vontades..

De poder ser tudo o que é possível.

 

Tenho todas as sombras para descansar

E todo o tojo do inverno...para sentir...

A árdua ilusão de viver.

 

Olhei de frente...a vida...sem medo de me perder

Depois...descobri que ninguém se perde

Apenas percorre outros caminhos

Como se me erguesse numa estrada inflamada de luz

E a vida se arrojasse aos meus pés

A pedir-me desculpa

De ter cavado em mim a desilusão

Da chama que se apaga.

Fantasia

Na eternidade da pedra...vejo o pó da vida...

No agitar do mar...toda a calma do tempo...

Em mim vejo o nada.

 

O frio que esvazia a alma

Não é frio...é apenas ausência...

É apenas uma vaga sensação de janela sem paisagem.

 

Irmão...em chamas te vejo

Mas acredita que um dia descobrirás

Que essa fome de querer estar mais além.

Não é fome...é fantasia que o tempo gasta.

Breve pele

Evadi-me do mundo

Como quem se despede da perfeição do destino

Cambaleei...na suspensão abandonada do lago

E perante a luz branca e gasta

Ouvi mil vozes semeadas no acaso.

 

Passeei como quem embala o olhar

Esqueci gestos e naufrágios

E uma alma misteriosa

Ergueu-se num anseio desconhecido.

 

Definitivamente...sei que esta rua é minha

Que os degraus que subo me acompanham

Como se não houvessem mais ruas

Nem mais certezas

 

Pedaços de noite salpicam os caminhos

Perderam-se no rumorejar das folhas outonais

Solitários pedaços...caindo um a um...

Na beleza inerte da estrada...

 

Percorri o silêncio que as aves escondiam

Silêncios de cores desconhecidas

Como ecos de passos passados

Desbotados pela sofreguidão dos dias.

 

E se um instante de mim se perder

Sei que estarei sempre...naquela casa branca

Onde o tempo me dissolveu...

 

Que trazes tu aí meu cansaço de planície?

Que gestos escondes na ondulação da seara

É vastidão de mim a implorar por mais sonhos

É a infiltração das horas a pedir mais força...mais força...

Para continuar...

 

Sei que o que sinto pertence ao tempo

É mais que tempo...

É areia a desfazer-se em ausências...

 

Neste caos feito de eternidade

Nesta presença de heróis e guerras

A tragédia de viver...está inscrita na pele do vento...

Breve pele...de vento...

A desdenhar sobrenaturais vidas.

 

As primeiras flores

Dias coloridos....prateados

Pintados com a liberdade de percorrer as ruas

Tela de tardes e horas cinzentas

Tela recriada em jardins de silêncio...

Caramanchões de tímidos desabafos

Figuras desprendem-se das minhas mãos

Figuras de sépia e de passos perdidos...desencontrados

As coisas não têm nome

São aves que flutuam na imaginação das tardes.

 

Hoje a madrugada terá outra cor

Será seca como uma folha que flutua na penumbra

Que dirá aquele pássaro que vem comer ao prato que está no muro?

Que sabor terá o lento debicar do pão?

Ele que não pensa na contingência do tempo

Ele que não se assusta com a intemporalidade

Come com gosto o que lhe dou

E nada mais espera

Enquanto eu reparo

Que na romanzeira

Desabrocham flores as primeiras flores...

 

Um tempo sem nome

Na existência de uma sombra cresce um corpo de noite

Paira sobre a distância ou... sobre uma fome solitária

Como uma ave em fim de jornada...como um tudo ou nada

Como uns dedos roxos a agarrar poentes

Que não servem para nada.

 

Encontrei num tempo sem nome...o nome do tempo

Cresci na beira de um verão sem fim...excessivo

Um verão onde os silêncios se entrançavam nas espigas

E os deuses mergulhavam em paisagens de pedra

Como céus frios...como se pertencessem a um outro lado

Onde os sinos tecem a imagem dos homens.

Impossibilidades

Que alívio devemos esperar

Dos dias que correm sobre tardes sem esperas?

Quando surgem as dúvidas

Como se fossem alvoradas de medo

E o vento sopra em caudal de fonte límpida

Sobre a nossa insubmissa vontade

De ser mais que um desassossego

Sobre a nossa vontade de usufruir

Desse tempo enlouquecido...vasto

Como se os sorrisos nos alimentassem a nostalgia

Como se as estradas se abrissem sem horizontes

E o vento...amainasse de repente...

Caindo nas palavras dos poetas

Em forma de cascatas impossíveis de controlar

Impossíveis de dizer.

Perfil de mar

Lembro-me de um pássaro

Que voava junto à horizontal linha do horizonte

Era um pássaro de vida

Como todos os outros que se recortavam no calor da minha vidraça

Era feito de brisa e beijo

Era feito de um tempo fundo

Um tempo suspenso na era da casa

Um abismo de terra ardida

Ou era apenas...um pássaro...

 

Lembro-me que um dia cairei como um pórtico sem base

Um dia vou beber os murmúrios da noite

Aqui mesmo...

No meu jardim de portas abertas para as estrelas

Onde durante o dia brancas borboletas divagam

Suspensas...na claridade doirada de um eterno desencontro...

 

É sempre o mesmo vazio a abrir-se aos meus olhos

Sempre este país de pedra e cal...de granito e lama

Sempre este não poder habitar o infinito

Sempre este perfil de mar...a encadear-me..

A alma!