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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

E nada acontece

São quatro da tarde...

E nada acontece no lugar onde os crisântemos abriram

Talvez lá mais para a noite

As horas despertem sobre as folhas murchas

E o amor inicie o jogo dos abraços e das utopias

Março embacia os vidros

Os olhos já sentem o local onde corre o mel

Amplos frios desconhecidos assombram a terra

Há muito que a natureza nos fala de esperança

Tanto nos faz agora que o paraíso nos confunda com deuses

E que a brisa sopre sobre o envidraçado dos olhares

Voltamos o rosto para o sol

Sabemos ser gente que se renova com o calor

Não há limites para o cantar dos pintassilgos

Nem para a eternidade fria do silêncio

Sob as fachadas os ombros descaem

Como jogos perdidos de saudade

E as velas enfunam

Como arcos de papel colorido debaixo do céu azul-frio

Na luz desenham-se leis que fazem curvar o corpo

Intactas como lanternas ulcerosas

Esqueçamos o jogo e a boca que sucumbe ao direito de falar

A boca que consente que o estio a cale

Como se fosse a fonte seca das palavras

Sejamos o pródigo alimento da estrada

Os pés descalços da esperança

A folha de palmeira que envolve o corpo em ardores de festa

Sejamos o reflexo das coisas sem reflexo

A distância que se percorre num país sem distâncias

O alimento das coisas que se dissolvem numa maresia dissonante

Mas esta enorme falta de sentir

Que não encontra resposta

Nos limites ensolarados dos dias

É apenas o papagaio de papel

Que procura a grande lonjura das águas

Que se renovam a cada trinado de granito.

Histórias que o rio conta

Quantos passos se lembram desses caminhos que vão dar ao cais?

Quantos vozes ficam imobilizadas no matagal da vida?

Quantos vidrinhos cintilam nos recantos dos segredos?

Os olhares de hoje são bocejos...iguais aos de ontem

E  as histórias que o rio conta

São milenárias peles de homens sem voz

Por isso...na manhã sussurrada pela aragem

Acordam os heróis de todos os dias

Como uma longa memória que cresce para o mar

Afogam-se em instantes de agonia

Como fingimentos de epopeias sem oceano

Ou como recantos onde as verdades são eternas

Porque todos os dias a vida lhes dá a caneta

Para escrever os poemas que ficam esquecidos

No colorido esquecimento de serem homens...