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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Chama apagada

Olhou os dias...até que o céu se escondeu na sua alma.

Chamavam por ele os segredos escondidos do mundo...

Mas tinha adormecido...

 

Percorreu a sua estrada...

Mais como um fim do que como uma viagem.

 

Não tinha olhos para o medo

Escutava os silêncios da vida

Num charco de penumbra descobria a ilusão

De estar vivo...

 

E havia um mundo em volta de si

A lembrar-lhe de quão curtos são os dias

Tinha ainda todos os segredos para descobrir

E todas as silvas

Lhe falavam das amoras doces da primavera.

 

Sabia que há um rio para além deste rio

Onde os pássaros...esquecidos de si

Acordam os cardos floridos.

 

Percorreu este chão de hortências

Onde a eternidade da beleza supera a morte

E o medo de ontem...sugere novos dias...novas vontades..

De poder ser tudo o que é possível.

 

Tem agora todas as sombras para descansar

E todo o tojo do inverno...para sentir...

A árdua ilusão do que foi Viver.

 

Olhou de frente...a vida...sem medo de se perder

Depois...descobriu que ninguém se perde

Apenas percorre outros caminhos

Como se se erguesse numa estrada inflamada de luz

E a vida se arrojasse aos seus pés

A pedir-lhe desculpa

De ter cravado em si a desilusão

Da chama que se apaga.

 

Para o Raul que faleceu em 18/fevereiro/2022

Já não sei falar!

Por mais que pense em enfeitar a noite

Por mais que queira tocar o nada

Descubro sempre um geométrico vazio

De uma vaga lágrima a fingir de flor.

 

E sinto na pele uma confusão de chamas

E sinto na vertigem um letal equilíbrio

As pedras são feitas de absurda seda

O meu corpo é uma frase...uma ideia...um sonho

Um irreal encontro com um irreal suspiro.

 

Com garras de sol agarrei o dia

Mecânicos desejos a vogar no espaço

Majestoso enigma de fulminante verdade

Já não há crepúsculo

Já não há relógio

Onde possa pendurar o estampido

Da realidade.

 

Ao longe passa uma densa barca

As luzes acendem-se...os meus olhos calam-se

Escuto o respirar do mar

Escuto a sua indistinta fala

E eu já não falo

Porque eu...

Já não sei falar!