Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Cores da manhã

Cores da manhã

Cores de abril ou maio...cores sem rumo cravadas nos olhos

Cores sem sentido

Atravessadas por quilhas de navios fantasmas

Impregnadas de veias paradas no tempo

Cores que surgem nas folhas secas

Horas caídas dos relógios.

Dormentes como flores de cristal

Reconheço o sentido das coisas..nas pétalas esmagadas

Nas asas estilhaçadas dos pássaros

Nos jardins...na poeira...nos meus restos

Nos livros arrumados em estantes feitas de memórias

Em cada estação há um sobressalto

Uma sombra que cheira a sonho...um tilintar de luas

Quando a manhã se aproxima

Acordam-se as mesas...as sebes..os corpos esquecidos

Quando a manhã se aproxima

Abrem-se portas...correm-se ferrolhos...a noite partiu-se

Relâmpagos eclodem nas árvores mais despidas

Melancolias trepam pela pele

Dobram-se as pálpebras

Comem-se desertos...sempre...sempre...

Como aves que cantam no cimo das colinas

Os ramos das árvores falam das sílabas do tempo

E nós..dizemos poemas nas tardes de jasmim.

Como se fôssemos perseguidos pela sombra do tempo

E bebêssemos sobressaltos

Por chávenas manchadas de sonhos..

 

A tinta das palavras

Falo da impossibilidade de ser homem

E arma...e pétala

Falo da transformação das quilhas

E da cal que sustém os símbolos

Falo do iodo e da memória

Do remo transido de medo

Da mão feita de cravo e canela

Falo das tempestades e dos relâmpagos

Das queimaduras... e das guitarras

E se as palavras não chegarem

Se as areias se mancharem de corpos

É porque a terra é um astro agarrado a fios de sangue

Colado a sussurros de fotografias

A gavetas onde as lágrimas se escondem dos olhares

A tabernas onde vinho impregna os ares

O sílex marca o lugar onde mastigamos carvão e cinzas

Vestindo veludos ardentes

Nas cavernas nasce o anoitecer

A aspereza da rocha contém o nosso nome

É esse o nosso destino...comer carvão...beber cinza

E guardar dentro de nós o fogo que as nossas mãos constroem

Porque os vidros movem-se por dentro das primaveras

E a verdade dos rostos

É a flecha que emana da tinta das palavras..