Cores da manhã
Cores da manhã
Cores de abril ou maio...cores sem rumo cravadas nos olhos
Cores sem sentido
Atravessadas por quilhas de navios fantasmas
Impregnadas de veias paradas no tempo
Cores que surgem nas folhas secas
Horas caídas dos relógios.
Dormentes como flores de cristal
Reconheço o sentido das coisas..nas pétalas esmagadas
Nas asas estilhaçadas dos pássaros
Nos jardins...na poeira...nos meus restos
Nos livros arrumados em estantes feitas de memórias
Em cada estação há um sobressalto
Uma sombra que cheira a sonho...um tilintar de luas
Quando a manhã se aproxima
Acordam-se as mesas...as sebes..os corpos esquecidos
Quando a manhã se aproxima
Abrem-se portas...correm-se ferrolhos...a noite partiu-se
Relâmpagos eclodem nas árvores mais despidas
Melancolias trepam pela pele
Dobram-se as pálpebras
Comem-se desertos...sempre...sempre...
Como aves que cantam no cimo das colinas
Os ramos das árvores falam das sílabas do tempo
E nós..dizemos poemas nas tardes de jasmim.
Como se fôssemos perseguidos pela sombra do tempo
E bebêssemos sobressaltos
Por chávenas manchadas de sonhos..