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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

É tempo de te salvares do tempo

Vem e deixa que a tua sombra

Seja a festa que passa rasando os meus olhos

Vem como se fosses o imortal momento do amanhecer

O momento que apaga a saudade e se concentra em nós

Como se um tempo indivisível se tratasse

Diz-me um adeus...agita-me

Acorda-me do misterioso sono dos condenados

Sabes que se olhares profundamente

Verás o tempo acre a sugar os poros das águas

Mas é sempre a tua voz que oiço

Ignorando todos os silêncios

São sempre os teus passos que me tocam as mãos

É sempre esse deslizar

De caravela enegrecida pelo mistério das despedidas

Conseguirá o instante aprisionar as tuas mãos desertas?

Conseguirão os espelhos mostrar todas as nostalgias?

Envelhecemos..perdemos a festa

Somos o pescador de mistérios

Por quanto tempo daremos por nós

A percorrer a imortal beleza dos dias?

Debaixo da saudade dos xistos há um afagar de sedas

Há um pulsar de rugas nacaradas

Um estremecer de sombras feitas de deuses

Não te enganes

É sempre o instante que comanda a eternidade

E nós somos apenas o voo da paciência

A cidade em festa..o imolar das fomes

Nas areias nascem olhos

São o lado fresco das feridas

Estica o arco..atira a flecha

É tempo de te salvares do tempo.

 

Sou apenas ar...

Escavo as formas da cidade

Longe de mim pensar que na sedução da chuva há um festim

Na penumbra dou nomes às coisas que me habituei a olhar

Ano após ano abro a terra

Crio mundos onde nada obscurece a visão

Divido a noite em pequenos passos

Habituei-me ao fogo dos corpos

E passo pela treva

Como quem quer pertencer apenas a outro tempo

Ou a outro espaço

Por vezes incendeio as ruas

Faço delas argila

Levo-as ao lume brando do fascínio

Germina então nas calçadas

Um sono de estrelas

Um pomar de corações em delírio

Longe de mim tremeluzem os nomes das coisas que invento

Ninguém sabe que ali estou

Sou o lusco-fusco do lume que afaga as paredes

A sombra subalimentada do vazio

Ludibrio os dias com a insónia

De quem não sabe o nome de quem passa

Reconheço nas cores calcárias

Os corações angustiados e a docilidade das trevas

Sei de onde sopram os ventos

Abrigo em mim todos os que querem sonhar

Abrigo em mim todos os vazios da cidade

E as cicatrizes das línguas

Anoiteço e a penumbra senta-se comigo

Nos degraus ensonados da noite

De súbito esqueço-me de tudo

Elevo-me até aos confins dos desolados

Relembro os cantares das cigarras

Passos ecoam na minha pele

Sou apenas ar...