Alfabeto inacabado do sentir.
Febril hora
Que bebes os dias no princípio dos regatos
Parco amor que separas o rosto da noite
E num resquício de fogo bebes a solidão
Por agora apenas disponho da cegueira das horas
E no fundo das gotas da chuva
Refaço a minha própria aventura
Procurando conhecer o mistério da dispersão das imagens
Procura a revelação do rosto
E do nome que encanta o entardecer
Procurei a porta
No calor que o vento entorna pelo caiado das paredes
Reparo que a sombra é cega
E que o medo é um jardim
Regresso a mim
Desconheço as coisas que vivem nas areias
Desconheço se no centro da terra também se vive de solidão
E procuro regressar
Ao tempo intransponível dos teus braços
Diluir-me num barco feito de maresia
Encontrar outro tempo e outra espada
Rir..como se a vida fosse curta
E tivesse outro tempo de partida
Outra rota açucarada
Volto os olhos para o deserto
Bebo-lhe o tempo que vive dentro das sílabas
Aceito partir contigo nessa galé feita de mares
Nesse sonho feito de mágoas
Somos cem...somos mil
Somos números que vivem
No núcleo ensimesmado das estrelas
Apesar de tudo
Nada existe
Se não passarmos o obstáculo intransponível das ruas
Se não andarmos a pé pelas avenidas
Se não nadarmos nus nos gelos do norte
Se não formos o alfabeto inacabado do sentir.