Regressos imposssíveis
Era o tempo das constelações
O tempo aberto ao mar e à ferocidade do mundo
Era um tempo sem respostas
Um tempo onde brilhava a morte e a vida
Ao longe
Alguém se despedia da fala das cidades
Alguém dizia que o sol
Andava descalço pelo caminho dos homens
E que pernoitava nas persianas
Polvilhadas de sedutores olhares
Avançar contra o tempo
Era a ordem salgada do relógio
Dormir sob o néon
Era o desprezo da lama embriagada das ruas
Pacientemente construímos esse despedir de searas
Esse caminho íntimo
Que brilha na auréola maravilhosa das açucenas
Mas eis que alguém se despe da lenha seca que o consome
Eis que alguém arde nesse avançar de vida
Quem sabe se um dia a sombra da tarde
Se ergue nua e bela
Quem sabe se as cores despertarão do marasmo dos pincéis
Para colorirem a orla dos bosques
Com tintas de ouro fino
Onde o acaso descansará
Nos braços húmidos dos anéis de fogo
Eis a dispersão dos sacrifícios
Eis aquilo que não sei e quero dizer
Eis a dor e o perfume sonoro das trovoadas
Passou o tempo das perguntas
Agora é tempo de amar a doce nostalgia dos portos
Agora é a altura certa para olhar de frente o clarão do infinito
Porque depois...
As pálpebras apagam-se
E os regressos são impossíveis.