Dissipo-me..
Poeta e homem na volatilidade dos dias
Erguendo a bandeira das palavras
Sob a forma de cadernos atirados ao vento
Sigo a noite.. e os anos..e as mortes
Aproximando-me da última página
Da página desarrumada...esconsa..
Aquela onde se cruzam pensamentos e olhares
Em mim cristalizam-se manhãs
Listas intermináveis de santos e loucos
Rabiscos... memórias...locais mágicos...
E a traição de mais uma página...em branco
Sento-me no passeio de uma qualquer rua anónima..como eu...
Como o riso que estendo a quem me olha
Viver não é só um hábito
É um porto...um ancoradouro
Viver é procurar no fundo das palavras...a página
A tal página onde o segredo se desvenda
E a praia se desdobra em rostos
Há bagos de uvas caídos pelo chão
Ilustram os nomes das nódoas que nos cobrem
Vinho...poema
E a subjectividade de ser alguém sentado na rua
Seguir o olhar de alguém
Simplesmente cruzar a ponte de cristal
Rir dos silêncios solitários...mãos solitárias
E não saber onde colocar os dedos
Em todos os momentos há traições
E alegrias e chuvas encarniçadas
Em todos os cadernos
Há nódoas de nevoeiros..demoras..aproximações
Se queres fazer alguma coisa
Vai correr o mundo...ilustra a tua página
Calcorreia a imaginação
Acontecem romances em todos os quadrantes
Em todos os rostos que não queremos esquecer
Em todos os pavios de velas...latentes
É preciso despertar o outono...morrer de fartura
Corroer a absorção das águas
E rabiscar...lentamente... os silêncios...