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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Escuto o som das minhas mãos a envelhecer

Intrínseca hora desgrenhada por lábios de lírio

Pássaro vasto que voa na débil pena da verdura

Quando a noite se veste de anémona

Toco com dedos de alga na ferida da flor

Enquanto o frio beija as cortinas do tempo

Escuto o som das minhas mãos a envelhecer

E agarro o silêncio das palmeiras

Guardo-o num sopro de planta postiça

Para quando o gelo passar por mim

E as aves se abrirem em breves clareiras

Possa tocar na penugem das nuvens povoadas por brumas

E escutar a diluição dos pensamentos

Rugindo nos alicerces da caruma

Embalo a pérola assente num coração delirante

Ostra aberta ao tempo das demoras

Como mão que afaga o leite das horas

Como mão que agarra arpões incendiados na paisagem da púbis

E no fundo dos bosques

Os símbolos constipados das almas românticas

Falam de tímidas mandíbulas que devoram rústicos amores

Falam de doçuras embaladas na brancura dos lençóis

Arquejantes sonhos...exangues corpos...

Que fazer quando o coração é uma criança a devorar incêndios?

E a alma é um incógnito deslizar de pedras

Na corrente inflamada das feridas

Que fazer quando a noite cai inteira

Sobre o timbre devastado das melodias?

E os oásis são arcaicas glândulas de palavras

Que avançam pelo corpo dos desertos

Embalando infinitos..secando ao sol

Como peixes esvaziados de ternura

Olhos secos...braços fechados

Requebros de anjos assombrados

E os sonhos de ontem...e os fragmentos de hoje

E o vértice assombrado do escuro

Tudo renasce a cada segundo...

Como opíparo sal que dorme no ventre da alma.

 

 

Os homens-deuses

De um céu antigo desce a nostalgia dos olhos

Desponto na espessura cálida do nordeste

E vejo homens-estalactites

Pendurados nas abóbadas lascivas das palavras

E vejo homens assombrados pela beleza escura dos desertos

Homens-sonho...homens-digitais

Homens que procuram berços no canto dos pássaros perdidos

As luzes assombram o delírio das mansardas

Homens-espectro dançam nos recantos dos beirais

Com olhos líquidos derramando-se pelos glaciares das ruas

E há uma tosse a aliciar as tardes

Há gotas de água a escorrer pelas costas das árvores

E um homem-teia ondula no silêncio inócuo dos corredores

Como tonitruantes castas de assombro

Como húmidos voos de águias

Como despovoados alicerces sem eira nem beira

Assim andam...descalços...pelas paredes das casas

A colher amanhãs...os homens-deuses...