Breve pele
Evadi-me do mundo
Como quem se despede da perfeição do destino
Cambaleei...na suspensão abandonada do lago
E perante a luz branca e gasta
Ouvi mil vozes semeadas no acaso.
Passeei como quem embala o olhar
Esqueci gestos e naufrágios
E uma alma misteriosa
Ergueu-se num anseio desconhecido.
Definitivamente...sei que esta rua é minha
Que os degraus que subo me acompanham
Como se não houvessem mais ruas
Nem mais certezas
Pedaços de noite salpicam os caminhos
Perderam-se no rumorejar das folhas outonais
Solitários pedaços...caindo um a um...
Na beleza inerte da estrada...
Percorri o silêncio que as aves escondiam
Silêncios de cores desconhecidas
Como ecos de passos passados
Desbotados pela sofreguidão dos dias.
E se um instante de mim se perder
Sei que estarei sempre...naquela casa branca
Onde o tempo me dissolveu...
Que trazes tu aí meu cansaço de planície?
Que gestos escondes na ondulação da seara
É vastidão de mim a implorar por mais sonhos
É a infiltração das horas a pedir mais força...mais força...
Para continuar...
Sei que o que sinto pertence ao tempo
É mais que tempo...
É areia a desfazer-se em ausências...
Neste caos feito de eternidade
Nesta presença de heróis e guerras
A tragédia de viver...está inscrita na pele do vento...
Breve pele...de vento...
A desdenhar sobrenaturais vidas.