Há muito tempo...
Enternecidos poemas caem do sonho que vibra na alma fresca da noite
Em redor de nós..a madrugada fustiga o sono incerto dos agapantos
Abandono-me à voz que me acorda..aos vidros espelhados da tempestade
Sou como o marinheiro que desperta perante a imperfeição do leme
Sou o adolescente sono que cobre a fantástica água da nudez
E as promessas...são percursos cheios de armadilhas subtis
Sei que dentro de ti mora a face nua dos sorrisos..o vício de seres imperfeita
A oferta dos ombros despidos...o cortante vento que cobre a nossa embriaguês
Agora já não importa
Que a noite se cubra de filamentos nervosos
E que o vinho se entorne pelas palavras
E desça até à nossa pele
Convenientemente
Agarro-me à jaula onde depositei a minha loucura
Rio de coisas que os copos me contam
Tenho nos lábios o desgaste das luas
Tremo perante a teia que a ternura obscurece
Mas dentro de nós descobrimos sempre mais sorrisos
E a fresquidão da luz traz até mim os olhos do mar
Sobreviverei ao caminho
Que toca os meus pés de náufrago cambaleante?
Ou insurgir-me-ei contra o vento
Que me surpreende junto à janela?
Vento que me diz que há uma noite que queimei junto a ti
Há muito tempo...