Na plenitude do frio.
Chove na minha fundura de olhos cavados
Já plantei o luar no jardim mais belo
Já me ergui das brumas do vazio
Já vi o sol arrefecer nas penas de uma águia
Já me vi nas mãos de um tempo exposto à nascença do dia
Já me inquietei por ouvir uma música
Cravada nas memórias de um naufrágio
E vi numerosas aves a dançarem na plenitude do frio.
Junto às areias concebi uma nortada
Espalhou-me em todas as direcções
Como se eu fosse uma paisagem sem noite nem lugar
Como se eu fosse um rio a desaguar nas raízes da árvore universal.
Havia um estrela
Que indicava uma passagem translúcida para os abismos
E uma chuva de sal a branquear a lua
Que estava deitada nas pingas do orvalho
O tempo arrefeceu...a pele arrepiou-se
Fechei-me num manto de coração nublado
E não houve mais tempo...nem paisagem...nem música...
Que me libertassem...