Esqueci-me da cidade
Sou um vagabundo dos instantes
Corro dentro de um relógio
Esqueci-me da cidade
E afastei-me como um barco carregado de histórias
Não há medo nesse matagal de memórias
Nessas meteóricas madrugadas de ausência
Circulo rente aos poços
Conto lendas ao sono das paredes
Paro para bocejar
De um momento para o outro
O ar cai sobre mim...vibram raros segredos
Sei que uma nova epopeia vem aí
Todos os dias a lucidez me persegue..
Sou o circuito errado da noite
O olhar vítreo das palavras
O espelho de noites de angústia
O sono fantasmagórico das luas
De que cor são as ruas que escorrem dos subterrâneos?
Como são os mundos que dormem no fundo da noite?
Luminosas pálpebras convidam-me a escutar as vergônteas
Sonham com estrelas
Esquecem receios
Sabem que o céu está pejado de nódoas
E que os sorrisos corroem a pele
As medusas parecem fantasmas
Flutuando sob a cegueira das ondas
Sempre..sempre...
Com o desumano fundo do mar a puxar-nos para dentro de nós
Como um ardor que murcha os dias
Ou como uma visão que atordoa os sentidos
Somos a reminiscência da terra
A mortalha dos deuses
E também somos a casa desarrumada de Cronos.