Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Uma praça feita de homens sós

Com a sua manta feita de brisa

Passa os dias suspenso no sono das imagens

Sonha com o movimento leve dos corpos

Olhos de avelã...clandestino alicerce de si mesmo

A sua sombra distendida

Reflete-se nas tábuas que lhe servem de soalho

No ar... o sal inebria os caminhos

E o sol recorda-se das velhas figueiras.

Na distância que fica rente ao cativeiro do horizonte

As ruas apagam-se no mar

Pega neste segredo e segue pelo desconhecido

No fim descerá ao olhar branco dos seus passos

Sai do seu corpo

Sabe onde os carvalhos tecem lendas

E onde as flores se espalham pela ironia dos jardins

Sabe que há um lugar no mundo

Uma praça feita de homens sós

Um lugar esquivo

Entrançado nas imagens cruéis da guerra

Não sabe bem o que procura

Talvez um casario branco

Talvez uma margem ou uma ave

Passa rente a todas as catástrofes

Dispersa-se pelo rosto das crianças

Percorre todas as memórias

Acaba dentro de um milagre...é a noite

Ou o tardar evasivo das almas

Conhece os cardos

Refugia-se na agitação das ruas

Desconhece a idade dos templos

Mas move-se...como uma memória

Ou como um fugitivo que desembarca em Lesbos...

 

Que se quebrem os dias

Que se quebrem os dias

E os perfumes dos corpos evadam as ruas

Que as vozes digam alma em vez de solidão

Que nos rostos vejamos os traços da poesia

E quando chegar a nossa vez

Digamos que dividimos a desolação pelas frinchas do sol

O dia volta

Suspende-se clandestino pelo langor dos jardins

Do sono despertam agora os gritos da manhã

E no bulício dos corredores

As fotografias lembram-se dos tempos da pobreza

Há nas cidades um frio entranhado nos rostos

Há uma imagem de crueldade em cada mão estendida

Enquanto as estrelinhas saltitam no céu invisível

Todas as noite haverá um suicídio de imagens disformes

No fumo dispersado pela aragem veremos cidades

E nos alicerces das vozes veremos a miséria dos malditos

Veremos o voo da morte a ensombrar as paredes

Veremos as mãos desarmadas

A limparem a ansiedade nos claustros das igrejas

Bailemos...bailemos dentro do nosso cativeiro

Que todos os que bebem água pelas mãos

Um dia serão sono e doutrina

Caminhemos..e que os nossos calcanhares pisem as guerras

Que o inverno beba em nós a agonia do frio

Sejamos distantes e desconhecidos poetas

E que os nossos passos se despenhem no mar

Enquanto o nosso corpo vagueia pela nossa maldição

Dividamos as estrelas..uma para cada um

Sejamos nómadas e esqueçamos os códigos dúbios da alma

É preciso estar de pé

Reconhecer a bruma original da vida

E agarrar uma constelação granítica...